“Todo homem e toda mulher têm um nome”, escreveu a poetisa israelense Zelda Schneurson Mishkovsky, incomodada com o modo comum de se referir às vítimas do Holocausto como sendo “os seis milhões”, tratando-as como se fossem números.
O nome dele era Moïse Mugenyi Kabagambe. Foi assassinado na Praia da Barra, bairro com grande concentração de renda do Rio de Janeiro.
Moïse tinha 23 anos, veio ao Brasil há dez. Ele fugia dos massacres que o colonialismo produziu no seu país de origem, o Congo.
Moïse sofreu a violência que homens e mulheres com o mesmo tom de pele que ele sofrem cotidianamente na cidade onde se refugiou, o Rio de Janeiro.
Moïse esperava encontrar no Rio outro destino que não ser espancado até a morte, mas terrivelmente encontrou o que outros irmãos e irmãs encontraram nos 400 anos de escravidão, e continuam encontrando até hoje nas quebradas, nas periferias e nas favelas do Brasil.
Todo homem tem um nome. Vivo ou morto. O nome dele era Moïse. O nome do crime que o matou é racismo.
De nada adianta apenas lamentar. No IBI, costumamos dizer que honrar a memória das vítimas é lutar contra todo tipo de injustiça social. Esse é o legado do Holocausto, um dos vetores de inspiração de nosso trabalho.
Na semana passada, foi celebrado o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Atuamos em múltiplas frentes, sempre buscando vincular a luta contra o antissemitismo a outras lutas urgentes, tais como a luta contra o racismo, a luta contra a homofobia e a luta contra o negacionismo da ciência.
Fazemos isso por meio de parcerias entre a comunidade judaica e demais grupos que compõem a sociedade brasileira, seja o movimento negro ou LGBTQIA+.
A solidariedade deve ser mais do que um discurso. Precisa ser exercida na prática.
Por Moïse e por todas as vítimas diárias que o racismo produz no Brasil, serão realizados atos de denúncia neste sábado, 05/02. No Rio de Janeiro, o ato será às 10 horas, na Barra da Tijuca. Em São Paulo, também às 10 horas, no vão livre do MASP.
Estaremos juntos.
CONFIRA OS DESTAQUES DA SEMANA!
Apartheid? Na última terça-feira, a Anistia Internacional divulgou um relatório em que acusa Israel de práticas de apartheid contra palestinos. O IBI respondeu. A nota de posicionamento foi mencionada em reportagem no jornal O Globo, e o diretor do instituto, Daniel Douek, deu uma entrevista à Folha de S. Paulo sobre o assunto.
Enfrentando o racismo e o neonazismo: Domingo passado o Fantástico apresentou reportagem mostrando que o autor de insultos contra Douglas Silva e outros participantes do BBB faz parte de um grupo neonazista. Ricardo Brajterman, integrante do Conselho Consultivo do IBI e advogado do ator, se posicionou: “Uma interrogação que vem à cabeça é a seguinte: por que, nos últimos anos, o Brasil criou um ambiente fértil e favorável para que esses neonazistas saiam de dentro da toca?”. Veja.
Justa entre as nações: Recentemente, a TV Globo levou ao ar uma minissérie inspirada na trajetória de Aracy de Carvalho, chefe do setor de passaportes do consulado brasileiro em Hamburgo na década de 30, que protagonizou um papel importante na fuga para o Brasil de vários judeus perseguidos pelo nazismo e recebeu o título de “Justa entre as Nações” concedido pelo Yad Vashem (Museu do Holocausto). As circunstâncias da época e a reconstituição da memória, foram o tema de entrevista com a historiadora Mônica Raisa Schpun, autora da obra “Justa. Aracy de Carvalho e o resgate de judeus: trocando a Alemanha nazista pelo Brasil”, que está na origem da minissérie. Leia.
Entre a Rússia e a Ucrânia: A tensão na fronteira entre Rússia e Ucrânia é motivo de preocupação também em Israel. Primeiro, porque Israel não quer e nem deve melindrar nenhum dos dois lados envolvidos no conflito. E segundo, porque qualquer palavra errada pode colocar a comunidade judaica ucraniana em perigo – hoje, há entre 50 e 75 mil cidadãos judeus ucranianos. Entenda o xadrez diplomático em torno dessa ameaça de conflito no texto de Daniela Kresch. Leia.
Wordle em hebraico: No Expresso Israel, as jornalistas Isabella Marzolla e Daniela Kresch conversaram sobre o aumento no preço de produtos básicos nas prateleiras dos mercados israelenses e como manifestações populares, sejam online ou nas ruas, pressionam as empresas pela sua redução. As jornalistas também falaram sobre o lançamento, em hebraico, do jogo “Termo” (Wordle). Assista.
Branquitude, negritude e judeidade: Usando como ponto de partida o polêmico artigo publicado pelo antropólogo Antônio Risério na Folha de S. Paulo, as apresentadoras Amanda Hatzyrah e Ana Clara Buchmann conversaram com a professora Rosiane Rodrigues, doutora em antropologia pela UFF e integrante do Conselho Consultivo do IBI, e Daniel Douek, cientista social e diretor do IBI, sobre “racismo reverso” e antissemitismo. Ouça.
A falácia do judeu branco: O assessor acadêmico do IBI, Michel Gherman, escreveu artigo no portal Poder360 contrapondo texto controverso do antropólogo e escritor Antonio Risério, publicado na Folha de S.Paulo. Leia.