No início ficávamos chocados e indignados. Na verdade, desde a campanha eleitoral, percebíamos referências ao nazismo, a Hitler e ao Holocausto nas bocas de futuros membros do governo brasileiro e principalmente ditas pelo próprio Jair Bolsonaro, então deputado federal.
De fato, parece que uma das primeiras referências de Jair Bolsonaro em relação à sua admiração a Hitler e ao nazismo data de uma entrevista no programa CQC. Nessa entrevista, ele disse admirar Hitler “como general” e avalia que teria entrado no exército alemão para lutar contra os inimigos.
Mas a parte mais importante da entrevista e, por isso, vale que ela seja citada apesar de ser antiga, é quando ele cita teses negacionistas, inferindo que os judeus haviam morrido em campos de concentração decorrentes de doenças e fome.
Depois disso, a coisa foi piorando. As referências de Bolsonaro ao nazismo foram se tornando mais claras.
Em 2017, na fatídica palestra do clube A Hebraica do Rio de Janeiro, o então deputado federal, já candidato à presidência chega a dizer que negros quilombolas eram pesados em arrobas. Um ano mais tarde, na campanha presidencial, Bolsonaro afirma, em um discurso no Rio de Janeiro, que as minorias deveriam “se adaptar ou desaparecer”.
Depois da vitória nas eleições, a coisa só se tornou mais constante e clara.
Já na primeira visita oficial a Israel, o presidente Bolsonaro volta a afirmar, ao lado do chanceler Ernesto Araújo e em frente ao Museu do Holocausto de Jerusalém que o movimento nazista teria sido de esquerda.
A afirmação causou indignação por contradizer as pesquisas do museu e por se alinhar às teses negacionistas.
Logo depois, já no Brasil, Bolsonaro, em uma fala surpreendentemente conciliatória, diz que o nazismo deveria ser “perdoado e não esquecido”. O que indignou democratas e membros da comunidade judaica.
Mas a coisa não parou por aí. Já em 2019, o público se surpreendeu com uma cena bizarra em que Roberto Alvim, recém empossado como Secretário de Cultura, incorpora o ministro da propaganda nazista Goebbels e reproduz o discurso do líder nazista adaptado-o a temas brasileiros.
Ultimamente, em tempos de pandemia, o governo Bolsonaro tem mantido referências ao nazismo e ao Holocausto.
Na semana passada, o chanceler Ernesto Araújo chegou a comparar a política de isolamento social, que serve para conter as mortes pela Covid-19, aos campos de concentração.
Como se não bastasse tudo isso, hoje a Secretaria de Comunicação do governo Bolsonaro produz uma peça publicitaria que usa como referência a frase vista na entrada de Aushwitz, campo de extermínio nazista, de que o “trabalho liberta”.
São tantas as referências que resta pouca dúvidas de que setores do governo Bolsonaro usam como referência a gramática nazista em seu ideário.
O risco é, dada a quantidade das falas, que normalizemos isso e que deixemos de nos indignar. O que não pode ser uma opção na luta contra o nazismo. Seja o nazismo do passado ou suas versões contemporâneas.
Instituto Brasil-Israel