Os conflitos mundiais não mais se organizam por oposições tão claras como aquelas dos tempos da Guerra Fria (comunismo versus capitalismo; ocidente versus oriente, etc.), ou como aquelas que opunham cristãos e muçulmanos, Europa e mundo árabe. Em certa medida, vivemos no chamado “mundo plural”, em que a ideia da diversidade tornou-se a tônica dos novos tempos. Sadiq Kahn, prefeito muçulmano em Londres; Ahmad Tibi, político muçulmano em Israel; Harjit Singh Sajjan, ministro sikh da defesa do Canadá, são alguns exemplos da complexidade dos dias de hoje.
Por não ser mais suficiente pensar os conflitos globais como disputas entre blocos mundiais, devemos atentar para o fato de que a convivência na diversidade atualizou os conflitos para dimensões regionais e locais, reabrindo lutas étnicas e sociais de maneira fragmentada e dispersa territorialmente.
O olhar atual reside, portanto, na compreensão de que a convivência na diversidade gera também disputas e enfrentamentos. Tais conflitos entre as várias culturas distanciam grupos e, ainda pior, geram manifestações de ódio, intolerância e opressão. A questão que se coloca, assim, não é a da diversidade em si, mas da tolerância ao diverso.
Terroristas, racistas, xenófobos e outras tantas qualificações possíveis para denominar grupos que existem de maneira autorreferente, recusando o outro e o diálogo, talvez possam ser resumidos em uma só palavra: fanatismo. Como já disse Amós Oz, “um fanático é um ponto de exclamação ambulante que não escuta, só fala”.
A prática do terrorismo, por exemplo, centrada sobre si mesma, rejeita a lógica do diálogo, do diferente e não vislumbra acordos; pelo contrário, objetiva a constância do conflito por meio do terror da iminência: um ato terrorista sempre pode acontecer, e em qualquer lugar.
Racistas e supremacistas, como viu-se no emblemático caso de Charlottesville, nos Estados Unidos, rejeitam o convívio com as minorias com as quais dividem território e também recusam o diverso.
Eles, os fanáticos, estão em todos os lugares e culturas, e não podem ser generalizados a grupos inteiros por aqueles que se interessam em combater o fanatismo. Essa luta, portanto, deve ser feita nos limites da democracia, evitando que se abra espaço para a defesa de regimes totalitários ou o comprometimento de minorias, como fazem e já fizeram aqueles que não costumam se utilizar do ponto de interrogação.
Em oposição à logica dos fanáticos, a tolerância é uma atitude que todos temos motivos para valorizar. Ser tolerante é também uma atitude complexa, mas ainda é um bom caminho para enfrentar as imperfeições do nosso “mundo plural”. Retomando Amós Oz, “Há quem fique repetindo dia e noite que ‘nossa força está em nossa união’. Sim, nossa força reside em estarmos unidos em nosso direito de sermos diferentes uns dos outros. A diferença não é um mal passageiro; ela é uma fonte do bem.”