Nesses tempos de manifestações racistas nos Estados Unidos e atentados islamistas na Europa, não podemos deixar de preocupar-nos com as relações entre Israel e os palestinos que, mesmo passando por um período de aparente calmaria, continuará se deteriorando até a próxima explosão.
As divisões dentro da cúpula palestina e o atual isolamento do Hamas garantem por ora o silêncio em Gaza, mas as recentes declarações dos mais graduados membros da direita israelense em relação à Cisjordânia têm provocado reações de setores mais moderados no país.
Um dos principais grupos que se opõem à anexação de amplas áreas da Cisjordânia lançou no ano passado uma campanha intitulada “Comandantes pela Segurança Israelense”, que inova na proposta de separação entre as populações israelense e palestina na maior parte da área “C”, totalmente controlada por Israel. Ao contrário das iniciativas mais radicais, que demandam uma retirada unilateral nos moldes do que foi feito em Gaza em 2005, ou uma anexação do território, o que agora se sugere é a ampliação das áreas em que as forças de segurança palestinas possam atuar, diminuindo o potencial de atrito entre a população palestina e as tropas israelenses.
O plano apresentado sugere também facilitar a mobilidade dos palestinos, afetada pelas vias exclusivas de acesso aos assentamentos espalhados pela região e que impossibilitam a conexão entre os vários núcleos populacionais denominados de área “A”, totalmente administrados pela Autoridade Palestina. Seriam solucionadas questões como o vínculo entre a área urbana de Tulkarem e o centro do bloco populacional palestino, e principalmente a travessia autônoma da rodovia que une Jerusalém a Maale Adumim, que se tornou a principal alegação palestina de impedimento da contiguidade territorial entre o norte e o sul da Cisjordânia. O controle total palestino das áreas que hoje separam quase duzentas “ilhas” administradas pela Autoridade Palestina diminuiria sensivelmente a tensão na região, sem colocar em risco adicional nem as tropas israelenses nem as populações dos assentamentos existentes.
Outra vertente representante da elite dos órgãos de segurança em Israel é crítica desta abordagem e, ainda que não negue a solução de dois estados, rejeita qualquer alteração do status quo enquanto entenderem que existe uma recusa por parte da liderança palestina (seja o Hamas ou a Autoridade Palestina) ao reconhecimento do direito de Israel à existência como o lar nacional do povo judeu.
Em uma recente entrevista ao Fathom, o ex-diretor geral do Ministério de Assuntos Estratégicos de Israel, Yossi Kupperwasser, reiterou a visão de segmentos mais conservadores da sociedade israelense, inclusive ex-membros das forças armadas e da inteligência, relacionadas à retomada das negociações de paz.
Segundo Kupperwasser, ainda que a única solução para o conflito seja a criação de um estado palestino independente, esta não será implementada enquanto os palestinos não aceitarem o direito do povo judeu à autodeterminação em seu Estado nacional, naquele que é o seu lar ancestral. Para este grupo, a administração do conflito é uma alternativa à solução do conflito e não haveria sentido em substituir o status quo por uma opção menos favorável. A substituição do presidente Obama por Trump nos Estados Unidos tenderia a fortalecer essa escolha, inclusive com a limitação à transferência de recursos à Autoridade Palestina, enquanto estes forem utilizados para recompensar os perpetradores de atos terroristas. Kupperwasser se diferencia do grupo “Comandantes pela Segurança Israelense” ao propor a manutenção da pressão sobre os palestinos, ao menos até que estes abandonem a narrativa do direito palestino a todo o território entre o Mediterrâneo e o Jordão, ou da transformação de Israel em um estado de todos os seus cidadãos, e não no lar nacional do povo judeu.
Curiosamente, nestes tempos de acirramento do terrorismo internacional, Israel tornou-se uma ilha de tranquilidade na região e não há grandes divergências entre as posições mais relevantes do espectro político israelense a respeito da solução de dois estados para dois povos. Os desacordos estão apenas na maneira de conduzir essa solução.
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