O Neoterrorismo Pós 7 de Outubro: Uma Nova Face do Terror na Era Digital

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Por Fábio Yitzhak Silva

Os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023 não apenas marcaram um dos episódios mais sangrentos do conflito israelense-palestino, mas também evidenciaram um fenômeno que vem se cristalizando nas últimas décadas: o neoterrorismo. Este conceito nasce da necessidade de compreender como o terrorismo contemporâneo transcende a violência física e incorpora uma sofisticada estratégia de legitimação moral que encontra respaldo justamente nos espaços tradicionalmente vinculados à defesa dos direitos humanos e do progressismo.

A inversão moral perpetrada pelo neoterrorismo manifesta-se de maneira particularmente insidiosa no ambiente universitário global. Na Universidade de Harvard, mais de 30 organizações estudantis assinaram uma carta responsabilizando exclusivamente Israel pelos ataques, em uma demonstração clara de como o discurso acadêmico pode ser instrumentalizado para legitimar a violência. Na Universidade de Columbia, os protestos e contra-protestos levaram à suspensão temporária de organizações estudantis, evidenciando como o ambiente acadêmico se tornou campo de batalha ideológica.

Se durante as décadas de 1960 e 1970 o terrorismo palestino encontrava eco principalmente em grupos marginais ou ideologicamente alinhados ao marxismo revolucionário, hoje observamos uma paradoxal aliança entre setores tradicionalmente associados à defesa dos direitos humanos e organizações que explicitamente advogam pela eliminação física de civis. É uma transformação significativa do modus operandi terrorista, que soube adaptar-se às nuances do debate contemporâneo.

O aparato financeiro do neoterrorismo revela sua sofisticação. Segundo relatórios do Financial Action Task Force (FATF), organizações terroristas desenvolveram métodos complexos de movimentação de recursos através do sistema financeiro global, incluindo o uso de criptomoedas e empresas de fachada. É uma evolução significativa desde os tempos em que o financiamento do terror dependia principalmente de estados párias ou doações diretas.

A capilaridade do neoterrorismo no meio acadêmico não é acidental. Apropria-se habilmente do aparato teórico pós-colonial e decolonial, ressignificando conceitos como “resistência” e “opressão” para justificar atrocidades. O sequestro e assassinato de civis são reconfigurados como “atos de libertação anticolonial”, em uma perversão do pensamento crítico que merece análise minuciosa.

O poder desta narrativa reside em sua capacidade de realizar uma inversão moral completa: o terrorista transmuta-se em mártir, o assassino em herói revolucionário, e a vítima em opressor. Esta inversão é particularmente eficaz porque se apropria do vocabulário progressista – justiça social, direitos humanos, autodeterminação – para defender ações que violam esses mesmos princípios. O massacre de civis é reconfigurado como “resistência legítima”, o antissemitismo mascara-se de “crítica ao sionismo”, e a defesa do genocídio apresenta-se como “luta por libertação”.

As redes sociais amplificam exponencialmente este fenômeno. Plataformas como X (Twitter) e TikTok tornaram-se campos de batalha ideológica onde a inversão moral se cristaliza e se autoperpetua. Hashtags como #ResistenciaLegitima e #DecolonizePalestine frequentemente acompanham conteúdos que celebram atos de terror, demonstrando como a linguagem progressista pode ser cooptada para normalizar a violência extrema.

Certamente, qualquer análise séria do conflito israelense-palestino não pode ignorar as ações problemáticas de Israel. A expansão de assentamentos em territórios disputados, casos documentados de uso desproporcional da força e políticas restritivas que afetam civis palestinos são questões que merecem críticas contundentes. No entanto, o neoterrorismo opera uma perigosa falsa equivalência: utiliza estas críticas legítimas para justificar e heroificar atos de terror indiscriminado contra civis.

A superação deste desafio requer um compromisso renovado com princípios morais fundamentais e uma rejeição categórica da violência contra civis, independentemente de sua origem ou justificativa ideológica. O neoterrorismo prospera justamente na zona cinzenta entre a crítica legítima e a apologia do terror, explorando a complexidade do conflito para promover uma inversão moral que normaliza o inaceitável.

É preciso manter a clareza moral necessária para criticar ações específicas sem cair na armadilha de legitimar o terrorismo ou questionar o direito fundamental do Estado judeu à existência. Apenas mantendo esta clareza moral, aliada a um entendimento profundo das estruturas que sustentam o neoterrorismo, poderemos construir um debate público que permita criticar ações específicas de qualquer parte sem comprometer os princípios básicos de humanidade e justiça.


Esse texto não reflete necessariamente a opinião do Instituto Brasil-Israel.

(Foto: Pexels/Tima Miroshnichenko)

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