Onde você estava na noite de 4 de novembro de 1995?

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Memórias pessoais da noite que mudou Israel
(Em Comemoração ao 29º Aniversário do Assassinato de Rabin)

Revital Poleg

Sim, já se passaram vinte e nove anos! Ainda é difícil de acreditar.
Vinte e nove anos, e as memórias daquela noite terrível ainda vivem nos corações de cada um de nós que estávamos lá ou que vivemos naquela época.

Onde você estava na noite de 4 de novembro de 1995?
Cada um de nós, em Israel, no mundo judeu e ao redor do globo, que viveu aquele momento já se fez essa pergunta. Cada um de nós guarda uma memória daquela noite. Cada um de nós se lembra. Ninguém vai esquecer.

Onde você estava na noite de 4 de novembro de 1995?
Cada um de nós tem uma história pessoal ligada a Rabin ou ao seu assassinato — onde e com quem estávamos quando foram disparados os três tiros. O que fazíamos, o que dissemos… Cada um de nós tem o “nosso Rabin”.

Eu também tenho minha pequena história…

Eram os dias do processo de Oslo e das negociações com os palestinos.


Na época, eu era diplomata no Ministério das Relações Exteriores de Israel, atuando como conselheira política do Diretor-Geral, Emb. Uri Savir, que exercia o papel de negociador-chefe, liderava a equipe de negociações israelense com os palestinos. Nesse contexto, eu também fazia parte da pequena equipe de Shimon Peres, então Ministro das Relações Exteriores, e coordenei diversos projetos internacionais dele, que faziam parte do processo de paz.

Nossas vidas profissionais giravam em torno do processo e dos líderes envolvidos: Itzhak Rabin e Shimon Peres. Acreditávamos profundamente no que estávamos fazendo — entendíamos que era uma oportunidade historica e crucial para transformar a realidade do conflito israelo-palestino.

As reuniões entre as equipes de Shimon Peres e Rabin faziam parte de nossa rotina diária. Aprendi a reconhecer, valorizar e apreciar a pessoa por trás do título.

A atmosfera pública em Israel naquela época era tumultuada e difícil. A sociedade israelense estava profundamente dividida sobre o processo de Oslo. Alguns eram a favor, outros contra. Atentados terroristas tornaram-se uma parte terrível e constante da nosa vida cotidiana… Mas Rabin, que acreditava na paz e na sua necessidade, perseverava…

Em 28 de setembro de 1995, os Acordos de Oslo II foram assinados em Washington. O debate na Knesset ocorreu alguns dias depois, e o acordo foi aprovado. As tensões sociais cresceram ainda mais. O país parecia um vulcão prestes a entrar em erupção.

Em meio a tudo isso, em um clima tão controverso, Rabin e Peres decidiram que era necessário agradecer a cada uma das pessoas que contribuíram para o acordo — aproximadamente 200 pessoas, todas dedicaram dias e noites para torná-lo realidade: diplomatas, assessores jurídicos, oficiais e soldados, especialistas de várias áreas, assistentes, secretários, motoristas, técnicos e outros.

Todos eles, junto com suas famílias, foram convidados para um evento festivo em Jerusalém para receber um “Toda Raba” (hebraico para “muito obrigado”) diretamente do Primeiro-Ministro e do Ministro das Relações Exteriores. 


O evento estava marcado para o dia 6 de novembro de 1995. Eu era a anfitriã designada para o evento! Estava profundamente emocionada e preparei minhas palavras com grande cuidado e humildade…

Escrevi e reescrevi meu discurso e a ordem do evento…
“כבוד ראש הממשלה, כבוד שר החוץ…”
“Honrado Primeiro-Ministro, Honrado Ministro das Relações Exteriores…”
Ensaiava repetidamente:
“כבוד ראש הממשלה, כבוד שר החוץ…”
“Honrado Primeiro-Ministro, Honrado Ministro das Relações Exteriores…”

Acreditava que a noite de 6 de novembro seria de grande emoção! Não havia dúvidas. Ninguém poderia imaginar o horror que nos aguardava.


A manifestação a favor da paz na Praça Malchei Israel, no centro de Tel Aviv (mais tarde renomeada como ‘Praça Rabin’), com a participação de Rabin e Peres, estava marcada para a noite de sábado, 4 de novembro.

Por compromissos familiares, eu planejava chegar à praça mais tarde, durante o evento. Mas nunca cheguei.


A notícia já estava sendo transmitida no rádio enquanto eu estava a caminho. “Este é um comunicado especial”, disse o locutor. “Tiros foram disparados na Praça Malchei Israel há pouco. Até agora, sabe-se que o Primeiro-Ministro foi ferido e levado para o Hospital Ichilov em Tel Aviv.


“Isso não pode ser! Não pode ser!” eu repetia para mim mesma, incapaz de acreditar nas palavras que acabara de ouvir. Simplesmente não faziam sentido na minha cabeça.

Sem hesitar, virei o volante em direção ao Ministério das Relações Exteriores. Fui imediatamente para a Sala de Situação, onde o caos já havia começado.


E então veio o anúncio oficial: “O governo de Israel anuncia consternado, com grande tristeza e profundo pesar, a morte do primeiro-ministro e ministro da defesa Yitzhak Rabin, que foi assassinado esta noite em Tel Aviv. Que sua memória seja abençoada.”

O grito espontâneo que ecoou na Sala de Situação foi indescritível… e inesquecível.


Os telefones tocavam de todas as partes do mundo, pessoas choravam, abaladas pela dor, correndo, atônitas com o que estava acontecendo… Um judeu matou o Primeiro-Ministro? Não pode ser verdade!

A necessidade de organizar o funeral surgiu imediatamente. A responsabilidade oficial pelo funeral de Estado é da Knesset, em cooperação com todos os órgãos relevantes, enquanto nós, do Ministério das Relações Exteriores, já começávamos a receber notificações sobre a chegada de chefes de Estado e autoridades de todo o mundo. Uma pequena equipe foi escolhida para nos representar nos preparativos, e eu fazia parte dela.


Os preparativos continuaram sem parar daquela noite de sábado até o funeral na tarde de segunda-feira, 6 de novembro.

Não compareci ao funeral. Estava exausta, emocional e mentalmente. Sentei-me no meu escritório, no gabinete do Diretor-Geral do Ministério, e acompanhei tudo pela tela da televisão.

No fundo, senti que nada permaneceria o mesmo, que tudo havia mudado… Que estávamos à beira de uma nova e desconhecida realidade, onde as esperanças por um futuro de paz, pelas quais trabalhamos tanto, tornaram-se subitamente incertas.

Quando o funeral terminou, comecei a reunir minhas coisas para ir para casa—quase 48 horas depois de chegar ao Ministério.

Meus olhos pousaram nos papéis sobre minha mesa, preparados para o evento que deveria ocorrer naquela noite…: “Honrado Primeiro-Ministro, Honrado Ministro das Relações Exteriores…” Fiquei paralisada, e as lágrimas começaram a cair espontaneamente, sem parar.


Adeus, meu caro líder; adeus, meu Primeiro-Ministro.

Esse texto não reflete necessariamente a opinião do Instituto Brasil-Israel.

(Foto: Wikimedia/Israel Press and Photo Agency (I.P.P.A.)

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