Os israelenses do Norte não importam

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Daniela Kresch

TEL AVIV – Enquanto o mundo “fica de olho” em Rafah, ninguém se interessa pela Galileia. Ninguém está de olho em Metulla e Kyriat Shmoná. No moshav Avivim, no moshav Margaliot, no kibutz Sassa. Ninguém está “de olho” em Naharía ou no Norte das Colinas do Golan. Deveriam estar. Ou será que não importa? Desde 7 de outubro de 2023, o grupo terrorista libanês Hezbollah, uma marionete do Irã na fronteira Norte de Israel, atira contra cidades e vilarejos israelenses sem parar. 

Até agora, foram mais de 5 mil foguetes, mísseis e drones suicidas. Algo em torno de 18 projéteis por dia explodindo no Norte de Israel, jogados pelo Hezbollah a mando do Irã. A instrução é atacar muito Israel, incessantemente, por dois motivos: 1) para demonstrar solidariedade ao Hamas em Gaza; 2) para dividir as forças israelenses, que têm agora que lutar em duas frentes de batalha. 

O Centro de Pesquisa e Educação Alma concluiu que maio de 2024 foi o mês com a maior intensidade de ataques do Hezbollah contra Israel desde outubro de 2023. Os números com foguetes e drones suicidas têm aumentado mês a mês em 2024:

Janeiro – 360

Fevereiro – 551                                                       

Março – 769

Abril – 783

Maio – 1090

Segundo o relatório do Centro Alma, 46% dos ataques do Hezbollah foram contra infraestruturas civis e áreas civis de Israel. Não contra bases militares. O âmbito geográfico dos ataques também aumentou. Se antes era praticamente só contra o chamado “Dedo da Galileia”, uma faixa de terra ao Norte do Mar da Galileia, agora inclui Naharía, às margens do Mar Mediterrâneo, e Katzrin, nas Colinas do Golan. Quer dizer: ao longo de toda a fronteira com o Líbano.

O resultado é que mais de 80 mil israelenses foram evacuados das cidades na fronteira. São refugiados em seu próprio país. Até agora, 27 pessoas morreram alvejadas por bombas (17 soldados e 10 civis). Só não morreu mais porque quem sobrou por lá vive em bunkers, sem ver a luz do sol. Estábulos e galinheiros pegaram fogo, matando vacas e galinhas. Milhares de hectares de campos e plantações viraram cinzas.

Durante todo o domingo e a segunda-feira, 2 e 3 de junho, dezenas de bombeiros trabalharam durante horas para conter incêndios florestais causados por uma enorme barragem de foguetes disparados contra todo o Norte. Um funcionário da Autoridade de Parques e Natureza diz que levará anos para que a flora local se recupere depois que o incêndio de domingo destruiu partes da Reserva Natural da Floresta Yehudiya.

Em maio, foram 33 foguetes e drones contra o Norte de Israel por dia, em média. Imagina você, na sua casa vendo novela ou dorama, tendo que correr para um bunker 33 vezes por dia ao soar de alertas antibomba? Isso é vida? Aí, quando Israel contra-ataca, mata os terroristas que disparam as bombas (é só mirar no ponto de onde os foguetes foram disparados), Israel é mau. Claro, como acontece com esses grupos jihadistas estilo Hamas, os terroristas disparam ou se escondem no seio de civis. Quando esses civis são feridos ou mortos, Israel é pior ainda. Monstruoso.

Assim como o Hamas, o Hezbollah não tem nada a perder. Seus terroristas são “mártires” se morrerem (eles almejam esse “heroísmo”). Os civis vítimas de Israel também são “mártires” que morreram por uma boa causa (a luta contra os infiéis judeus). Então, se Israel não contra-ataca, ‘vambora’ atacar ainda mais os israelenses, causar incêndios de campos, destruição de casas, mortes de pessoas e animais. Se Israel contra-ataca, é demonizado pelo mundo. Win-win situation.

Desde a última vez que comprou briga com Israel, em 2006, o Hezbollah foi ordenado pela ONU (Resolução 1701) a se afastar da fronteira com Israel. Tinha até uma força especial da ONU por lá para a resolução ser respeitada. Mas, com o tempo, as forças da Unifil (United Nations Interim Forces in Lebanon) foram minguando, fugindo do avanço dos terroristas nada amigáveis do Hezbollah. Antes de 7 de outubro, os jihadistas e suas bandeiras amarelas estavam lá, de novo, na fronteira com Israel, ameaçando, atirando de vez em quando para melindrar Israel, planejando ataques ou sequestros. Quem sabe através de túneis subterrâneos, como o Hamas de Gaza (alguns túneis já foram descobertos na fronteira com o Líbano também).

Parênteses: Israel não tem e nunca teve interesse algum – ALGUM – em “se expandir” para qualquer centímetro do Líbano. Só atua em solo libanês (no passado e agora) para estancar ataques contra seu solo. Nenhum israelense imagina, sequer discute, essa ideia. Nenhum político jamais propôs isso. Então, alegar que o Hezbollah “apenas se defende dos expansionistas israelenses” é conversa para boi dormir – ou para universitário americano acreditar. Nem os religiosos-nacionalistas-abilolados israelenses – esses que querem reocupar Gaza ou manter a ocupação da Cisjordânia – têm interesse nisso. O Líbano não faz parte de qualquer mapa da “Grande Israel” bíblica. Fecha parênteses.

Para o aiatolá Ali Khamenei, o “Líder Supremo” do Irã, o Hezbollah é maravilhoso. Ele elogiou seu grupo-proxy e se gabou dizendo que Israel está “sendo derrotado por grupos apoiados pelo Irã”: “Um exército que antes afirmava ser um dos mais fortes do mundo está sendo derrotado pelo Hamas e o Hezbollah. A ‘Operação Inundação de Al-Aqsa’ (como ele e o Hamas chamam o ataque terrorista de 7 de outubro) interrompeu o plano do regime sionista de dominar a política e a economia de toda a Ásia Ocidental”.

Antissemitismo básico? Sim. Os judeus do “regime sionista” querem dominar a economia da região (e do mundo, claro). Os judeus que criaram um movimento de autodeterminação nacional há 150 anos – o movimento sionista – para terem um porto seguro após milênios de perseguições devem ser derrotados porque querem é – na verdade – dominar o mundo.

Mas tudo isso não importa. Os israelenses não importam. Ninguém “fica de olho” na Galileia. Nenhum “olho” quer ver o que acontece em Metulla e Kyriat Shmoná. Os olhos só se abrem quando Israel reage. Quando civis libaneses, usados como escudos humanos pelo Hezbollah, se ferem. Aí vira manchete de jornal. Só aí é para ficar de olho.

Este texto não reflete necessariamente a visão do Instituto Brasil-Israel.

Foto: Thomas Blomberg /WikimediaCommons

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