TEL AVIV – Se, no Brasil, o dólar não para de subir, arranhando o valor de 6 dólares por real, em Israel a situação é contrária. Aqui, o dólar não para de cair. Já estava em declínio aos poucos, mas, nos últimos dias, despencou. Na sexta-feira (12 de novembro), chegou a 3,08 – o menor câmbio em 26 anos – fechando o dia em 3,11. Há quem diga que pode baixar ainda mais nos próximos dias e cair para menos de 3.
Em 2003, quando eu cheguei em Israel, 1 dólar valia 4,42 shekels. O valor oscilou nos anos seguintes, mas foi caindo, caindo e caindo até chegar aos atuais 3,11 (nos bancos e casas de câmbio, o valor é, na verdade, 3,06).
Para quem se lembra, há apenas poucos anos o real e o shekel valiam praticamente a mesma quantidade de dólares. Hoje, 1 shekel vale quase 2 reais. A moeda israelense está cada vez mais forte. Na verdade, nunca foi tão forte nos 73 anos do país.
Por que o shekel está tão valorizado e quais as consequências disso para os israelenses e para os brasileiros que, com a abertura do turismo após mais de um ano e meio de pandemia, já podem visitar Israel?
O principal e mais óbvio motivo é que a economia de Israel vai bem. Muito bem. Apesar da pandemia e de três lockdowns, o país se saiu bem da crise do coronavírus. Só nos últimos dois anos, as exportações do setor de alta tecnologia aumentaram em 40%. Startups israelenses continuam sendo apreciadas e compradas por investidores estrangeiros. Fora isso, esses atores estrangeiros estão investindo diretamente na bolsa de valores local.
Outro motivo é a ação (ou inércia) do Banco de Israel (o Banco Central daqui). Ele não está intervindo neste momento no mercado de dólar, não está comprando dólares para evitar a queda da moeda. Na verdade, o Banco de Israel já comprou US$ 30 bilhões este ano para isso. Esse é mais ou menos o limite anual. O Banco de Israel também parece estar apreciando o efeito do dólar baixo na inflação. Israel importa muito e, se as empresas gastarem menos para isso, podem elevar menos – ou não elevar – preços, apesar das altas de preços da cadeia de mantimentos (supply chain) em todo o mundo.
Se, por um lado, um shekel forte alegra os importadores e os israelenses que viajam para o exterior, por outro enfraquece os exportadores, que ganham cada vez menos dólares por seus produtos e podem começar a demitir em massa. Mas a questão é que as exportações não param de subir, mesmo com o dólar baixo. Os únicos exportadores que sofrem mesmo são os que não fazem parte do setor de alta tecnologia. As empresas de high-tech conseguem absorver essas perdas e estão cada vez mais vendendo para o exterior.
E o que isso tem a ver com os brasileiros? Muito. Vir para Israel já era caro. Mas agora, com o real muito fraco e o shekel muito forte, as passagens e despesas se tornam cada vez mais caras. Depois de um bom tempo sem poder entrar em Israel por causa dos altos índices de Covid-19 no Brasil, os turistas brasileiros agora precisam não só enfrentar as burocracias da pandemia, mas desembolsar mais reais por cada dólar.