Embaixada dos Emirados Árabes Unidos em Israel: história sobre o prisma de um emiradense

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TEL AVIV – Os Emirados Árabes Unidos (EAU) inauguraram formalmente, na quarta-feira passada (14/07), sua embaixada em Israel, coroando um processo que começou com os Acordos de Abraão, que normalizaram as relações diplomáticas entre os dois países há cerca de dez meses. O embaixador Mohammad Mahmoud Al Khajah já havia apresentado oficialmente suas credenciais no início de março, mas só agora a embaixada foi formalmente inaugurada.

A nova embaixada fica em Tel Aviv, no prédio da Bolsa de Valores, o que tem tudo a ver com a natureza do relacionamento entre os dois países: Israel e os Emirados Árabes querem cooperar em inovação paralelamente à construção dos laços diplomáticos. Não à toa o embaixador Al Khajah disse que “ambos os países são nações inovadoras” e que a ideia é “aproveitar essas novas abordagens para levar prosperidade aos dois países”. 

Há apenas um ano, era impossível pensar nisso. Uma embaixada de um país árabe tão importante em Israel. Sobre isso, conversei com Abdullah Baqer, presidente do Conselho Empresarial Emirados Árabes Unidos-Israel. Eu queria entender o que o governo dos Emirados espera desse relacionamento e como, na verdade, os Acordos de Abraão foram possíveis. 

O quão importante é a abertura dessa embaixada em Tel Aviv?

ABDULLAH BAQER: Os Emirados Árabes Unidos foram e ainda são pioneiros em tudo, inclusive na abertura da embaixada no Estado de Israel, inclusive no acordo de paz que assinamos. Isso basicamente mudará muito o relacionamento entre os dois países. Não estou falando apenas de relações políticas, é basicamente uma porta que se abre para as duas culturas se entenderem e se educarem uma sobre a outra. Tenho muito orgulho por fazer parte deste momento histórico.

Por que isso aconteceu agora? O que fez os Emirados Árabes aceitarem e reconhecerem Israel?

ABDULLAH BAQER: Por muitos anos, tivemos a mídia controlando a mentalidade dos moradores da região. Mas demos um grande passo e passamos por cima do que chamo de “fake History” (história falsa) que vivemos por muitos anos. As notícias eram controladas por mãos que não estavam a nosso favor ou não eram nossas amigas. Mas nós, emiradenses e israelenses, tivemos a oportunidade de viajar pelo mundo, para obter educação e o Ocidente, na América e em universidades e escolas asiáticas. Isso basicamente criou o efeito em nossas vidas pessoais, elevando nossos padrões e valores, basicamente dando chance para a outra parte se apresentar e entender sobre a cultura do outro.

O que o senhor quer dizer com “fake History”?

ABDULLAH BAQER: Nos últimos 30 anos, o noticiário principal aqui na região foi o da Al-Jazeera. No começo, pensamos que a Al-Jazeera iria criar um mundo melhor na área de notícias. Mas percebemos, muito antes dos Acordos de Abraão, que isso não é verdade. Vimos que o que eles nem sempre reportam é verdade, principalmente quando o assunto é Israel. Eu, Abdullah, tenho amigos em Israel desde 2011. Tenho amigos judeus que vivem em todo o mundo, que costumavam vir a Dubai e conversar em um diálogo aberto. Secretamente, criamos o entendimento entre nós de que todas essas notícias que víamos não estavam certas.

Hoje em dia, podemos nos encontrar digitalmente, fazer perguntas e abrir nossas mentes. Podemos ajudar uns aos outros para chegar a um futuro melhor para nossos filhos, para a próxima geração. Queremos tomar decisões para os próximos 50 anos, os próximos 100 anos. Se não começarmos agora, não alcançaremos nossa visão. Voltando à sua pergunta, a mídia é a arma mais importante. Quando está em mãos erradas, pode nos levar ao desastre.

O que os EAU esperam desse relacionamento com Israel?

ABDULLAH BAQER: Antes de tudo, eu gostaria de parabenizar os dois países hoje por estarem na direção certa e por abrirem este novo capítulo. Somos, basicamente, um exemplo para o resto da região e o resto do mundo de que nada é impossível. Tudo é possível se nos sentarmos juntos e tivermos uma discussão e um diálogo adequados uns com os outros e nos entendermos, ao invés de apenas seguir o que temos sido alimentados por muitos anos. Quando olhamos para as relações entre os dois países, elas são únicas. Os Emirados Árabes são o centro comercial, de transporte e financeiro da região. Israel é a Startup Nation. Somos ambos líderes em tecnologia e inovação. 

Como a questão palestina entra nessa equação? Recentemente, houve mais um conflito entre Israel e Gaza. Os Emirados pretendem investir na reconstrução de Gaza?

ABDULLAH BAQER: Sim, claro. As oportunidades estão aí. Nós, como Conselho Empresarial Emirados Árabes Unidos-Israel, tentamos facilitar. Se olharmos para Gaza hoje, é claro, sabemos que há muitos indivíduos que estão administrando e controlando a área. Assim que tivermos estabilidade política por lá, é claro que o investimento virá. Temos que sentar com os líderes lá e ver o que basicamente eles precisam. Se conseguirmos, obviamente iremos fazer lobby para eles, arrecadarem fundos, construiremos escolas, faremos trabalho de caridade para basicamente elevar os padrões de vida lá.

Para mim, foi interessante escutar Abdullah Baqer porque percebi que muitos conceitos que escuto em Israel têm reflexo em outros países da região, principalmente a ideia de que o conflito com os palestinos já não é mais a maior consideração, quando se trata de reconhecer Israel. Ele não disse isso com todas as letras, mas Yoel Guzansky, pesquisador do Instituto de Estudos de Segurança Nacional de Israel (INSS, em inglês), é mais direto: “Vou ser franco, mas alguns dos países que assinaram o Acordos de Abraão não ligam para os palestinos. Esta é a triste verdade. Embora o público desses países nutram um sentimento pela questão palestina, os líderes têm seus próprios interesses”, diz Guzansky.

Segundo Guzansky, o recente conflito entre Israel e Gaza foi um teste para os Acordos de Abraão: “As relações passaram por um grande teste e foi um sucesso. Ninguém cancelou um acordo, nem mesmo o Sudão ou o Marrocos. Nenhum embaixador israelenses foi chamado para consultas nas várias capitais, mas isso não quer dizer que o conflito não tenha injetado tensão nas relações. Alguns países adiaram a decisão de se unir aos Acordos de Abraão por isso. Mas é só uma questão de tempo até outros países seguirem os passos dos Emirados Árabes”.

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