O Simpósio Nacional de História é um evento bienal desenvolvido por graduandos e pós-graduandos da área de história de diversas regiões do país que se encontram para partilhar suas produções científicas. A edição desse ano foi na cidade de Recife, em Pernambuco, e, com o apoio do IBI, as estudantes de Ciências Sociais, Olga Christina de Oliveira Zunino, e de História, Bianca Pereira Bastos, integrantes do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos e Árabes (NIEJ) da UFRJ, apresentaram o projeto “Percepções da direita cristã no Brasil sobre a questão palestino-israelense”.
A pesquisa foi apresentada na seção de painéis de iniciação científica utilizando-se de um banner no qual estavam inseridas as hipóteses, objetivos, metodologia, introdução e referências bibliográficas. Cada apresentação tinha o limite de 10 minutos partilhado igualmente entre ambas as pesquisadoras.
A motivação para a confecção da pesquisa foi explicada a partir da ótica da hipótese principal: Um processo de conversão e desconversão responsável por produzir cisões e alianças entre a comunidade neopentecostal e judaica. Por conseguinte, desenvolvendo o cenário propício para a ebulição de uma ‘’comunidade imaginária’’ baseada em valores políticos e morais. A pesquisa se fundamenta no conceito de ‘’comunidades imaginárias’’ pela via de que os signos e símbolos compartilhados entre indivíduos de um grupo auxiliam na produção de uma narrativa grupal capaz de unificar indivíduos em um coletivo, sendo esses símbolos impulsionados por motivações litúrgicas, étnicas ou políticas.
Essa hipótese principal é amparada pela produção de dados por meio de entrevistas semiestruturadas, análise da produção de discurso nas redes sociais e na observação de manifestações que englobam tanto o campo da direita cristã quanto o campo da esquerda universitária, dois polos que se destacaram em nossas observações devido ao seu amplo engajamento em questões concernentes ao conflito árabe-israelense. O NIEJ, para melhor contemplar o campo, dividiu a pesquisa geral ‘’Perspectivas da sociedade brasileira a respeito do conflito árabe-israelense’’ em duas subpesquisas, uma concentrada na análise da esquerda universitária e a outra na direita cristã. O que tem se percebido de forma geral é que a sociedade brasileira encara os dois grupos envolvidos no conflito, a comunidade judaica e palestina, de forma monolítica e completamente polarizada: O judeu estaria localizado no paradigma conservador e o palestino no paradigma progressista.
Em seguida, pretendeu-se contemplar na apresentação quais são os grupos que englobam a categoria ‘’direita cristã’’. Notou-se que dentro do espectro da direita, o principal grupo a mobilizar símbolos e elementos importantes para a comunidade judaica e para o Estado de Israel foi os seguidores do neopentecostalismo orientados pela Teologia da Prosperidade.
Doravante a essa questão, a análise documental dos principais veículos de informação virtual constatou uma aproximação política entre elementos conservadores da comunidade judaica com os neopentecostais. A relação entre esses judeus e neopentecostais conservadores tornou-se o principal objeto da pesquisa em relação ao espectro da direita.
As estudantes, portanto, se dividiram de forma a contemplar a complexidade dessa relação, compreendendo os aspectos litúrgicos e políticos que possibilitam essa aliança para melhorar compreender sua natureza. O contexto político-econômico no qual Brasil e Israel se encontram serviu como ponto de partida para melhor aperfeiçoar a hipótese central, o que se conclui ate então na pesquisa é que a confecção dessa comunidade imaginada entre judeus e neopentecostais conservadores é possível pela comum crença em ma representação específica sobre Israel. Judeus e neopentecostais conservadores acreditam em uma ‘’Israel imaginária conservadora’’ pautada na necessidade de enrijecer suas fronteiras políticas interna e externamente para garantir a segurança do povo judeu, o uso político do sionismo bélico e na percepção de indivíduos marginalizados em indivíduos marginais capazes de atentar contra a soberania israelense foram algumas das características encontradas na narrativa conservadora.
Entretanto, apesar da nomenclatura, essa ‘’Israel imaginária’’ também reverbera na sociedade brasileira em um ‘’Brasil imaginário’’ fundamentado nas mesmas características, desenvolvendo o que compreendemos até aqui como o cenário ideal para a aliança entre esses dois grupos.
Finalmente, para chegar a tal conclusão, a pesquisa beneficiou-se de um universo bibliográfico dedicado a analisar as características constituintes tanto do neopentecostalismo quanto do judaísmo. Por exemplo, pesquisadores como Ari Pedro Oro e Marta Francisca Topel foram utilizados como forma de compreender o universo neopentecostal no Brasil, suas pesquisas auxiliaram na utilização de conceitos importantes para compreender o papel dos neopentecostal nessa relação, como o conceito de Judeofilia e Religiofagia. O viés litúrgico-político foi o ponto principal da apresentação, localizando o surgimento dessa aliança no contexto político-econômico contemporâneo, na qual a radicalização política e a gradual assimilação do papel dos neopentecostais como um grupo com grande poder político de intervenção na esfera pública, modifica o jogo democrático e os rumos da política nacional e internacional brasileira.
Bianca e Olga apresentam seu trabalho no vídeo abaixo: