A campanha eleitoral do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu foi, como sempre, magistral. Para tentar entender um pouco mais como ele conseguiu aumentar a bancada de seu partido, o direitista Likud, de 30 para 36 cadeiras no Knesset, o Parlamento em Jerusalém, superando o rival de centro “Azul e Branco” e até mesmo eliminar alguns desafetos da própria direita, o estrategista político Moshe Gaon explica o que está por trás de sua estratégia.
Gaon, que assessorou os ex-primeiros-ministro Ehud Barak e Ariel Sharon, conhece a metodologia de Netanyahu desde meados da década de 90. Ele explica abaixo, em entrevista dada na ONG Media Central, quais os principais motivos da vitória de Netanyahu.
Como foi a estratégia de Netanyahu, nessas eleições?
Netanyahu está por aí desde 1996 e sua estratégia nunca mudou. Ele é um dos melhores do mundo em campanhas eleitorais. Ele sabe que 98% das decisões dos eleitores são emocionais, não racionais, inconscientes. Isso é verdade em todos os lugares do mundo. Os eleitores votam de acordo com o que eles sentem. Quando votam, não é por interesses econômicos ou outros tipos. É por um senso moral emocional. É por isso que Netanyahu sempre ganha fora das grandes cidades.
Mas os adversários dele não entendem isso?
Os liberais, em Israel, só ganham eleições quando falam de emoções, não de dados concretos. As emoções principais entre eleitores são medo e ódio. As pessoas nunca votam “por alguém” e sim “contra o outro”. Isso os conservadores sabem fazer bem. Os liberais não acham que isso é bom, ficar falando mal dos outros. Mas você nunca ganha eleições assim. Você precisa metáforas simples. Somos sempre “nós” contra os “outros”. Quando você é vago, não é claro, tenta ser “simpático”, perde as eleições.
Que tipo de mensagem Netanyahu costuma usar?
As pessoas votam por Netanyahu porque sentem como se ele fosse o pai da nação, que está defendendo a nação dos “outros”. Se alguém disser para um israelense: “se você não votar por mim, os árabes vão nos destruir”, para muita gente isso é motivo suficiente para sair de casa e votar. Isso funciona principalmente em um país que não esquece o Holocausto. Para os israelenses, é “o mundo contra nós”.
Essas eleições foram “Bibi” versus “não-Bibi”?
Sim. E Netanyahu sabia que sua “tribo Bibi” é maior, em números, do que a dos “não-Bibi”, os liberais, a esquerda, os árabes.
Que tipo de mensagem ele passou aos eleitores?
As mesmas mensagens de sempre: de simplicidade e contradições. São emoções básicas. Você é patriota ou é um colaborador de nossos inimigos. Você é forte ou fraco. É separação (dos palestinos) versus Deus. Isto é: você quer se separar dos palestinos ou manter o que Deus disse sobre a Terra de Israel? Este ano, ele adicionou a questão da perseguição. “Eles estão me vitimizando para me derrubar”. As pessoas acreditaram nele.
Perseguição judicial porque ele está prestes a ser indiciado por corrupção?
Sim. Netanyahu tenta pintar isso como perseguição pela Justiça, que quer derrubá-lo. Ele é a vítima da mídia, da esquerda, dos árabes. É por isso que a questão da corrupção não funciona para tirar votos de seus apoiadores. Enquanto ele não é condenado, as pessoas acham que é perseguição política. Fora isso, se ele é visto como um “pai”, alguém que defende os israelenses, como numa sociedade patriarcal. Os eleitores desculpam a corrupção e não questionam muito o “pai”, que, em sociedades patriarcais, é o “rei”.
Como assim?
Os eleitores do Netanyahu acham que, para defender Israel, ele pode usar táticas nem sempre “limpas”. Se ele sabe mentir bem, ele é bom. Vai mentir para os nossos inimigos também. “Better a crook than a fool” (melhor um escroque do que um idiota), dizem.
Qual foi o principal erro da campanha de Benny Gantz?
Para a esquerda ganhar, tem que ter um líder “forte”, um general, como no caso de Yitzhak Rabin (1992) e Ehud Barak (1999). O “Azul e Branco” tinha isso. Mas Gantz ficou a campanha toda respondendo a Netanyahu. Não criou uma agenda própria. Não controlou as mensagens e discussões da campanha. Para a esquerda ganhar, precisa evitar repetir as mensagens do Netanyahu. Criar sua própria narrativa. Se quiser transferir eleitores da centro-direita para a centro-esquerda, é preciso ter uma mensagem diferente, não a questão da “perseguição” ou a questão de um “Israel forte”. Tem que ser uma mensagem de “mudança”. Por que mudar? O que essa mudança vai trazer?
Que tipo de mensagem?
Algo relacionado com moralidade, problemas internos, a sociedade interna. Democracia versus extremistas. Isso porque a maioria dos israelenses não acredita, hoje, que haverá paz com os palestinos a curto ou médio prazo. Por muitos motivos. Os palestinos cometeram erros, os israelenses cometeram erros. Todos erraram.