As origens e estratégias dos movimentos de boicotes contra Israel e o seu potencial de influenciar os rumos do conflito entre israelenses e palestinos foram tema da décima aula do curso de formação do IBI em São Paulo, ministrada pelo cientista social Daniel Douek.
Segundo professor, a ideia de boicote não é nova, e historicamente foi usada para diversos fins. A aula teve início com a explicação sobre a origem do termo boicote e exemplos de momentos-chave na história das lutas sociais e políticas que fizeram uso dessa estratégia ao longo do século XX, como as campanhas de Gandhi, na Índia, de Rosa Parks, em Montgomery (EUA), e a luta contra o apartheid sulafricano. Em comum, essas experiências tinham um objetivo de dar fim a injustiças e obtiveram êxito. “Muitas vezes, é a resistência pacífica, e não atos de violência ou guerrilha, que garante a vitória em embates que pareciam fadados ao fracasso”, pontuou.
Por outro lado, também foram lembrados momentos em que boicotes foram usados por governos autoritários na exclusão de minorias indesejáveis, tal como a campanha nazista de boicote aos estabelecimentos judaicos na Alemanha, em 1933.
Em seguida, Douek mostrou que boicotes também estão presentes na história do conflito entre judeus e árabes – ou israelenses e palestinos -, pelo menos desde a década de 1920, e foram utilizados por ambos os povos.
Nesse sentido, a questão que se coloca é: o que faz com que uma campanha de boicotes ressurja em 2005 e siga crescendo? O professor explicou que o movimento ganha relevância após fracasso de soluções negociadas, representada pelos os acordos de paz, e da violência armada que caracterizou a segunda intifada. Além disso, chamou atenção para o desgaste das lideranças tradicionais e o fortalecimento da chamada “sociedade civil”. A estratégia passa a ser, então, fomentar movimentos políticos constantes para que o Estado de Israel seja isolado, deslegitimado e transformando em uma espécie de “pária internacional”.
Em seguida, o professor enumerou iniciativas que desafiam o boicote, incluindo desde o desenvolvimento de legislações anti-boicote na Europa e nos EUA, até a organização de “contra-boicotes” visando atingir aqueles que promovem o boicote a Israel.
Por fim, trouxe algumas reflexões sobre a questão, que divide corações e mentes, para além da propaganda daqueles que advogam a favor ou contra o boicote.