Construir muros é uma das formas mais antigas de afastar quem nos causa medo ou mesmo de evitar contato com aqueles cuja presença é simplesmente indesejada. Se a promessa de um mundo hiperconectado, esgarçando as fronteiras entre pessoas, fazia crer que essa forma rudimentar de separação estava com os dias contados, percebe-se, ao contrário, que tais barreiras só aumentam.
No contexto do conflito entre israelenses e palestinos, essa realidade também se faz presente. Muros, cercas e checkpoints construídos pelo governo de Israel em nome da segurança já estão integrados à paisagem local. Se, por um lado, reduziram o número de atentados, por outro, avançam sobre a Cisjordânia e trazem limitações à circulação dos que ali habitam. Mas estas não são as únicas barreiras que apartam os dois povos.
Em resposta ao muro de concreto (e somando-se a outras demandas), organizações da sociedade civil palestina, apoiadas por movimentos sociais em diversas partes do mundo, constroem seus próprios muros – simbólicos – por meio de campanhas de boicotes contra instituições e cidadãos israelenses ou, simplesmente, “sionistas”.
Sem distinguir o que é território israelense reconhecido internacionalmente e o que é território ocupado ou em disputa, e sem diferenciar governo e sociedade civil, tais campanhas atribuem a pessoas comuns a responsabilidade por ações que, muitas vezes, elas mesmas condenam. Dessa forma, procuram impedir que estrangeiros tomem parte em eventos acadêmicos, esportivos e culturais em Israel, e propõem barrar a participação de israelenses em geral em ações do tipo pelo mundo, independentemente de posicionamento político ou de responsabilidade direta nas ações do país.
O conflito, assim, se transforma na disputa pelo muro mais alto, pela barreira mais eficaz para isolar o adversário, como se a vitória de um lado dependesse da derrota do outro. Nessa guerra de muros, aqueles que não compartilham da gramática da separação são duplamente excluídos, pelos lados “de cá” e “de lá”. Isto é, quem, apesar de tudo, insiste nos encontros e aposta que não é preciso abrir mão da identidade nacional – nem da sua, nem da do outro – para superar as diferenças, encontra resistência em barreiras de dois tipos: as de concreto e as simbólicas.
Nenhuma forma de muro vale a pena.
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