Dia Internacional da Mulher 2025 em Israel: Mulheres ainda lutam por espaço nas instâncias de decisão

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Revital Poleg

O Dia Internacional da Mulher 2025 em Israel não deve ser, como é comum aqui, apenas um dia de gestos simbólicos e declarações inspiradoras, nem um momento de brindes e eventos voltados exclusivamente para mulheres, que surgem como cogumelos após a chuva. Antes de tudo, este dia deve servir como um lembrete da discrepância entre palavras e ações, entre leis que garantem igualdade e uma realidade na qual as mulheres continuam excluídas dos centros de poder. Ele nos lembra que a igualdade de gênero, especialmente no que diz respeito à presença feminina nas mesas de tomada de decisão, ainda está distante de ser alcançada.

Infelizmente, apesar de Israel ter apoiado e adotado a Resolução 1325 do Conselho de Segurança da ONU (31/10/2000), que determina a representação das mulheres nos processos de tomada de decisão em temas de paz e segurança, e apesar da exigência legal israelense de garantir uma representação equitativa das mulheres em cargos de liderança, na prática, sua presença ainda é escassa.

No entanto, comecemos por uma notícia encorajadora, que traz pequenos sinais de mudança na perspectiva de gênero e demonstra que, além da necessidade, essa realidade pode ser transformada.

Há apenas duas semanas, em 24 de fevereiro de 2025, a Suprema Corte de Israel aceitou uma petição histórica apresentada pelo Fórum Dvorah, The Israel Women’s Network e Na’amat, conhecida como o “Caso das Zero Diretoras-Gerais”, após se revelar que nenhuma mulher ocupa atualmente o cargo de diretora-geral em nenhum dos 37 ministérios do governo – um fato absurdo em um país que, por lei, deve garantir representação equitativa.

Na decisão, o juiz Noam Sohlberg declarou que o governo violou as leis existentes de igualdade: “A Lei de Nomeações e a Lei da Igualdade de Direitos das Mulheres estabelece a obrigação de garantir uma representação equitativa de ambos os sexos em toda a administração pública, incluindo nomeações para cargos de diretoria-geral nos ministérios do governo”.

Além disso, o tribunal exigiu que o governo explicasse, dentro de 60 dias, por que ainda não estabeleceu diretrizes claras para garantir a presença de mulheres em cargos de confiança e por que essas diretrizes não foram implementadas imediatamente.

Como o governo responderá? Neste ponto, sou menos otimista.

A inclusão de mulheres em posições de liderança não pode ser um gesto superficial ou meramente simbólico. Trata-se de uma necessidade estratégica e essencial para uma governança eficaz. Diversos estudos demonstram que a diversidade de perspectivas leva a processos de tomada de decisão mais qualificados, equilibrados e sustentáveis, especialmente em tempos de crise e incerteza. Segundo a OCDE, a inclusão de mulheres em cargos de liderança melhora o desempenho econômico de empresas e países, contribui para decisões mais equilibradas e amplia a compreensão dos desafios sociais enfrentados pela sociedade.

No entanto, quando as mulheres são excluídas dos centros de decisão, as políticas adotadas tendem a ser parciais e carentes da diversidade essencial para garantir seu sucesso. Apesar das pesquisas que reforçam a importância da participação feminina, a realidade em Israel ainda é preocupante, e os dados falam por si:

Setor público e liderança política

  • Nenhuma mulher ocupa atualmente o cargo de diretora-geral em nenhum ministério governamental.
  • Apenas 5 mulheres ocupam cargos de ministras em um governo composto por 37 ministros.
  • Apenas 2 mulheres fazem parte do Gabinete de Segurança Nacional, que possui 11 membros.
  • Apenas 3 mulheres participam do Comitê de Relações Exteriores e Defesa da Knesset, que conta com 17 membros.
  • No Ministério das Relações Exteriores, apenas 28 mulheres ocupam cargos de embaixadoras, de um total de 97 diplomatas.

Setor militar e segurança nacional:

  • No Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel, o órgão mais importante da estrutura militar do país, apenas 3 mulheres ocupam cargos entre 32 oficiais.
  • Apenas 2 mulheres possuem o posto de General, de um total de 23 Generais.

Setor econômico e tecnológico

  • Apenas 26,5% dos membros dos conselhos de administração das empresas públicas em Israel são mulheres, com uma média de 1,8 mulher por conselho.
  • Apenas 17% dos cargos de gestão no setor de alta tecnologia são ocupados por mulheres.
  • Embora tenha havido um aumento significativo no número de mulheres na tecnologia na última década, elas ainda representam apenas 33,5% dos empregos no setor.

A exclusão das mulheres é particularmente evidente nos setores de segurança e relações exteriores, dois pilares centrais da política israelense. Segundo o Fórum Dvorah, que promove a inclusão feminina nessas áreas, o aumento da representação de mulheres nesses campos não apenas impulsionaria o sistema como um todo, mas também traria um avanço significativo para a igualdade de gênero em toda a sociedade israelense.

Ampliar a participação feminina na disputa por cargos de liderança eleva as chances de identificar e nomear profissionais altamente qualificados, incluindo um grande número de mulheres excelentes e extremamente capacitadas, com as quais Israel já foi agraciada. Ainda assim, a exclusão sistemática das mulheres nessas discussões persiste como um padrão arraigado. O Fórum Dvorah está determinado a transformar essa realidade.

O interesse público que torna essencial a inclusão de mulheres nos centros de decisão, especialmente nas áreas de relações exteriores e segurança, fundamenta-se na vantagem da diversidade. Homens e mulheres muitas vezes adotam estilos de gestão distintos. Muitas mulheres trazem uma visão única e uma sensibilidade social fundamentais para decisões equilibradas e bem fundamentadas.

Apesar disso, até hoje, o governo de Israel não considerou necessário incluir sequer uma mulher na equipe de negociações para a libertação dos reféns, formada após os eventos de 7 de outubro.

Os eventos de 7 de outubro reforçaram, mais do que nunca, o papel essencial das mulheres nos principais centros de tomada de decisão na segurança nacional. Desde o início da guerra, tornou-se evidente para a sociedade israelense que a presença feminina era fundamental, estratégica e, em muitos casos, decisiva para salvar vidas.

Em entrevista ao Canal 12, o ex-ministro da Defesa e ex-Chefe do Estado-Maior do Exército, Shaul Mofaz, declarou: “Em muitos aspectos, esta é a ‘primeira guerra das mulheres’. Elas estão presentes em todas as frentes de combate, tomando decisões e liderando operações.”

Um dos exemplos mais marcantes de liderança feminina heroica foi o da Tenente-Coronel Or Ben Yehuda, comandante do Batalhão Karakal, que já havia recebido a Medalha de Honra do Exército em anos anteriores. Em 7 de outubro, ela liderou uma batalha heroica no Posto de Defesa de Sufa, na fronteira de Gaza, e salvou dezenas de vidas.

Além disso, 55 mulheres – soldados, oficiais, policiais e combatentes das forças de segurança – perderam suas vidas ao longo da guerra, muitas delas em missões que salvaram inúmeras vidas.

A presença de mulheres nas forças de segurança, na tecnologia, na economia e na sociedade israelense deve se refletir também nas mesas de decisão. A cultura do ‘Boys Club’, que ainda predomina na política e na segurança de Israel, restringe a diversidade de pensamento e enfraquece a capacidade do país de enfrentar os desafios contemporâneos.

A mudança precisa ir além de nomeações simbólicas – é necessária uma transformação cultural e estrutural. A incorporação da perspectiva de gênero na governança, na formulação de políticas e na educação é fundamental para construir um futuro mais equilibrado e igualitário para toda a sociedade israelense.

Como afirmou recentemente o Presidente de Israel, Isaac Herzog: “As mulheres devem estar presentes em todas as instâncias de liderança, em todos os gabinetes, em todas as mesas de tomada de decisão. Este deve ser um objetivo nacional para nós, como sociedade e como país.”

Quem sabe, talvez dentro de uma década, não precisemos mais do Dia Internacional da Mulher para lembrar a importância da presença feminina no poder.

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Revital Poleg, ex-diplomata israelense, trabalhou com Shimon Peres durante os Acordos de Oslo. É colaboradora do Instituto Brasil-Israel (IBI) e membro do Fórum Dvorah, em Israel.  

Esse texto não reflete necessariamente a opinião do Instituto Brasil-Israel.

(Foto: WikimediaCommons/IsraelPM)

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