Duas imagens da libertação de Romi, Emily e Doron

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Daniela Kresch

TEL AVIV – Israel inteira parou para acompanhar a libertação de três mulheres, três jovens reféns que não viam a luz do dia há 471 dias. Romi Gonen (24), Emily Damari (28) e Doron Steinbracher (31) foram libertadas este domingo do cativeiro do Hamas na Faixa de Gaza e se reuniram com suas famílias no hospital Sheba Tel Hashomer. 

“Esta é uma noite emocionante”, disse Yael Frankel-Nir, diretora do Hospital Sheba. “Recebemos as três e a situação delas nos permite nos concentrarmos no mais importante: o reencontro com as suas famílias”.

Fotos e vídeos do reencontro começaram a aparecer na imprensa israelense quase que imediatamente, apesar da “ameaça” anterior de que a privacidade dos reféns libertados seria preservada ao máximo. Mas a avidez dos israelenses em ver as três primeiras ex-sequestradas abraçando suas mães, pais e irmãos foi maior.

Apesar da emoção dessas fotos, da alegria, dos abraços e do choro, duas imagens me marcaram neste dia histórico. A primeira é a imagem (em fotos e vídeos) de Romi, Emily e Doron dentro de uma van do Hamas rodeada por uma turba de palestinos furiosos que tentavam arranca-las do veículo numa tentativa de linchamento que só não ocorreu porque dezenas de terroristas do Hamas, fardados, armados e mascarados, evitaram o pior atirando para o alto e empurrando violentamente a multidão.

Essa imagem mostra diversos aspectos do que está realmente acontecendo em Gaza. Primeiro, o Hamas ainda existe, ainda é forte e ainda controla Gaza – apesar da falsa e terrível alegação de que Israel cometeu um “genocídio” por lá. Essa palavra é usada contra Israel numa inversão dolorosa do que os judeus sofreram no Holocausto, esse sim um verdadeiro genocídio que exterminou dois um terço dos judeus do mundo (6 milhões) em cerca de 6 anos. O Hamas e seus adoradores podem dar aula de marketing aos melhores marqueteiros brasileiros.

A imagem das jovens ex-reféns rodeadas por uma multidão enfurecida também mostra que o Hamas – apesar de ter sido responsável por declarar guerra a Israel e levar a um contra-ataque poderoso – ainda é popular em Gaza (e cada vez mais na Cisjordânia também). Além disso, pode-se imaginar que a turba que tentava linchar as sequestradas não exatamente deseja a “paz” ou uma solução de “dois Estados”.

Mas há uma segunda foto que me impressionou neste dia, que marca o primeiro dos 42 dias da primeira fase do Acordo dos Sequestrados (como os israelenses chamam o cessar-fogo firmado com o Hamas), que prevê a libertação de 33 reféns israelenses vivos ou mortos em troca de 1900 presos palestinos que cumprem pena em cadeias israelenses após serem julgados e condenados por terrorismo. 

Trata-se da imagem de Emily Damari, uma israelense-britânica de 28 anos, abraçada com a mãe e conversando por vídeo no celular com seu irmão. Há duas versões da foto. Na que foi mais divulgada, Emily ri, feliz. Muito emocionante. Mas, a segunda versão mostra Emily saudando o irmão com a mão para cima. E dá para ver muito bem que estão faltando dois deles, o médio e o anelar. A imprensa local evitou mostrar a imagem ou comentar o assunto. Estão todos pisando em ovos para respeitar as famílias. Mas foi impossível evitar ver a foto em redes sociais ou grupos de WhatsApp.

Emily foi ferida por tiros em 7 de outubro de 2023 e nunca recebeu a assistência médica que precisava. O Hamas, claro, nunca sequer deixou que a Cruz Vermelha tivesse acesso a ela. Por causa desse ferimento, que a família sabia ter acontecido porque houve testemunhas, a família de Emily temia que ela voltasse dentro de um caixão. Afinal, o Hamas não diz que refém está vivo e que refém está morto – num requinte de crueldade típico dos grupelhos terroristas locais. Ao que tudo indica, dos 94 reféns que ainda restam em Gaza, cerca de 35 estão mortos.

A foto de Emily é um pequeno sinal de como as 251 pessoas originalmente sequestradas em 7 de outubro de 2023 foram tratadas por um grupo terrorista sanguinário, fanático e cruel, que glorifica a morte e não se importa com a vida nem de seus próprios conterrâneos, que usa como escudos humanos em prol de uma ilusão religiosa de “reconquistar” o Oriente Médio em nome de Alá.

Outro requinte de crueldade e cinismo do Hamas foi ter libertado as três israelenses com uma “sacola com presentes e lembranças”, incluindo uma foto de Gaza. 

Neste momento, sabemos pouco sobre como foi o cativeiro das três mulheres. Só alguns detalhes, como o fato de que Emily e Romi foram mantidas juntas. 

Agora, Israel se prepara psicologicamente para as próximas libertações, que serão a conta-gotas – mais um exemplo de perversidade do Hamas. Só daqui a uma semana serão libertados os próximos três sequestrados. E só saberemos os nomes 24 horas antes (se é que o Hamas fará o “favor” de divulgar, como está no acordo que ele mesmo assinou com Israel).

Até lá, o acordo pode azedar. Essa primeira fase poderá não sair do papel, piorando as chances de que a segunda e a terceira também se materializem e levem à libertação de todos os reféns. E para quem acha, de forma automática por causa do preconceito anti-Israel de boa parte da imprensa mundial, que é Israel que sempre viola acordos, a verdade é que as violações quase sempre são cometidas pelos terroristas. Ou é mais fácil acreditar que Israel é que tem más intenções?

Vamos torcer para que todos os sequestrados tenham a mesma felicidade que Romi, Emily e Doron. Que voltem para casa e abracem suas famílias.

Esse texto não reflete necessariamente a opinião do Instituto Brasil-Israel.

(Foto: Reprodução IDF)

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