Revital Poleg
O feriado de Chanucá, a celebração da luz, esperança e milagres, está prestes a começar. Este é um dos feriados mais amados da tradição judaica, trazendo consigo não apenas a memória da história do povo judeu, mas também uma mensagem universal de que a luz sempre vence a escuridão e de que a esperança persiste mesmo em tempos difíceis.
Neste ano, porém, essa mensagem parece especialmente relevante. Mais de 444 dias se passaram desde o Sábado Negro, de 7 de outubro de 2023, e ainda há 100 cidadãos israelenses – mulheres, homens e crianças – que permanecem no cativeiro do Hamas. Estima-se que cerca de metade deles ainda esteja viva. Essa escuridão continua a nos acompanhar como sociedade e como nação.
Uma das canções mais famosas de Chanucá, “Viemos banir a escuridão”, nos lembra do poder da luz, mesmo que pequena ou singular, e da força que temos ao unirmos nossos esforços: “Viemos banir a escuridão, // Em nossas mãos, luz e fogo.// Cada um é uma pequena luz, // E todos juntos – uma luz forte”. Essas palavras ganham agora um significado ainda mais profundo, ecoando a urgência de trazer de volta a luz – que só será possível quando todos retornarem para casa, com os vivos restaurados e os mortos sepultados em solo israelense.
Chanucá é também uma celebração de milagres, um feriado que nos lembra, repetidamente, o poder transformador dos pequenos momentos de esperança e fé. No entanto, neste ano, uma pergunta permanece: será que o milagre realmente acontecerá? Conseguiremos trazer todos os reféns de volta para casa – para suas famílias, que aguardam ansiosamente por eles, e para o carinho e a solidariedade que grande parte da sociedade israelense continua a demonstrar em relação a eles?
Para que isso aconteça, surge a necessidade de uma decisão de liderança. A política não se baseia em milagres. Decisões políticas devem ser fruto de análise, responsabilidade e compromisso com valores fundamentais. Nossos líderes possuem em suas mãos um poder imenso – a capacidade de mudar a realidade. Mas será que suas decisões estão alinhadas com essa responsabilidade?
Os reféns não podem esperar por um milagre. Eles não têm tempo. Pelo contrário, seu tempo está se esgotando. O inferno em que estão vivendo continua a consumir aqueles que ainda permanecem vivos. Seu retorno depende de decisões – mesmo que difíceis e complexas – que precisam ser tomadas com urgência.
Os macabeus, cuja bravura celebramos em Chanucá, não ficaram à espera de um milagre. Eles agiram com determinação, perseveraram e fizeram a luz brilhar por suas próprias mãos. A revolta dos macabeus, que enfrentou altos e baixos, foi uma luta pela identidade da sociedade judaica e pela essência do povo.
Trazer os reféns de volta para casa, até o último deles, também é uma luta pela identidade do Estado de Israel e pelos seus valores. Os milhares de israelenses de todas as camadas e correntes da sociedade que saem às ruas todos os sábados à noite para demonstrar solidariedade às famílias dos reféns e exigir sua libertação imediata estão, na prática, lutando pelo caráter do país. Muitos outros que não participam das manifestações expressam apoio de outras maneiras – em diálogos, nas redes sociais e em apoio amplo à iniciativa de libertação, como mostram todas as pesquisas realizadas em Israel nos últimos meses, com mais de 70% de aprovação, independentemente de setor, orientação política ou outra característica. Enquanto a sociedade demonstra sua solidariedade, a resolução desta crise depende, em última instância, de uma ação política decisiva.
Há semanas uma nova negociação está em pauta. Seus detalhes não são conhecidos, mas está claro que não será um acordo simples. Ele exigirá de Israel concessões difíceis, como a libertação de centenas de terroristas perigosos com sangue nas mãos, atualmente detidos em prisões israelenses. Além disso, será necessário implementar um cessar-fogo, pelo menos temporário, e retirar as forças militares israelenses de determinadas áreas em Gaza, atualmente sob o nosso controle. Essas medidas enfrentam, infelizmente, uma oposição vocal dentro do próprio governo israelense, com membros que se opõem a qualquer avanço nesse sentido.
Aos olhos de muitos na sociedade israelense, esses políticos, sejam aqueles que se opõem abertamente ao acordo ou aqueles que falam em dois tons – aparentemente apoiando o acordo, mas ao mesmo tempo minando suas chances de realização – não representam apenas obstáculos práticos, mas também a escuridão, os interesses pessoais e a politização dos valores fundamentais que sustentam nossa identidade coletiva.
É importante ressaltar que, em contraste com essa resistência política, o próprio exército de Israel afirma que não há impedimento para implementar tais passos e está preparado para responder a quaisquer desenvolvimentos indesejados, caso necessário.
A sociedade israelense demonstrou repetidamente sua força de solidariedade em tempos de emergência e desafios nacionais, assim como sua capacidade de promover mudanças significativas quando unida por uma causa comum. Com esse mesmo espírito de compromisso moral, evidente no engajamento público em relação aos reféns, precisamos alcançar, agora, um acordo para a sua libertação. O cumprimento deste acordo reflete o ethos israelense, nossa identidade e os valores fundamentais que sustentam a fundação do Estado de Israel. O retorno de todos eles trará uma grande luz para todos nós, fortalecendo-nos como indivíduos e como sociedade. Como diz a canção: “Cada um é uma pequena luz, e todos juntos – uma luz forte.”
Neste ano, há uma conexão especial entre Chanucá e o Natal. Na primeira noite de Chanucá, o mundo cristão celebra o Natal. Essa coincidência de datas, que ocorre apenas uma vez a cada 19 anos, nos lembra que a luz transcende fronteiras e religiões – ela é universal e renova a esperança. Que também traga inspiração para a libertação dos reféns e seu retorno às suas famílias.
Feliz Chanucá, Feliz Natal,
Que 2025 seja um ano de luz, compaixão e esperança para todos!
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A canção “Viemos banir a escuridão” foi escrita pela compositora e coreógrafa Sara Levi-Tanai, no início da década de 40 do século passado, com melodia de Emanuel Amiran.
Esse texto não reflete necessariamente a opinião do Instituto Brasil-Israel.
(Foto: PxHere/Robert Couse-Baker)