Revital Poleg
O dia 10 de dezembro marcou o aniversário de 30 anos desde que Yitzhak Rabin, Shimon Peres e Yasser Arafat receberam o Prêmio Nobel da Paz em Oslo por seus esforços para alcançar a paz entre Israel e os palestinos. Os Acordos de Oslo, assinados em 1993, foram uma tentativa histórica de romper um dos conflitos mais dolorosos da história moderna. Três décadas depois, devemos perguntar: Oslo deixou um legado? Foi um sucesso ou um fracasso?
Os Acordos não foram concebidos como uma solução definitiva, mas como o início de um processo – um roteiro para um futuro de coexistência. No centro dessa iniciativa estava uma ideia audaciosa: conflitos não terminam no campo de batalha. Guerras aliviam tensões momentâneas, mas a paz verdadeira exige diplomacia, reconhecimento mútuo e a capacidade de enxergar além da dor presente.
Oslo foi um passo necessário, provando que o diálogo entre inimigos é possível e essencial. Ofereceu um quadro de cooperação, substituindo o ódio e a guerra por confiança e coexistência. O Comitê Nobel reconheceu isso ao premiar Rabin, Peres e Arafat “por seus esforços para criar a paz no Oriente Médio”, mostrando que a paz pode ser alcançada, mesmo com feridas profundas.
Trinta anos depois, a promessa de Oslo permanece, em grande parte, não cumprida. Os anos seguintes foram marcados por violência, terrorismo e desilusão política. Extremistas exploraram medos, corroendo a confiança. O assassinato de Yitzhak Rabin, em 1995, simbolizou as divisões que resistiram à mudança. Entre os palestinos, divisões internas e grupos militantes como o Hamas criaram novos obstáculos, culminando no ataque de 7 de outubro – um lembrete cruel das realidades que Oslo tentou enfrentar.
O Oriente Médio mudou drasticamente desde os anos 1990. Hoje, com a guerra em Gaza ainda em curso, a frágil trégua na fronteira entre Israel e Líbano, o enfraquecimento da Autoridade Palestina, o colapso do regime de Assad na Síria e o golpe sofrido pelo “Eixo da Resistência” liderado pelo Irã, a região encontra-se em uma encruzilhada de incerteza. Essas transformações podem criar oportunidades. A lição de Oslo é clara: a guerra não pode ser a palavra final.
Oslo não fracassou em sua intenção, mas em sua continuidade. Revelou os enormes desafios da paz, lembrando-nos de que “a paz é feita com inimigos”. A grandeza da liderança está em superar barreiras psicológicas e políticas, buscando um futuro de estabilidade. Não se trata de ignorar o sofrimento, mas de ter coragem para vislumbrar uma realidade alternativa.
Precisamos dessa coragem mais do que nunca. A paz exige líderes que arrisquem a incerteza em nome das próximas gerações, priorizando o diálogo em vez da violência. Exige reconhecer a humanidade do outro, sem ignorar nossa própria dor.
30 anos depois, Oslo nos lembra que a paz, embora desafiadora, é possível. O Comitê Nobel não celebrou uma paz perfeita, mas reconheceu um processo histórico – uma jornada que deve continuar.
Para Israel, os palestinos e todas as nações marcadas por conflitos, a mensagem de Oslo permanece: existe outro caminho. Não um caminho de guerra perpétua, mas de coexistência e reconhecimento mútuo. Líderes com visão e coragem podem traçá-lo.
À sombra de 7 de outubro e em meio à turbulência regional, devemos reviver o espírito de Oslo – não para repetir erros, mas para reacender sua esperança. Precisamos de uma liderança que escolha a diplomacia, crie oportunidades de diálogo e ofereça às futuras gerações uma chance de paz. O caminho é difícil, mas, como Oslo mostrou, não é impossível.
Agora, como antes, a escolha é nossa.
Revital Poleg, ex-diplomata israelense, trabalhou com Shimon Peres durante os Acordos de Oslo. É colaboradora do Instituto Brasil-Israel (IBI) e membro do Fórum Dvorah, em Israel.
Esse texto não reflete necessariamente a opinião do Instituto Brasil-Israel.
(Foto: Flickr/GPO)