Daniela Kresch
TEL AVIV – No tabuleiro global das finanças, cada movimento de uma nação é observado, analisado e, finalmente, julgado por quem é capaz de influenciar investidores em todo o mundo. Esta semana, uma das “Três Grandes” agências de classificação de risco de crédito, a Fitch, rebaixou a nota de crédito de Israel de A+ para A, alertando uma perspectiva negativa em relação ao país. Isso é mais do que apenas um rebaixamento; é uma luz vermelha para investidores. As outras duas agências, Standard & Poor’s e Moody’s, já haviam rebaixado a nota de Israel.
Uma nota de crédito não é apenas um número. É uma declaração sobre confiança, credibilidade e risco. Quando a classificação de um país cai, é um sinal de que emprestar para essa nação é mais arriscado. Os investidores começam a exigir taxas de juros mais altas para compensar o risco. Ou decidem simplesmente não investir nesse país.
A decisão da Fitch foi baseada nos riscos geopolíticos de Israel. Guerra contra o Hamas, conflito de atrito contra o Hezbollah, possível novo ataque do Irã… A Fitch prevê que toda essa tensão pode se arrastar até 2025 em meio ao risco de uma guerra regional ainda mais ampla.
Mas não foram só as questões militares que motivaram esse rebaixamento. A Fitch destacou as questionáveis decisões do atual governo israelense, principalmente a incapacidade de implementar as reformas financeiras necessárias para mitigar os impactos econômicos da guerra. A política de coalizão, a instabilidade política e as exigências militares estão estrangulando a flexibilidade fiscal de Israel. A Fitch adverte que até mesmo as modestas medidas de consolidação fiscal planejadas, como um aumento de 1% no Imposto de Valor Agregado (IVA), podem não acontecer.
A visão da Fitch não é muito otimista. A agência prevê que o déficit orçamentário de Israel aumentará para 7,8% do PIB em 2024, com a dívida ficando acima de 70% do PIB no futuro próximo. Em 2025, essa relação dívida/PIB pode chegar a 72%, superando até mesmo os níveis máximos vistos durante a pandemia de COVID-19. E se os gastos militares continuarem a subir, o que provavelmente acontecerá, a trajetória da dívida de Israel pode sair ainda mais de controle.
Olhando para 2025, a Fitch prevê um déficit orçamentário de 4,6% do PIB, abaixo dos 7,8% previstos para 2024, mas ainda preocupante. Esse déficit menor pressupõe algum alívio nos gastos militares e uma recuperação no crescimento da receita, mas a ressalva é clara: se a guerra continuar, o problema fiscal também continuará.
Mas o problema não é só fiscal, claro. A Fitch também apontou para problemas na governança do país, na estabilidade política e no status do Estado de direito. Tudo isso é uma ameaça real à saúde econômica de Israel. Talvez a maior ameaça. À medida que a governança enfraquece, também diminui a confiança dos investidores, e com ela, o perfil de crédito do país.
A agência Fitch deixou uma janelinha de esperança aberta: o governo de Israel precisaria provar que pode superar o impasse político e implementar as medidas difíceis necessárias para estabilizar a economia. Mas será que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu seria capaz de liderar o país em direção a uma reconciliação? Isso significaria abrir mãos de companheiros de coalizão que têm feito de tudo para dividir o país e/ou canalizar recursos apenas para certos setores da sociedade.
O atual governo parece agir exatamente contra tudo o que a Fitch alerta. As tentativas de reforma judicial para enfraquecer a Suprema Corte (e a democracia), a insistência quanto a uma “vitória final” contra o Hamas (adiando um cessar-fogo que traga de volta os 115 reféns no cativeiro do Hamas), a verborragia conta a oposição e contra as próprias forças de segurança do país (acusando-as de “traição”), o aumento do orçamento para certos setores (justamente os que não se importam em servir no exército ou desafiam o mundo ao agir em prol da anexação de territórios ocupados) não ajudam nem um pouco.
Diante da decisão da Fitch, o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, obviamente minimizou a medida, dizendo que um rebaixamento é “natural” em meio a uma guerra e que a economia de Israel vai se recuperar seguindo “medidas responsáveis” que ele planeja promover. Ele, claro, disse que fará tudo “com ajuda de Deus”. Smotrich não esconde seu desprezo por organizações internacionais – ou pela comunidade internacional em geral. Não é segredo que ele acha que os israelenses só precisam mesmo é rezar mais para tudo dar certo.
O contador-geral de Israel, Yali Rothenberg, disse que a economia israelense é forte o suficiente para enfrentar a tempestade. Mas ele mesmo disse que Israel deve agir rapidamente para restaurar a confiança interna e externa.
No final das contas, a nota de crédito de Israel é mais do que apenas uma métrica financeira. É um reflexo da capacidade do país de navegar em um cenário perigoso, equilibrando as demandas da guerra, da governança e da estabilidade econômica. O mundo está observando, e os riscos não poderiam ser maiores. Enquanto este governo – o mais direitista, religioso e com elementos fanáticos da História de Israel – estiver no poder, não fica claro se Israel irá conseguir se manter flutuando ou se afundará de vez.
Esse texto não reflete necessariamente a opinião do Instituto Brasil-Israel.
(Foto: Reprodução/Pixabay)