Revital Poleg
A sessão de verão da Knesset começou esta semana. Isso ocorreu após um recesso do qual os parlamentares decidiram não desistir. Essa decisão foi tomada apesar da realidade complicada em que Israel se encontra e da multiplicidade de questões urgentes na pauta.
No âmbito político israelense, que nunca está isento de tempestades, parece que estamos entrando em uma nova fase de crise política. Será esta a última sessão da Knesset atual?
A aparição pública do Ministro da Defesa, Yoav Gallant, há alguns dias, e suas críticas fortes e abertas contra o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e a política que ele conduz, que é contrária às recomendações do gabinete de guerra limitado e do próprio exército, são nada menos do que a colocação de uma mina política na frente de Netanyahu e de seu governo de extrema direita.
Gallant, que é considerado um homem forte dentro da atual coalizão, mas um “peixe fora d’água” que vê o bem do país à frente de seus interesses pessoais e políticos, advertiu Netanyahu com coragem e com palavras bem duras na semana passada. Ele afirmou que a recusa de Netanyahu em discutir a natureza do “dia seguinte” e o estabelecimento de um governo alternativo ao Hamas na Faixa de Gaza – incluindo a participação da Autoridade Palestina nessa missão – poderia prejudicar as conquistas militares das Forças de Defesa de Israel até agora na guerra e envolver Israel em um conflito ainda mais perigoso, longo e caro, tanto em termos do preço em vidas humanas quanto do impacto econômico, que afetará gravemente Israel.
No sábado à noite, foi Benny Gantz, presidente do Partido Unidade Nacional, quem deu um ultimato a Netanyahu e a todo o governo: se não houver mudanças nos planos de ação e na forma de tomada de decisões na guerra e nas ações para a libertação dos reféns do Hamas até 8 de junho, o seu partido se retira do governo. Ele também acusou Netanyahu de forma categórica de priorizar considerações políticas e pessoais em detrimento das necessidades do país.
A data mencionada por Gantz não é não é por acaso. Até lá, deverá ser discutida na Knesset a “Lei da Igualdade de Fardo no Alistamento”, que trata do recrutamento de ultraortodoxos para as Forças de Defesa de Israel, em resposta às necessidades urgentes do exército e à evasão generalizada do setor ultraortodoxo. Esta é certamente uma “batata quente” política por si só. No público israelense, que desde 7 de outubro serve na reserva há meses na guerra, participa dos combates e arrisca sua vida, há grande indignação contra os partidos ultraortodoxos que se opõem à mudança da lei e contra Netanyahu, que, como de costume, está disposto a priorizar a sobrevivência do governo em vez de responder a uma necessidade tão urgente.
Entretanto, Gantz anunciou que a data que estabeleceu como ultimato para sua retirada do governo “não é sagrada” e que consideraria antecipá-la..
Netanyahu, por medo de perder o poder, é mantido “cativo” pelos membros mais extremistas de seu governo, Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich, ambos ministros. Desde que o atual governo foi estabelecido em janeiro de 2023, o foco principal do primeiro-ministro tem sido garantir a própria continuidade no poder. Isso o levou a promover a perigosa reforma judicial e a conceder poderes altamente delicados e estratégicos nas mãos desses extremistas, que nunca sonharam que teriam a oportunidade de implementar suas políticas radicais com tanta facilidade.
Desde o dia 7 de outubro, essa abordagem adotada por Netanyahu se intensificou ainda mais, assim como o extremismo dentro de seu governo, devido ao temor do colapso do governo que trouxe ao povo de Israel o maior desastre que já conheceu desde sua fundação. Era de se esperar que ele renunciasse, mas ele nem sequer assumiu a responsabilidade pelo que aconteceu. Não é à toa que ele teme. De acordo com pesquisa realizada pelo Geva Institute para o Channel 12, publicada há alguns dias, 61% do público acredita que Netanyahu age apenas com base em considerações políticas e pessoais, e não nacionais.
O significado político da posição do público é claro para Netanyahu: seu tempo político está contado. Ele fará de tudo para não deixar o cargo. No entanto, a atual postura pública de Gallant, Ministro da Defesa e membro de seu partido, e de Gantz, membro da oposição que se juntou ao gabinete de guerra apenas para garantir que ele seja conduzido de maneira responsável e profissional, muda o cenário.
Quão frágil é a situação do governo? Não muito. Com 64 membros (incluindo Gallant, que anunciou não ter intenção de renunciar), eles ainda são a maioria. Isso apesar do descontentamento e das diversas críticas por parte de muitos membros do Likud, que também acreditam que Netanyahu está preocupado apenas com sua própria sobrevivência. No entanto, eles não expressam isso em voz alta, apenas nos bastidores.
Netanyahu, por sua vez, rejeitou de imediato todas as declarações de Gallant e Gantz, chegando a definir suas propostas como um passo para a criação de um “Hamastão” ou “Fatahstão”, algo que ele não permitirá, enquanto repete o slogan vazio de “guerra até a vitória”, sem que esteja claro o que essa vitória realmente significa. Além disso, Netanyahu sempre foi e ainda é conhecido por suas manobras políticas. Ele sabe “enquadrar o círculo” e certamente pode apresentar ideias com as quais ambos os lados “podem viver” – Ben Gvir e Smotrich devido à sua relutância em abrir mão do poder, e Gantz por sua preocupação verdadeira em deixar as decisões nas mãos de Netanyahu e dos extremistas.
No entanto, o trem da crise política já deixou a estação e não vai parar. O público, que já está nas ruas há muitas semanas exigindo a sua renúncia e a convocação de novas eleições o mais rápido possível, mesmo durante a guerra está crescendo. O que vai acontecer? Ainda é cedo para avaliar, mas uma coisa é certa: teremos um verão quente, até mesmo escaldante, e não apenas por causa da temperatura.
Este texto não reflete necessariamente a visão do Instituto Brasil-Israel.
Foto: U.S. Secretary of Defense/WikimediaCommons