O ataque iraniano a Israel: uma observação sobre o elemento humano israelense

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Revital Poleg

Uma noite longa e extremamente tensa caiu sobre todos os israelenses de sábado para domingo, 13 a 14 de abril, pelo medo de um ataque direto sem precedentes do Irã contra Israel, que de fato se materializou.

De fato, fomos “avisados” com antecedência. Desde o assassinato do oficial iraniano Muhammad Reza Zahdi em Damasco, o Irã vinha ameaçando com uma resposta retaliatória de grande escala. Apesar das medidas de preparação avançadas — tanto pelas nossas forças de defesa, inequivocamente apoiadas por nossos aliados liderados pelos EUA, quanto no front interno, com instruções preventivas ao público —, a realidade da ameaça tornando-se concreta  foi extremamente alarmante.

Imagine a tensão que dominou milhões de israelenses, que ficaram horas a fio diante das televisões, acompanhando as notícias de que centenas de drones e mísseis de cruzeiro foram lançados pelo Irã em direção a Israel. Visualize a ansiedade crescendo a cada hora que passa, enquanto eles verificam o relógio para ver se duas horas se passaram desde o lançamento — o momento em que os mísseis poderiam detonar — ou nove horas desde que os drones foram lançados, sem saber onde poderiam cair e quais seriam os possíveis danos.

Imagine inúmeros israelenses espiando ansiosamente de suas janelas, temendo uma “chuva” súbita de mísseis. Pense nos pais tendo que explicar aos filhos que eles precisam passar mais uma noite em um abrigo porque alguém está tentando feri-los. Imagine o medo voltando a invadir a psique dessas crianças, que já vivenciaram esse terror várias vezes nos últimos meses.

Esses são apenas alguns exemplos das intensas experiências emocionais enfrentadas pelo povo israelense, tanto no nível pessoal quanto no nacional, ao longo dos anos. Experiências que só foram possíveis de enfrentar graças à resiliência notável que os caracteriza. Este relato é apenas uma amostra de uma realidade quase inimaginável para qualquer nação e seus cidadãos. As experiências, marcadas por uma necessidade excepcional de resiliência, são exemplificadas pelo recente ataque iraniano, um evento que poderia ter tido consequências muito diferentes.

No momento em que estas palavras são escritas, a vida voltou ao seu curso. Esta é uma afirmação relativa, então vou qualificá-la: desde 7 de outubro, a vida em Israel não voltou à normalidade habitual. Agora, após o ataque iraniano, está claro para nós que Israel está em um ponto de mudança que representa uma escalada significativa tanto nas realidades regionais quanto globais. Se você quiser, isso é o novo anormal, porque não há nada normal sobre essa realidade.

Na “Noite dos Mísseis Iranianos”, Israel alcançou um sucesso operacional significativo, ao lado da complexidade estratégica que ainda enfrenta. Parte substancial desse sucesso é atribuída à tecnologia notável desenvolvida principalmente por Israel, incluindo nossos sistemas de defesa aérea e terrestres. No entanto, isso por si só não é suficiente.

É importante lembrar que por trás de cada peça de tecnologia bem-sucedida, há muitas pessoas que a tornam possível. Sem o nosso notável elemento humano, nada disso teria sido possível.         A defesa tecnológica na qual confiamos fortemente, a ponto de reduzir o elemento humano de dissuasão, foi um dos fatores que nos levou a subestimar a ameaça de Gaza, até que ela explodisse em nossa cara em 7 de outubro. Felizmente, aprendemos e até aplicamos essa lição em resposta à ameaça iraniana.

O fator humano também terá um peso considerável na estratégia que Israel escolherá adotar em resposta ao ataque iraniano, influenciando também a natureza das decisões que se seguem. Qualquer reação de Israel terá implicações abrangentes. A ousadia do Irã e sua capacidade de retaliar contra Israel, apesar dos significativos avisos norte-americanos, é um testemunho de sua coragem, que não deve ser subestimada. Pela primeira vez, o Irã ousou “atravessar o Rubicão”, expondo-se abertamente e confrontando diretamente Israel, em vez de usar seus proxies como costumava fazer. Não é de admirar que o Irã sinta um novo senso de poder, apesar de ter sofrido uma derrota significativa neste ataque.

Por outro lado, o sucesso fenomenal de Israel em interceptar até 99% dos mísseis e drones lançados contra si, com danos muito menores e mínimos prejuízos físicos, é uma conquista impressionante por qualquer medida. 

É aqui que uma luz de alerta deve acender: a satisfação com os resultados do combate abre a porta para erros de cálculo. Quando a satisfação é mútua (tanto iraniana quanto israelense), o perigo é ainda maior. O público israelense já sofreu o suficiente com erros de cálculo na tomada de decisões e com um senso de segurança que se mostrou infundado. Não podemos permitir que isso aconteça novamente.

A bola está agora no campo de Israel. A liderança da nação será sábia o suficiente para tomar as decisões corretas em resposta ao ataque iraniano? Esta é uma pergunta complexa, e a resposta, neste caso, vem de um nível emocional: esperamos que sim! O nosso fator político humano atual é problemático, e a confiança pública nele está mais baixa do que nunca. Esperamos que eles formulem sabiamente o cenário futuro desejado e benéfico para nós.

Na “Noite dos Mísseis Iranianos”, Israel agiu pela primeira vez como parte de uma coalizão. Além de sua contribuição para o combate operacional, esta foi a primeira coalizão deste tipo para Israel, incluindo não apenas nossos parceiros naturais como os EUA, o Reino Unido e a França, mas também a Jordânia e a Arábia Saudita. Em um momento em que Israel havia perdido significativamente o apoio internacional devido à guerra em Gaza, a importância e a oportunidade desta coalizão tornaram-se ainda mais evidentes, potencialmente oferecendo uma solução tanto para o conflito israelense-palestino, como para nossa luta contra o Hamas. Seremos sábios o suficiente para aproveitar isso? Esperamos que sim!

O elemento humano é crucial em todas as esferas — desde o social e pessoal ao militar, político e internacional. Ao navegarmos por esses tempos turbulentos, fica claro que, além da tecnologia e das táticas, a qualidade do julgamento humano e da liderança moldará nosso caminho a seguir e influenciará nossas capacidades de resiliência. Em uma realidade tão complexa quanto a de Israel, nós, e especialmente nossos líderes, devemos lembrar que as decisões, tanto aquelas tomadas quanto aquelas que são conscientemente não tomadas, impactam diretamente a vida e o futuro das pessoas, tanto dentro de Israel quanto além. O recente ataque iraniano deve nos servir como uma lição que transcende a mera ação militar, importante  que seja. Reconhecer e valorizar o elemento humano, e a responsabilidade que ele exige de nossos tomadores de decisão, pode ser a chave para garantir um futuro mais estável e pacífico em nossa região.

Este texto não reflete necessariamente a visão do Instituto Brasil-Israel.

Foto: WikimediaCommons

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