Revital Poleg
Uma nova pesquisa do Israel Democracy Institute nos dá uma informação bem interessante sobre a posição do público israelense em relação a um assunto político crucial: “Quando devem realizar-se as próximas eleições em Israel?” Na opinião de 69% dos entrevistados, as eleições devem ser realizadas imediatamente após o fim da guerra (incluindo 66% dos judeus e 84% dos árabes). Entre os judeus de esquerda, há um consenso total sobre essa questão (98,5%), e quase todos no centro também concordam com isso (85%). Pela direita, cerca de metade deseja que as eleições ocorram após a guerra (51,5%). Embora a pergunta se referisse a cenários pós-guerra, esses dados nos mostram mais sobre o sentimento público atual e refletem significativa falta de confiança no governo atual.
Os resultados representam de fato uma realidade bastante distinta daquela conhecida por Israel ao longo de 75 anos de existência. Durante todas as guerras anteriores de Israel, o apoio do público ao governo foi amplo, mesmo se o governo na época não fosse muito popular, e o debate político ficou restrito ao “dia após a guerra”. Mais ainda, nas eleições realizadas dois meses após a Guerra do Yom Kippur (1973), apesar do fracasso significativo que levou à sua eclosão, do luto amplo e do protesto público que se seguiu, o Partido Trabalhista, liderado por Golda Meir, ganhou de novo a maioria e até formou o governo (do qual Golda renunciou, por sua própria escolha, após a publicação das conclusões da Comissão Estadual de Inquérito).
A realidade atual, como vemos, é bem diferente, e a política está presente no debate público mesmo durante a guerra. Então, o que mudou desta vez?
Como lembramos, na véspera do ataque do Hamas, Israel estava no meio da revolução jurídica, liderada por Netanyahu. Contra a proposta, houve enormes protestos públicos, que duraram 40 semanas consecutivas e afetaram toda a sociedade israelense. Na realidade anterior, podemos presumir que o protesto também ocorreria na noite de sábado, 7 de outubro, pela 41ª semana. Mas, aconteceu o ataque do Hamas, e nossa vida mudou completamente.
A transição brusca e imediata da sociedade israelense de um estado de protesto contra o governo e uma ruptura social para um modo de emergência e defesa do país não é pouca coisa. O recrutamento maciço para as reservas, realizado no mesmo dia do ataque bárbaro do Hamas, e a enorme, impressionante e multifacetada atividade voluntária do público, e as iniciativas sociais inspiradoras que se desenvolveram de imediato em resposta às muitas necessidades geradas pelo ataque e pela guerra que se seguiu, são uma expressão da extraordinária resiliência que caracteriza a sociedade israelense. E, sim, isso aconteceu contra todas as chances e probabilidades, se levarmos em conta o ponto de partida no qual estávamos.
É importante entender que a mobilização do público israelense, seja para as reservas ou para atividades voluntárias, é, antes de tudo, em prol da sociedade, do país, do lar e da família de cada um de nós, e não é uma mobilização com motivação política. Isso significa que as mesmas preocupações que parte do público tinha com o atual governo não desapareceram, mas simplesmente foram deixadas de lado, à luz das circunstâncias, até que os desafios existenciais que enfrentamos hoje sejam resolvidos. Não apenas isso, mas muitos outros que não estavam envolvidos na manifestação contra o governo, ou sequer se opunham a ela, tornaram-se opositores do governo, à luz do que acabou sendo o maior desastre vivido pelo estado de Israel desde sua criação, que afeta todo e qualquer cidadão do país em vários sentidos.
É aqui que se torna relevante examinar os resultados da pesquisa em resposta à seguinte pergunta: “Alguns preveem que, no final da guerra, surgirá uma grande onda de protestos civis em Israel exigindo que os responsáveis políticos e militares pelo fracasso de 2023 sejam responsabilizados. Você participaria desse tipo de protesto?”. Parece que o público está dividido quanto a essa questão: A mesma porcentagem de entrevistados acredita que participará de um futuro protesto (44%) e que não participará (43%). Nessa pergunta, quase não há diferença entre judeus e árabes: de acordo com a pesquisa, 44% dos judeus e 46% dos árabes participarão do protesto).
Se analisarmos a fundo os dados, parece que foram detectadas grandes discrepâncias entre os campos políticos e a afiliação no continuum ultraortodoxo-secular: A maioria da esquerda (85%) e do centro (60%) indicaram que participariam do protesto, em comparação com a minoria da direita (29%). Cerca de dois terços dos seculares (63%) estimam que participarão desse tipo de protesto no futuro, em comparação com quase metade dos tradicionalistas (47%) e apenas uma pequena minoria (8%) dos ultraortodoxos.
Embora a resposta verdadeira para isso dependa também dos resultados da guerra e das circunstâncias que definirão o “dia seguinte”, esses dados refletem a mentalidade do público neste momento e, de qualquer forma, são mais altos do que os dados da efetiva participação que vimos no protesto contra a revolução jurídica, que ocorreu antes da guerra. Não há dúvida de que o público israelense passou por uma agitação sem precedentes, que ainda está cobrando seu preço, independentemente de afiliação ou preferências políticas, e isso se reflete nas respostas à pergunta da pesquisa.
Outra pergunta feita na pesquisa é, em grande parte, a mais importante na realidade atual e pode afetar quaisquer outras posições da sociedade israelense, inclusive os dados apresentados acima: “Acredita que Israel conseguirá retornar todos os sequestrados?” A maioria do público – 55,1% – acredita que as chances são bastante baixas ou muito baixas. Apenas 35,5% acreditam que as chances são razoavelmente boas ou até grandes. Essa resposta atesta, em primeiro lugar, a enorme preocupação existente no coração da sociedade israelense quanto ao futuro dos sequestrados, que constitui uma ferida aberta para todos nós. Com todo o caos causado pelo ataque do Hamas e da guerra que o seguiu, a questão dos sequestrados é a mais difícil para a sociedade israelense e impossível de ser “digerida”. Quanto mais trágicos forem os resultados da libertação dos sequestrados, maior será a dor que a sociedade israelense enfrentará. Se, Deus nos livre, isso acontecer, o dedo acusador, que já está apontado contra a liderança política, será apontado contra ela com muito mais força e também afetará diretamente a realidade política quando esse dia chegar.
Foto: Lizzy Shaanan/WikimediaCommons