Revital Poleg
Na segunda-feira, 20 de novembro, é celebrado o Dia Mundial da Criança. Um dos objetivos desse dia é aumentar a consciência sobre os direitos das crianças no mundo todo.
Em dias nos quais 39 bebês, crianças, jovens e adolescentes de até 16 anos de idade foram raptados de suas casas e mantidos reféns por uma organização terrorista cruel e impiedosa, nos dias em que ficamos sabendo de uma mulher que deu à luz em Gaza a um bebê em condições de cativeiro, um bebê que não teve direito a um único dia de liberdade e à luz do sol, o Dia dos Direitos da Criança, no melhor dos casos, é uma piada triste.
Há uma amarga ironia na celebração do Dia Internacional dos Direitos da Criança. No cenário mais realista, esse dia se torna uma manifestação sarcástica e cínica da hipocrisia global, revelando o enfoque seletivo e a cegueira moral das organizações responsáveis por fornecer ajuda humanitária. Organizações que, por definição, têm a missão de lutar contra ações que, de acordo com o direito internacional, são definidas como crimes contra a humanidade.
Em uma realidade mais justa, uma campanha internacional para libertar as crianças sequestradas teria inundado o mundo ocidental, lotando as ruas e estimulando protestos em todos os parlamentos e meios de comunicação. No entanto, com poucas exceções, a maioria permaneceu em silêncio, sem expressar nenhuma manifestação contrária aos atos hediondos. Se fosse uma realidade justa, as organizações humanitárias internacionais exerceriam imensa pressão sobre o Hamas, insistindo para que pelo menos permitissem visitar as crianças e fornecer-lhes atendimento médico, mas não o fizeram. O silêncio dessas organizações é estrondoso, silêncio que parece igual a permitir o derramamento do sangue dessas crianças e dos outros sequestrados.
Por mais de seis semanas desde o ataque terrorista do Hamas a Israel, nenhum representante da Cruz Vermelha Internacional visitou as crianças sequestradas (ou qualquer outro sequestrado). Em resposta a uma pergunta do jornal YNET, a porta-voz da Cruz Vermelha Internacional, Alyona Synenko, explicou que eles se comunicam com o Hamas de várias maneiras em Gaza e fora dela, mas, como organização humanitária internacional, não podem se impor a eles, a menos que permitam sua entrada. Stephen Ryan, porta-voz da Cruz Vermelha em Israel, explicou que eles não foram autorizados a entregar os medicamentos enviados para as crianças sequestradas. Considero difícil entender a facilidade insuportável com que a Cruz Vermelha cede ao terror e não insiste em cumprir sua missão.
Ademais, a diretora geral do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Catherine Russell, cancelou inesperadamente sua visita planejada a Israel após concluir sua visita a Gaza. Em Israel, ela deveria se reunir com as famílias dos sequestrados pelo Hamas, principalmente com as famílias cujos filhos foram sequestrados. Durante sua visita a Gaza, ela se reuniu com crianças e famílias e, de lá, criticou Israel. O lema da UNICEF é “para todas as crianças”, mas, aparentemente, isso não inclui as crianças israelenses.
Já em 1989, a Assembleia das Nações Unidas formulou a Convenção dos Direitos da Criança e até mesmo estabeleceu o Comitê dos Direitos da Criança (CRC) que monitora e informa sobre sua implementação.
Um dos artigos da convenção afirma explicitamente que os direitos especificados nela devem ser respeitados e garantidos, sem discriminação e sem referência a características de religião, raça, gênero, idioma etc. Porém, na prática, há uma discrepância entre a convenção e a forma como é implementada no caso das crianças israelenses.
É importante notar que a comissão recebeu informações detalhadas do Ministério das Relações Exteriores de Israel sobre as crianças sequestradas, mas até hoje não considerou necessário exigir sua libertação
20 de novembro talvez seja o Dia Internacional dos Direitos da Criança, mas, como se vê, lamentavelmente, não é o Dia dos Direitos da Criança israelense.
Devemos lembrar que o terrorismo não tem fronteiras. Esse foi o caso do ISIS e da Al-Qaeda, os quais o Hamas considera como seu modelo. Se a comunidade internacional não se esforçar para erradicar essas organizações, o sequestro das crianças e as outras atrocidades cometidas pelo Hamas poderão chegar até ela também.
Por ocasião do Dia Mundial da Criança, o sino das escolas foi alterado em Israel e uma canção sobre a volta para casa foi tocada sob ele. O dia escolar inteiro foi dedicado à conversa sobre a situação das crianças sequestradas e às atividades relacionadas à expectativa e à esperança do retorno delas a suas famílias e lares, sãs e salvas. Tal como diz a letra do famoso cantor Shlomo Artzi: “Nossos olhos já secaram de lágrimas, e nossas bocas ficaram em silêncio, sem voz. O que mais podemos pedir? Já pedimos quase tudo. Dê-nos chuva apenas em sua estação e, na primavera, espalha flores para nós e, por favor, deixe-nos ver ele de novo, não precisamos mais do que isso”.
Foto: Ilan Costica/WikimediaCommons