A crise humanitária e a responsabilidade do Hamas

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Daniela Kresch

TEL AVIV – A preocupação com uma crise humanitária na Faixa de Gaza é o assunto que mais ocupa as manchetes dos jornais e TVs em todo o mundo. E Israel, obviamente, é o vilão, não os terroristas do grupo palestino Hamas. Isso depois do assassinato bárbaro de cerca de 1.400 pessoas em Israel no dia 7 de outubro de 2023 por milhares de terroristas e o sequestro de 240 pessoas – incluindo 30 crianças e 18 idosos – de diversas nacionalidades pelo Hamas. 

O massacre, com uma crueldade ímpar, chocou muita gente. Afinal, não é todo dia que informações, imagens e vídeos de bebês decapitados e queimados, mulheres estupradas e famílias inteiras exterminadas chegam aos olhos e ouvidos das pessoas.

Mas a chacina foi rapidamente empurrada para segundo lugar na cobertura jornalística internacional, para a qual, mesmo atacado, o Estado de Israel deveria continuar a fornecer comida, água e combustível para o território de onde se retirou em 2005 e que é hoje controlado como mão de ferro pela teocracia do Hamas, entidade que não reconhece Israel e que tem como objetivo aberto a destruição de Israel e dos judeus como um todo.

A crise humanitária em Gaza se tornou a história mais urgente principalmente porque Israel anunciou que estancaria a transferência de água e eletricidade para o Norte de Gaza, onde fica o quartel-general do Hamas (num bunker embaixo do Hospital Shifa, na Cidade de Gaza) e onde estão os principais túneis subterrâneos usados como esconderijo e contrabando de armas e pessoas que o Hamas construiu nos últimos 15 anos – com financiamento do Irã, do Catar e de ONGs de direitos-humanos incautas – embaixo de casas, hospitais, escolas e mesquitas.

Imediatamente, o temor de que os palestinos de Gaza morressem de fome e de sede ocupou a imaginação mundial. E Israel se tornou – como sempre se torna, para muita gente – o grande vilão da história. O Hamas não teria responsabilidade nesta crise.

Essa imagem, é claro, foi auxiliada por comentários infelizes de líderes do atual governo de Israel que, por choque e raiva, disseram coisas que tinham como objetivo responder a pedidos de vingança de seus eleitores – e também de pressionar o Hamas a soltar os reféns. Em 9 de outubro, dois dias depois do massacre, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, afirmou que havia ordenado “um cerco completo” a Gaza e que “não haveria eletricidade, nem alimentos, nem combustível” entrando no território. O ministro da Energia, Israel Katz, disse ter instruído o corte do abastecimento de água imediatamente.

Com autoridades como essas, quem precisa de inimigos, certo? 

Mas, aos poucos, foi ficando claro que, mais além das bravatas de políticos, Israel estava negociando com Estados Unidos e Egito – que também faz fronteira com Gaza (que ninguém se esqueça) – o fornecimento de mantimentos básicos para o Sul de Gaza, para onde Israel clamou os civis para se deslocarem. Israel não fazia oposição alguma a isso. Só colocava como condição que os caminhões com comida e mantimento fossem vistoriados para evitar contrabando de armas.

No dia 21 de outubro, os primeiros caminhões entraram em Gaza. Já foram cerca de 190. Mas ainda há quem tema a crise humanitária e acuse Israel de deliberadamente negar aos civis palestinos água, eletricidade e combustível. Tudo isso, claro, pinta uma imagem terrível de Israel e, ecoado por canais de TV como a Al Jazeera, a BBC e até mesmo a CNN, sem contar agências da ONU, explica o aumento exponencial no número de eventos antissemitas no mundo, desde 7 de outubro.

Para colocar tudo isso em perspectiva, destaco abaixo informações às quais tive acesso e que considero de extrema importância compartilhar. Não vou divulgar as minhas fontes, mas confio plenamente nelas. 

·       Antes do ataque do Hamas, Israel fornecia bens, combustível, água e eletricidade para Gaza muito além do que suas obrigações legais, haja vista que Gaza está, desde 2007, sendo controlada por uma entidade que se define como “inimiga” de Israel e que Gaza também faz fronteira com o Egito. Isto ocorreu durante anos, mesmo face aos contínuos lançamentos de foguetes e mísseis do Hamas e da Jihad Islâmica contra Israel. O primeiro desses ataques foi em 2001. São 22 anos de ataques aéreos contra Israel.

·       Antes de 7 de outubro, Israel fornecia 18 milhões de metros cúbicos de água por ano para Gaza. É bastante, mas é apenas 7,7% de toda a água consumida por Gaza. O restante é produzido em usinas de dessalinização ou bombeado de aquíferos locais de Gaza. É certo que, por muitos motivos internos em Gaza (entre eles, o roubo de canos e outros materiais pelo Hamas para construir foguetes), parte da água não é potável. De qualquer forma, no dia 28 de outubro, Israel abriu duas condutas de água para Gaza, elevando o abastecimento total de água para 28,5 milhões de litros de água potável por dia. Minha fonte assegura que não há falta de água na Faixa de Gaza.

·       No primeiro dia do massacre, o Hamas destruiu deliberadamente 9 das 10 linhas elétricas que eram utilizadas para fornecer energia de Israel a Gaza. Isso para depois acusar Israel de não suprir eletricidade. 

·       O Hamas também danificou, ele mesmo, os postos de fronteira de Erez e Kerem Shalom, por onde passavam 500 caminhões diários com mantimentos para Gaza. Isso, claro, complica qualquer esforço para enviar alimentos e mercadorias de Israel para a Faixa. Aliás, não foi a primeira vez que grupos terroristas de Gaza bombardearam os postos de fronteira com Israel. E claro, depois, culpam Israel do fechamento desses postos.

·       O Hamas tem uma reserva de aproximadamente 1 milhão de litros de combustível, mas recusa-se a distribuí-la à sociedade civil. A UNRWA admite que palestinos que se afirmavam pertencerem ao “Ministério da Saúde” (isto é, Hamas) roubaram o seu combustível e equipamento médico no dia 16 de outubro de 2023.

·       Desde 2021, Israel autorizava a entrada de 18.500 palestinos de Gaza em Israel para trabalhar. Houve um aumento de 34% na renda dos habitantes de Gaza que trabalham em Israel e 2,7% na taxa de emprego de Gaza. Mesmo assim, o Hamas decidiu atacar Israel. Não se importa com melhorar a economia de Gaza.

·       Havia vários projetos sendo estudados para cooperação ou distensão econômica em Gaza. O mais conhecido dele era o Gás para Gaza (G4G), um projeto que facilitaria a construção de um gasoduto partindo da rede de gás israelense diretamente até a central elétrica de Gaza. Não sei em que pé isso ficará, agora.

A questão da crise humanitária em Gaza é complicada, como tudo por aqui é. Mas, antes de gritar aos quatro ventos que Israel é o mal absoluto, sempre vale a pena buscar mais informações ou pelo menos entender que organizações terroristas como o Hamas não têm o bem-estar de seus conterrâneos em mente. Nunca.

Foto: Flickr/David Berkowitz/CreativeCommons

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