O espírito de solidariedade: a “arma secreta” da sociedade israelense

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Revital Poleg

Já se passaram quase duas semanas (e está longe do fim) e a plena dimensão do terrível ataque do Hamas, a organização terrorista fundamentalista, que começou no sábado, 7 de outubro, está ficando mais clara a cada dia que passa.

Embora não seja possível evitar questionar como Israel foi pego de surpresa, analisar devidamente e extrair severas conclusões, e quanto mais cedo melhor, uma coisa fica bem clara a todos nós: quem revelou a sua grandeza nestes dias de desastre ao povo de Israel foi o próprio povo de Israel.

Sim, o povo de Israel, que até duas semanas atrás estava dividido como nunca antes, depois de dez meses de uma grande fenda interna gerada pela reforma judicial liderada pelo atual governo, é o verdadeiro herói desse desastre sem precedentes. São eles que, de novo, provaram a grandeza do espírito de solidariedade israelense, que continua a se mostrar em momentos de verdade e que é tão singular em nós, espírito que é, em muitos sentidos, “a arma secreta” de Israel.

Apenas algumas horas após a eclosão do ataque selvagem do Hamas, literalmente todos os israelenses na idade da reserva militar, assim como muitos outros que já passaram dela, se apresentaram à frente do exército. Pilotos, combatentes, oficiais, soldados, sejam eles manifestantes contra governo ou apoiadores dele, homens, mulheres, de direita, da esquerda e muito mais. Inclusive milhares, estando em diferentes partes do mundo, encurtaram a viagem e retornaram imediatamente a Israel em voos especiais organizados com a ajuda de filantropos, a fim de se juntarem ao serviço de reserva.

Talvez discutamos vigorosamente internamente, mas, quando enfrentamos nossos inimigos, deixamos de lado nossas divergências.

Simultaneamente, centenas de milhares de israelenses de todo o mosaico da sociedade, imediatamente se mobilizaram de forma extraordinária com suas próprias iniciativas, arregaçaram as mangas e iniciaram projetos inspiradores de voluntariado, todos destinados a ajudar a população afetada pelo ataque e os círculos ao seu redor.

Muitos se apressaram para doar sangue, assumindo, com razão, que haverá grande necessidade disso. Outros abriram suas casas e corações para as famílias sobreviventes do ataque na região sul, que ficaram sem absolutamente nada. E fizeram isso sem conhecer as famílias e sem perguntar quem são, mas apenas por precisarem ser ajudadas.

As organizações de protesto, que apenas alguns dias atrás marcharam em manifestações contra o governo, colocaram toda a sua infraestrutura e a incrível capacidade humana e tecnológica de seus membros a serviço das necessidades dos cidadãos e soldados, e estabeleceram centros de logística avançados, únicos em seu gênero, que respondem a uma ampla gama de serviços e necessidades, desde os mais simples, como o fornecimento de novos óculos, coleta de roupas e equipamentos para o lar, até o uso de inteligência artificial para identificar pessoas desaparecidas por meio de fotografias fornecidas por suas famílias.

Outros ajudaram os cidadãos que foram obrigados a evacuar de suas casas para áreas mais tranquilas, e os levaram para hotéis disponibilizados pelo governo. Centenas de pessoas iniciaram serviços de cozinhar alimentos para as famílias evacuadas e para os membros da família que estão sentados 24 horas por dia nos hospitais, ao lado de seus entes queridos feridos. Outros organizaram atividades de lazer para as crianças das famílias que tiveram que ser evacuadas e alguns até cuidaram dos animais que ficaram feridos ou abandonados na área do desastre. São apenas alguns dos muitos mais exemplos, todos os quais são feitos completamente voluntariamente, financiados inteiramente por cidadãos comuns, o setor privado e até filantropos de grande porte. Essas atividades continuarão por muito tempo, o tempo que for necessário.

E entre todas as tantas pessoas boas e heroicas com que Israel é abençoado, há também pessoas que se destacaram acima e além. Entre eles estão, ambos, os Generais Maiores (res.) Yair Golan e Noam Tibon. Cada um deles, separadamente, escolheu voluntariamente sair e salvar vidas humanas, no auge do ataque monstruoso. Colocando suas próprias vidas em risco tangível, eles não pensaram sobre si mesmos, mas sim naqueles que estão em perigo e nas suas famílias. Cada um deles nos foi revelado em sua grandeza e os consideramos heróis nacionais de Israel.

Golan, com 61 anos de idade, ex-vice-chefe do estado-maior e, posteriormente, membro do Knesset do partido esquerdista Meretz (2020-2022), era visto até uma semana atrás como uma figura extremista que a direita gostava de zombar e até a esquerda tinha dificuldade em digerir. Mas, no sábado, 7 de outubro, Golan acordou, como muitos em Israel, com uma sirene estridente e ouviu as notícias no rádio. “Sou um homem experiente”, disse ele, “e percebi que isso é um desastre nacional em uma escala que nunca vivenciamos”. Um WhatsApp que ele recebeu de sua irmã fez com que Golan pegasse seu antigo uniforme e sapatos do exército, entrasse no carro e dirigisse para o sul para salvar vidas. Ele correu para a cena do massacre da festa da natureza, onde resgatou mais e mais jovens feridos, traumatizados e aterrorizados, que se esconderam por horas nos campos sem comida ou água, e sem que ninguém pudesse alcançá-los. “Quando cheguei, percebi que a situação era dez vezes pior do que eu pensava”, disse mais tarde à mídia. Ele andava com seu próprio carro entre uma zona de combate e outra, com seu celular que nunca parava de tocar com pedidos de assistência – e se tornou um herói nacional.

Noam Tibon, também com 61 anos, ex-comandante do Corpo Norte, é atualmente um dos líderes do protesto contra a revolução judicial. Naquela manhã de sábado, ele recebeu um WhatsApp de seu filho, que vive com sua família no Kibutz Nahal Oz, um dos kibutzim que sofreu o golpe mais duro. Ele instruiu-os a se trancar na sala de segurança e, em seguida, entrou em seu carro, seguindo uma unidade especial do exército que estava a caminho da área. Ele se uniu à luta e, junto com essa unidade, conseguiram expulsar os terroristas do kibutz. Quando a batalha terminou, ele foi resgatar sua família. “Tenho uma grande fé nas Forças de Defesa de Israel”, ele diz. “Tive a honra de lutar ombro a ombro com eles”, referindo-se aos soldados com os quais se juntou voluntariamente.

A solidariedade social é um componente importante da resiliência nacional de Israel. A capacidade do indivíduo de recuperar sua compostura em um momento de grave crise nacional, enquanto ele mesmo experimenta incerteza e ansiedade, e canalizar esses sentimentos para uma ação útil que contribui para a sociedade, é uma verdadeira expressão da força interior da sociedade israelense, que também explica sua capacidade de enfrentar desafios horrorosos, tal como o recente ataque terrorista e a longa guerra que se segue. A assistência voluntária permite ao indivíduo facilitar a vida de muitas pessoas e até mesmo salvá-las na prática. Igualmente importante, ajuda os próprios voluntários a lidar melhor com os tempos difíceis.

A capacidade do indivíduo de não pensar em si mesmo, mas no coletivo, não é óbvia e, em grande parte, contrária à tendência natural do ser humano, mas não em Israel! A solidariedade social faz parte de nosso ethos nacional. Um ethos que une as ideias e valores fundamentais que compartilhamos, que nos conecta a todos, apesar das grandes diferenças entre nós e das discordâncias que experimentamos nos momentos mais tranquilos.

Esse ethos é um fator motivador primário na criação da coesão social, da unidade e do espírito cooperativo, que expressam os princípios e ideias que nos são próprios como povo. Infelizmente, essa coesão sofreu durante a recente revolução jurídica, mas agora está de volta de forma significativa.

Cada um à sua maneira, seja como parte de um grupo que atende às necessidades específicas do público, seja como indivíduos que heroicamente salvam vidas sem pensar em si mesmos, mas no povo. Sim, fico orgulhosa de nós. Muito orgulhosa!

Embora tenhamos falhado em compreender o Hamas e suas intenções, o próprio Hamas falhou em compreender a sociedade israelense e seu espírito único de solidariedade. Esse espírito nos ajudará a superar qualquer ameaça e terror. Não tenho dúvidas quanto a isso!

Foto: Flickr/UnitedStatesMissionGeneva

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