Desirée Garção Puosso
Durante quase todo o período da Diáspora Judaica, enquanto não tinha um Estado e sofria perseguição ao redor do planeta, o povo judeu era visto pelo mundo ocidental como uma sub-raça, um povo oriental, estranho, que vinha de longe e com uma religião que os outros julgavam diferente.
Durante a ascensão dos regimes fascistas na Europa, foi retirada dos judeus sua nacionalidade, tornando-os apátridas, um povo sem terra, sem direitos, “lançados de volta a um peculiar estado de natureza” (Escritos Judaicos, Hannah Arendt, 2016, p. 100).
Estavam entre os primeiros que descobriram que, sem os direitos do cidadão, não existia algo como direitos fundamentais básicos.
Logo nas primeiras décadas após a fundação do Estado de Israel, que se deu em maio de 1948, a impressão que fica é que a coisa muda de figura muito bruscamente. O povo judeu passa a ser visto como branco, europeu e colonizador. Por vezes e de tempos em tempos, são comparados, inclusive, com seus algozes europeus que os exploraram e massacraram durante a Diáspora.
Ou seja, de sub-raça, o judeu passa a ocupar o lugar de colonizador branco. Mas, o que fica para a compreensão é que independente do “lugar” em que queiram encaixar-nos, sempre é com viés pejorativo e antissemita.
Muito me entristece hoje ver o povo que lutou por liberdade, igualdade e autodeterminação estar em confronto no campo de batalha contra outro povo que também luta por liberdade, igualdade e autodeterminação. Ambos politicamente muito mal representados, aliás.
E quando estou falando do povo, entenda-se população civil. Pois os governos representantes desses povos, de oprimidos nada tem. Um é terrorista e cego em seus propósitos radicais, e o outro de extrema-direita, que mais tem se preocupado nos últimos meses em escapar de uma condenação do que com qualquer outra questão ou pauta coletiva realmente importante.
É uma pena que no dia de hoje, meu povo não esteja na luta ao lado de outro povo oprimido, mas contra ele. Não obstante, isso não tira dele o “status” de povo oprimido de igual forma.
No entanto, a formação da identidade palestina se deu pela visão negativa do outro – o judeu e o inglês, bem como pelo vínculo com a terra. Seria utopia crer que dois povos oprimidos – quais sejam, judeus e palestinos – iriam se unir contra o seu dominador europeu.
A História foi caminhando e hoje vemos no que deu.
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