Rabino Adrian Gottfried
Este ano, celebramos os 75 anos do Estado de Israel. Sem dúvida, Israel é um sucesso. Ele excedeu em muito os sonhos de seus fundadores de mudar as condições da vida judaica em todo o mundo. Agora, que sonho levará Israel adiante pelos próximos 75 anos?
O sionismo , o movimento que fez a construção do Estado de Israel, sempre foi aspiracional. O objetivo de viver como um “povo normal”, sem uma visão além de nossa própria segurança e prosperidade, nunca satisfez os fundadores de Israel. Eles buscaram criar as fundações de um país exemplar, inspirados numa certa visão messiânica secular. Onde está esse sonho hoje? Ou melhor, qual sonho guiará Israel nos próximos anos?
As atuais manifestações que se espalharam por todo o país nos últimos meses vão além das questão particular da reforma do Judiciário e das políticas específicas do atual governo. O movimento que está surgindo a partir dos protestos, afirma-se, é a vanguarda dessa nova visão. E junto com uma visão do Israel de amanhã, traz uma nova visão da relação entre os nos judeus da diáspora e Israel.
A TV pública israelense, KAN, lançou recentemente uma serie de documentários lembrando os 50 anos da Guerra de Iom Kipur. Como estamos no dia mais sagrado do ano, é importante lembrar que há exatamente 50 anos passamos por um dos momentos mais cruciais da breve historia do Estado de Israel.
É claro que tem já se falou bastante sobre essa época quem assistiu o filme “Golda” percebeu que o filme era sobre a Guerra de Iom Kipur. Mas, toda vez que aparecem novas evidências, aprendemos algo novo sobre a mesma história.
O nome do serie de documentários é “A Guerra de Iom Kipur em cores”. Por quê? Porque a TV pública israelense resgatou muitas horas de vídeo dos arquivos históricos da Guerra e, através do uso de Inteligência Artificial, eles fizeram uma versão colorida. As imagens em preto e branco agora estão com cores! Se imagens históricas em preto e branco passam um certo tipo de mensagem, quando conseguimos colocar cores, a história muda dramaticamente. Especialmente quando falamos em imagens de uma guerra, onde o preto e cinza de certa maneira nos afasta da difícil realidade que se passou, onde o vermelho do sangue , colorido, não aparece.
Iom Kipur foi uma das guerras mais terríveis da história de Israel, teve mais 2600 mortos e 7000 feridos; com 301 soldados que ficaram presos atrás das linhas inimigas, uma história trágica.
Hoje aproveitamos o Serviço de Neila de Kipur para finalizar esse dia que remete à introspecção das nossas memórias pessoais.
Iom Kipur é isso, é a oportunidade de olhar para a história do ano da nossa vida, que a gente às vezes olha somente em preto e branco, e fazer o exercício de colocar cores nas nossas nossas próprias memórias, justamente para ver quais dessas cores aparecem com muito mais força.
Das muitas horas e memórias que estão a disposição no TV Publica israelense, queria compartilhar uma que me chamou muito a atenção.
Essa história, que é diferente, é a de um casal em Ramat HaGolan, no norte de Israel, em um momento mais complicados do começo da guerra, quando tanques sírios estão invadindo Israel e quase chegando na cidade de Tveria.
O vídeo nos traz a a memória de Itzik Korkav, um jovem oficial de operações posicionado no norte e de sua namorada, Michaela ou Mika, que foi de surpresa ao encontro dele e chegou até uma base perto do front de batalha. Assim que ela conseguiu chegar perto da posição dele, o comandante de Itzik o trouxe de volta do seu tanque para a base e sem muito protocolo, nem aviso as famílias, e lá mesmo,no meio da guerra, decidiram casar. Por acaso alguém da TV filmou o casamento deles que foi absolutamente improvisado e ficou no arquivo.
O comandante dele disse que ele teria uma reunião importante e por isso o tirou da linha da batalha para retornar para a base e, quando ele chegou, viu a namorada de 19 anos, Mika sentada vestindo uma simples camiseta branca. Alguns soldados pegaram as suas armas que serviram como os paus, e junto com um pano improvisado, montaram uma Chupá. E assim casaram, mostrando como no meio de uma guerra complicada, é imprescindível continuar apostando na vida, apostando em projetos que vão ter continuidade.
De maneira parecida com a nossa perspectiva de Iom Kipur – na qual sabemos da nossa mortalidade, sabemos que todos somos finitos, mas nós acreditamos que vamos ter transcendência e continuidade.
A história do casamento foi algo muito especial, que ficou guardada nos arquivos por 50 anos, e somente agora descobriram que o casal mora na pequena cidade de Los Gatos na California. E pela primeira vez, viram seu casamento 50 anos depois, claro que com filhas e netas.
Isto é um pouco do que é Iom Kipur, o exercicio de olhar nossa vida em perspectiva e reconhecendo que não sabemos se vamos ter mais 5, 10, ou 50 anos. Mas com a habilidade de ver nossa vida em cores, uma vez que a cores nos ajudam a lembrar das coisas que são relevantes e importantes, como um beijo e a quebra do copo num casamento, o sangue em um uniforme no caso de tantos soldados que perderam suas vidas protegendo Israel. Neste fim de Iom Kipur, em Neilá, quero que revisitemos coletivamente, e com cores, o que se passou em Israel e para onde estamos indo.
O Estado de Israel é o projeto mais importante do povo judeu dos últimos 2.000 anos. Por isso, temos que tratar de ajudar, apoiar e contribuir com Israel para que exista de acordo com suas próprias aspirações fundamentais, conforme declarado em sua Declaração de Independência, tendo como base os preceitos de liberdade, justiça e paz ensinados pelos Profetas.
As duas vezes anteriores na história em que o povo judeu teve de soberania – durante o período do rei Davi, há 3.000 anos, e durante a dinastia Chashmonaim, dos Macabeus, na época do Segundo Templo –, nos dois casos o primeiro e o segundo Estado judeu, não durou além da oitava década por causa de que? Por causa de conflitos internos.
O Estado de Israel moderno é a terceira oportunidade de soberania que conseguimos – mas façam as contas 75 anos. Estamos exatamente no meio da oitava década agora. Não é preciso ser supersticioso para acreditar que a maldição da oitava década pode atacar novamente.
Hoje faz mais de 38 semanas que estamos muito, muito preocupados pelos conflitos internos e por um governo que reúne grupos ultra ortodoxos fundamentalistas, juntos com grupos de extrema direta radicais. Esse governo está tentando transformar Israel em um Estado autoritário e teocrático que pouquíssimos judeus do mundo inteiro seríamos capazes de apoiar. Israel foi criado como um Estado Judaico, Liberal e Democrático está perdendo parte da sua essência.
A tragédia é que a maior ameaça para a existência de Israel como conhecemos não é o Irã, o conflito com os palestinos ou ataques terroristas, mas sim o conflito interno da sociedade Israelense.
Proteger Israel também significa defendê-lo de uma liderança política que está minando a coesão da sociedade israelense plural, sionista e o seu etos democrático, os alicerces da história do sucesso israelense. Assim hoje, juntos a todos os judeus da diáspora, temos o direito e a responsabilidade e a obrigação de nos manifestar.
– As mudanças em curso da assim chamada reforma do sistema Judiciário enfraquecerão as características democráticas de Israel, e terão consequências terríveis para o seu milagre econômico, como alertam os principais economistas. E sem um supremo independente que possa colocar controle aos atos de governo, nos por exemplo teríamos o Kotel igualitário onde fizemos o Bat Mitzva da Betina e o Bar Mitzva de Deco, que o Supremo permitiu, não teríamos as nossas conversões do movimento masorti reconhecidas por o estado de Israel, que o supremo autorizou. Sem contar o direito de mulheres, de população árabe, LGBT, e outras minorias ficariam desprotegidas.
– Uma futura isenção definitiva dos ultra-otrodoxos de servirem o exército de Israel, chamada chok iesod hatora , dividirá ainda mais as diferentes populações israelenses e colocará em xeque a solidariedade cidadã de Israel . E o conceito central de tzahal como tzva haam exército do todo o povo seria quebrada definitivamente.
– O constante apoio de ministros à grupos extremistas que atacam vilarejos árabes, e exaltam terroristas judeus, distanciará ainda mais Israel do caminho da Justiça e da Paz.
E todas essas movimentações ameaçarão as relações entre Israel e a Diáspora, causando danos graves às relações conosco.
Yossi Klein Halevi explica: “Não se trata de uma mudança política. Você pode concordar ou discordar sobre a política. Não se trata de uma mudança de atitude, seja uma questão da Cisjordânia, ou uma questão econômica, ou o Monte do Templo ou o Kotel.
Todas essas são questões sobre as quais as pessoas ficam muito preocupadas, isso não é o tema o assunto é a natureza das democracias.” Porém o que está acontecendo agora é uma ameaça à democracia israelense, “E ao ameaçar a democracia através deste ponto de encontro entre fanatismo político e religioso e da corrupção, ao ameaçar as raízes democráticas de Israel, o que este governo está realmente fazendo a ameaçar é a história de sucesso Israelense”.
Nós como líderes da comunidade da Diáspora devemos nos perguntar como queremos que os nossos filho/as e de nossos neto/as se lembrem de como agimos nesse momento tão crucial da história de Israel, e dos judeus no mundo. Precisamos deixar claro quais valores nos guiam e fortalecer aos milhares de Israelenses que estão lutando para manter Israel um país judaico e democrático de verdade.
Não podemos abandonar agora o projeto sionista num momento tão crítico em que precisam que a nossa voz seja ouvida. Deixamos claro que somos um povo judeu global comprometido com a justiça, comprometido com a moralidade e comprometido em fazer de Israel o tipo de país do qual os nossos filho/as e neto/as possam continuar a se orgulhar. É responsabilidade de cada um de nós duplicar o nosso esforço de conexão e apoio com Israel.
Para isso, é responsabilidade de cada um de nós duplicar o esforço de conexão e apoio com Israel.
– Pensem há quanto tempo vocês não viajam para Israel? E dupliquem assim de simples
– Quando foi a última vez que falou com um israelense, tio, primo, sobre o que está acontecendo atualmente? Tem que duplicar
– Quantas vezes disse que queria aprender mais hebraico, mas deixou esse projeto de lado? Agora e o momento de começar o duplicar as aulas
– Será que suas doações que chegam em Israel são suficientes? Temos que duplicar as nossas doações agora porém, temos que saber para onde estão indo? Se o destino são espaços plurais e inclusivos e democráticos.
Uma das principais séries que relatam a Guerra de Iom Kipur ficou conhecido mundo la fora como Vale das Lágrimas, remetendo à Emek Habacha que é uma das principais regiões do norte do país que aconteceu a Guerra. Porém,esse seriado da HBO Max que começou na TV israelense em hebraico, a série de chama Shaat HaNeila, a hora de Neila justamente conectando com esta parte de Iom Kipur que estamos prestes para começar.
Neilá fala sobre esperança, sobre portas que vão se abrir e especialmente que somos responsáveis pelo nosso destino.
Os produtores da série, para fora chamaram de emek a bacha e para dentro Shhat Haneila, está nas nossas mãos que tipo de destino queremos para nós mesmos e para Israel, um de Vale de Lágrimas ע מק הבכ א emek a bacha, ou de Shaat Haneila.
Que nos seja dado, nesta hora de Neilá, decidir entrar pelos portões da Verdade e da Justiça, caminhar pelas veredas da Bondade e da Compaixão, em direção ao Amor e ao Perdão; que nos seja dado buscar as coisas que perduram por todo o sempre.
Que nos seja dado fazer bom uso das oportunidades que se abrem… Antes que o portão volte a se fechar. Gmar Chatima Tova