Jerusalém, símbolo e inspiração da diversidade

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Discurso de David Diesenduck na Comunidade Shalom no Cabalat Shabat de 19 de maio de 2023

Boa noite e Shabat Shalom!

U-ve-tardemat ilan va-even

Shvuyah ba-halomah

Ha-ir asher badad yoshevet

U-ve-libbah homah

E no sono profundo da árvore e da pedra,

Presa em um sonho,

Está a cidade solitária

E no seu coração – um muro

Escolhi este parágrafo do hino simbólico de Jerusalém, “Jerusalém de Ouro”, Yerushalaim Shel Zahav”, composto por Naomi Shemer algumas semanas antes da conquista da Cidade Velha por Israel em 1967, para iniciar esta nossa conversa sobre este dia tão especial para nós, judeus sionistas.

Agradeço a Shalom pelo convite de novamente ocupar este púlpito. Não faltam festividades em nosso calendário, nacionais e religiosas. Algumas mais tangíveis como o Tu Bishvat, do plantio das árvores, Sucot, da suca, e Yom Hatzmaut, a independência de Israel. E outras mais espirituais como Yom Kipur e Rosh Hashana. Mas talvez Yom Yerushalaim, ocupe um lugar único em nosso calendário por unir uma celebração física, da volta a um espaço antes proibido para nós, e ao mesmo tempo resgatar nossa referência identitária central, a capital de Israel, onde deu início a nossa história como uma nação plena 3.000 anos atrás.

Se eu pedir a vocês pensarem em uma imagem icônica de Israel, acredito que muitos aqui lembrariam do Kotel, o Muro das Lamentações. Esta é a força de Jerusalém em nosso imaginário.

Durante a sua longa história, Jerusalém foi destruída pelo menos duas vezes, sitiada 23 vezes, atacada 52 vezes e capturada e recapturada outras 44 vezes.

Ela é mencionada na Bíblia 632 vezes. Sinagogas ao redor do mundo são tradicionalmente construídas com o seu Aron Hakodesh voltado para Jerusalém. No final da Neeila de Yom Kipur, momento máximo de nosso calendário, encerramos o jejum dizendo “Hashana Haba Be Yerushalaim”, no ano que vem em Jerusalém.

O nome da cidade, ainda que sua origem seja incerta, possui várias interpretações linguísticas também repletas de simbolismo. Alguns acreditam que é uma combinação das palavras em hebraico “yerusha” (legado) e “Shalom” (paz), ou seja, legado de paz.

De acordo com um midrash (Bereshit Rabá), Abraão veio até a cidade, e a chamou de Shalem (completo), que junto ao prefixo Yeru (cidade) transformou-se em Yerushalem. Jerusalém, seria a cidade completa.

Mas entrando no tema de nossa conversa, qual seria então o simbolismo e a inspiração da diversidade que Jerusalém nos traz nos dias de hoje?

Pensei na empatia!

No convívio pacífico e estimulante entre as três maiores religiões monoteístas do mundo, para as quais a cidade tem um significado único. 

Mas o que mais podemos aprender e refletir sobre a empatia?

No dicionário a definição seria: a capacidade de se identificar com outra pessoa, de sentir o que ela sente, de querer o que ela quer, de apreender do modo como ela apreende.

Será que estamos praticando a empatia como deveríamos?

A narrativa hegemônica, e muitas vezes impositiva que mais tenho escutado em nossa comunidade é de que nós somos as vítimas favoritas do universo. Somos perseguidos por sermos judeus, por termos criado Israel e por uma suposta dominação global da economia e dos meios de comunicação.

Nesta semana participei de um evento no qual a palestrante colocava sua preocupação com o afastamento das novas gerações de Israel e do sionismo. Disse que quanto mais jovem a geração, maior o seu afastamento. Será que este comportamento não seria um sinal de alerta?

Devemos ficar repetindo as mesmas narrativas de décadas esperando resultados diferentes?

Os nossos pilares narrativos hegemônicos são o combate ao antissemitismo, a deslegitimização de Israel e a banalização do Holocausto.

Diversos estudos apontam para uma maior preocupação das gerações Z, e de outras letras do final de nosso alfabeto por uma vida de propósito, voltada para causas de direitos humanos e ambientais. Será que esta não deveria ser a narrativa a ser proposta para acolhermos e resgatarmos as novas gerações?

O Tikun Olam, que significa reparar o mundo, ou ainda não fazer ao próximo o que não gostaríamos que fizessem a nós, fazem parte da essência humanista judaica. Será que não deveríamos incorporar este conceito com mais vigor em nossas narrativas?

Sim, somos vítimas em diversas situações, mas uma avaliação, mesmo que superficial de nossa realidade já seria suficiente para demonstrar como somos uma minoria privilegiada. Olhem em nossa volta. Nossas entidades representativas, filantrópicas, sinagogas, escolas, clube, hospital. A força econômica e militar de Israel. Nossas enormes contribuições a humanidade nas mais diversas áreas.

É preciso olhar para fora, e praticar continuamente a empatia com as minorias dentro e fora de Israel.

Donniel Hartman, Diretor do Hartman Institute em Jerusalém diz que precisamos sair da uma narrativa de crise para uma narrativa de valores. Uma narrativa voltada para o futuro, para a continuidade de nosso Povo. E não apenas uma narrativa focada em nossa sobrevivência.

Esta nova narrativa, seria construída colaborativamente entre os judeus de Israel e da diáspora. Hartman, propõe uma disrupção de seus papéis e responsabilidades. Ambos, seriam igualmente valorizados pela sua importância para a continuidade do Povo Judeu. Uma nova perspectiva, de interdependência entre as duas comunidades. As duas comunidades contribuindo e aprendendo juntas.

Na narrativa de crise,  lealdade significa manter-se unido contra o inimigo. Critica neste contexto seria um ato de traição.  Numa narrativa de valores, onde trabalhamos juntos para atender nossa missão como nação e povo, lealdade pode também se expressar em desacordo e em crítica construtiva que auxilia o outro a desenvolver o seu potencial. A crítica que busca ajudar o outro seria um derradeiro ato de amor e respeito. Um ato de empatia.

O pluralismo que estamos acostumados na prática do judaísmo, também deve ser aplicada a Israel e suas políticas. Esta e a única maneira de sermos inclusivos e acolher a todos os judeus interessados nesta conexão.

Precisamos ver uns aos outros numa perspectiva do que poderíamos ser. A conversa não é sobre abraçar e aceitar o que existe, mas sim sobre construir uma visão comum do que poderia ser.

Este olhar mais empático para outros grupos vulneráveis de nossa sociedade, os palestinos, as minorias e outras religiões, me parece importante e necessário para o acolhimento e inclusão das novas gerações.  O simbolismo espiritual de Jerusalém pode nos servir de inspiração para uma sociedade mais empática e diversa. Uma vida com mais propósito.

Quero propor a todos aqui que façamos estas reflexões durante o nosso jantar de Shabat na noite de hoje. Vamos aproveitar de todo o significado de Yom Yerushalaim para conversar sobre ela em nossas casas junto da família e amigos.

Afinal, como disse o Chef espanhol, José Andres: precisamos de mesas mais longas e não muros mais altos.

Shabat Shalom e Yom Yerushalaim Sameach!

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