Por Revital Poleg
A sociedade árabe em Israel está sangrando, lutando pelo direito básico de viver com segurança pessoal. Desde o início de 2023, e até o momento, 73 mulheres, homens e crianças da sociedade árabe foram assassinados. Os números continuam crescendo quase diariamente, batendo recordes assustadores como nunca antes conhecidos, e o fim disso nem está à vista.
O sentimento de desamparo que o público árabe experimenta, combinado com a falta de ação por parte do governo (ou ação limitada e, sobretudo, muita retórica), gera o desespero entre eles, o que gera uma perda total de confiança nas autoridades governamentais – o resultado é a indiferença.
Essa é uma perigosa reação em cadeia que afeta, em primeiro lugar e acima de tudo, a sociedade árabe, mas também a sociedade israelense inteira, e é essencial freá-la com urgência.
Não é menos importante do que deter o terrorismo e prevenir outras ameaças de segurança.Por enquanto, isso não está acontecendo. Foi Itamar Ben Gvir que prometeu, durante as recentes eleições, restabelecer a governança e trazer paz e segurança completas nas ruas israelenses se ele fosse nomeado Ministro da Segurança Interna.
Essa promessa levou muitas pessoas, mesmo aquelas que não apoiassem a ele nem ao partido, a votar nele, possibilitando que ele obtivesse a posição que tanto desejava.
Para ser sincera, eu não apenas não esperava nada de Ben Gvir, muito pelo contrário! Fiquei assustada com o que ele traz e representa: extremismo, racismo, falta de profissionalismo e de responsabilidade. Infelizmente, a realidade mostra que minhas preocupações (e as de muitos) não são infundadas. Por maiores que fossem as promessas dele, maior é o fracasso que estamos testemunhando.
Atualmente, não existe um diálogo entre o Ministério da Segurança Nacional e os dirigentes das autoridades árabes. Sem tal diálogo, não só será muito difícil conseguir melhorias, mas é assustador imaginar o quanto podemos nos deteriorar. Ademais, cinco meses após assumir o cargo, o ministro ainda não encontrou tempo para visitar a Divisão de Polícia para a Prevenção de Crimes na Sociedade Árabe, o que demonstra claramente suas prioridades.
Na situação atual, a polícia está enfrentando um desafio múltiplo para conquistar a confiança do público árabe. As autoridades continuam com os esforços para combater a grave violência, porém está longe de ser suficiente. Os desafios são muitos e não começaram neste governo: a luta sísifa contra o crime organizado, a violência doméstica, a manutenção da ordem pública em períodos de tensão de segurança e muito mais. O apoio ministerial inequívoco, em uma realidade tão complicada, é nada mais que essencial.
Era lógico supor que o primeiro-ministro instruiria o ministro a liderar um esforço de emergência para combater essa onda crescente de violência, já que se trata de uma questão de salvar vidas. Porém, também é lógico presumir que em vista da deterioração de Ben-Gvir nas sondagens recentes, e a crescente tensão política entre os dois, Netanyahu não vai ajudar Ben-Gvir a sair dessa situação apoiando suas ações.
Além disso, quando o próprio primeiro-ministro coloca a reforma judicial no topo das prioridades do governo e deixa de lado todas as outras questões fundamentais, tal como essa que se refere à vida humana, incluindo a vida de crianças, mulheres e outros cidadãos inocentes, não é de admirar que a violência esteja crescendo.
Por mais que o governo de Bennett-Lapid tenha durado pouco, uma das realizações deles foi o plano “Safe Route” (Rota Segura) para erradicar a violência e o crime no setor árabe, liderado pelo vice-ministro de Segurança Interna, Yoav Segalowitz.
Nesse contexto, um diálogo de confiança foi criado entre os líderes do programa e os líderes da sociedade árabe. A cooperação já começou a dar resultados: enquanto o ano de 2021, que foi considerado muito difícil, acabou com 126 assassinatos, em 2022, o número diminuiu para 116 vítimas (8% a menos). Mas desde o início deste ano (2023) e paralelamente à posse do atual governo, o número de pessoas assassinadas aumentou mais de três vezes em comparação com o período correspondente do ano passado. Os dados são alarmantes e há, sem dúvida, motivo para preocupação. O número crescente de incidentes de tiroteio em plena luz do dia, nos centros das cidades e bairros residenciais, indica que todas as linhas vermelhas foram cruzadas.
Na ausência de um “adulto responsável” no governo atual, é de esperar que alguém aja conforme o apelo do Presidente Herzog nesta segunda-feira, 8 de maio, dizendo: “Estamos em um momento de emergência. A onda de violência é um desafio estratégico para o Estado de Israel.” De acordo com ele, “este é um terrorismo civil que ameaça a todos nós. Apelo a todos os responsáveis para que convoquem urgentemente discussões de emergência, tomem decisões decisivas, parem com os temores e as escusas, atuem com todos os meios e liderem uma guerra sem concessões, que erradicará essa ameaça, e imediatamente”.
Em dias de governo de extrema direita, de ameaça da revolução jurídica e preocupação com suas consequências, o público árabe se sente encurralado e à margem do discurso público. Muitos deles acham que a violência desenfreada não interessa realmente ao público judeu, que, no melhor dos casos, balança a cabeça quando ouve outra notícia sobre o novo assassinato do dia. Uma minoria enfraquecida e vulnerável não se sente parte do país em que vive. Seu silêncio é estrondoso e não podemos ignorá-lo.
É nosso dever moral e cívico levar a questão à pauta pública e exigir do governo que assuma responsabilidade imediata e abrangente.