Por Daniela Kresch
TEL AVIV – Dois eventos nacionais marcam os 75 anos de Israel, esta semana: o Dia da Lembrança (dos soldados mortos e vítimas do terrorismo) e o Dia da Independência. Mas se, para humanos 75 é a idade da razão, para nações parece ser o auge da adolescência. O que Israel quer ser quando crescer? Uma nação religiosa e teocrática ou um país democrático e progressista?
É esse dilema que está diante dos israelenses neste momento de convulsão nacional, quando uma reforma judicial ameaça os poderes deste país criado a duras penas como um porto seguro para milhões de judeus perseguidos por milênios. O que será de Israel nos próximos 75 anos? Como o país amadurecerá?
As datas nacionais – uma solene e outra de euforia – acontecem em meio a uma profunda divisão interna. Famílias enlutadas passaram semanas implorando para que membros deste governo não compareçam (ou pelo menos não discursem) nos cemitérios militares pelo país, como de praxe. Como escutar palavras de ministros que representam um projeto antidemocrático? Como aceitar ouvir discursos sobre soldados mortos de ministros que nem se alistaram e lutaram pelo país com seus próprios corpos?
No Dia da Independência, a bandeira de Israel significará valores diferentes para quem é pró e contra o enfraquecimento da Suprema Corte. Uma enorme festa/manifestação celebrando Israel e sua democracia reunirá centenas de milhares em Tel Aviv. Mas muitos israelenses sairão às ruas com bandeiras, em outras cidades, desejando que os “anarquistas” e “traidores” de Tel Aviv se curvem diante de uma minoria antidemocrática que deseja acumular os três Poderes e levar o país para um caminho perigoso e cinzento, um país sem esperança de paz e de progresso econômico.
Assim que o Dia da Independência passar – no anoitecer desta quarta-feira (26 de abril), recomeçará com toda a força o cabo de guerra entre o governo antidemocrático de Benjamin Netanyahu, Itamar Ben-Gvir e Yariv Levin e centenas de milhares de manifestantes e lideranças pró-democracia que, desde janeiro, tentam barrar a reforma do Judiciário.
Os arquitetos do golpe antidemocrático estão se preparando para voltar com força total, com uma blitz de leis pessoais e sectárias que chocam a maioria dos israelenses, que querem viver em um país civilizado, democrático e pacífico. A pressão popular de quatro meses de manifestações populares não os abalou. Os alertas de especialistas em segurança e em economia não os abalaram.
A principal agência de classificação de crédito do mundo, a Moody’s, rebaixou a perspectiva econômica de Israel de “positiva” para “estável” no dia 15 de abril citando a “deterioração da governança de Israel”. Nem isso abalou os agentes do caos do governo Netanyahu. Os apelos de “união nacional” são apenas retóricos para eles.
Assim que começar o ano 76 do Estado de Israel, o maior teste para esta (ainda) democracia começará. Será que, nos próximos 75 anos, Israel se tornará realmente um “farol” para o Oriente Médio e o mundo ao repudiar o perigo antidemocrático e escolher um futuro de liberdade, igualdade e fraternidade – incluindo uma solução de paz com os palestinos? Ou se tornará um pária internacional ao enviesar para o caminho do Irã, abandonando a democracia em prol de uma visão teocrática, messiânica e ultranacionalista?
Meus votos são de que este país tão especial escolha a direção correta nesta encruzilhada perigosa. Feliz 75 anos, Israel.