Israelenses no Catar: apreensão e esperança de uma Copa da paz

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Daniela Kresch 

TEL AVIV – Há boas e más notícias para os israelenses quando se trata da Copa do Mundo do Catar, a primeira no Oriente Médio nos quase 100 anos da competição. Cerca de 10.000 torcedores de Israel garantiram ingressos para o torneio no emirado. Há, certamente, bastante apreensão. A Copa está sendo realizada em um país muçulmano que não mantém relações diplomáticas com Israel e que criminaliza a homossexualidade, proíbe drogas e restringe o consumo de álcool. Além disso, também terá a presença de torcedores do Irã, arquirrival regional de Israel.

Na semana passada, o Ministério das Relações Exteriores de Israel alertou os israelenses que viajam para o Catar para que escondam bandeiras israelenses e símbolos como estrelas de David, bem como itens associados à comunidade LGBTQI+, durante sua visita. O ministério até lançou um site destinado a educar os fãs e aumentar a conscientização sobre questões delicadas que eles podem encontrar.

Mas, na prática, muitos torcedores e jornalistas relatam que o clima é de paz e não se sentem ameaçados. Fora isso, o primeiro voo direto entre Tel Aviv e Doha foi aprovado por causa da Copa, o que pode mudar o relacionamento dos dois países. 

Os primeiros jornalistas que desembarcaram em Doha começaram a entender que nada é previsível.  Ao se identificarem como israelenses, a maioria dos entrevistados parece não se importar com isso, mas assim que eles ligavam as câmeras para tentar fazer uma entrevista, muitos mudam de ideia e decidem que não pegava bem falar com a mídia de Israel. 

Um dos repórteres mais conhecidos de Israel, Ohad Hemo, começou a entrevistar um grupo de torcedores libaneses e, quando disse de onde era, os entrevistados saíram correndo, gritando: “Israel não existe!”. 

Mas outro repórter, do jornal Times de Israel, contou que não teve dificuldade em falar com moradores locais e turistas. “Para mim, as relações com Israel são boas. No final das contas, precisamos de paz em todo o mundo”, disse a ele um torcedor da Arábia Saudita, que ainda não tem relacionamento diplomático (pelo menos oficialmente) com Israel.

Teve até entrevistados que elogiaram os Acordos de Abraão, assinados por Israel, Marrocos, Bahrein e Emirados Árabes em 2020. Um torcedor do Marrocos disse que nos últimos dois anos, ele conheceu muitos turistas israelenses em sua cidade natal: “Conheço o povo israelense, não temos problemas com eles”, disse o marroquino.

Também do lado positivo, certamente se pode apontar o primeiro voo comercial direto de Israel para o Catar, que decolou de Tel Aviv para Doha na manhã do último domingo (20 de novembro), com torcedores de futebol israelenses – e também palestinos, outra boa notícia – a bordo. Trata-se de uma rota temporária que saiu na última hora após meses de negociações. Mas a companhia aérea cipriota TUS Airways aproveitou a deixa e o primeiro voo estava lotado, com 180 passageiros a bordo.

Os passageiros receberam bilhetes impressos com as palavras “fazendo história” em hebraico, árabe e inglês, ao lado das bandeiras de Israel, Catar e Chipre. O preço, US$ 550, é mediano e similar ao de uma passagem para qualquer capital europeia. Ao todo, a TUS vai operar 12 voos (seis em cada direção) durante o torneio, permitindo que cerca de 1.000 passageiros cheguem a Doha a partir de Israel. A empresa disse que estudará a possibilidade de adicionar dois voos extras durante as fases finais do torneio.

Do lado mais complicado, no entanto, há a apreensão sobre possíveis atos terroristas do Irã contra torcedores israelenses durante a Copa. E a discussão sobre uma suposta proibição de comida kasher no Catar. Segundo o jornal Jerusalém Post, organizações judaicas afirmam que o país está quebrando sua promessa de permitir que qualquer comida kasher cozida seja vendida na Copa do Mundo da FIFA.

De acordo com outra fonte, vários judeus americanos ricos planejavam viajar, mas cancelaram seus arranjos porque disseram que não se sentiriam seguros e não teriam comida suficiente para comer. 

Essas mesmas organizações judaicas disseram que o Catar quebrou outra promessa: de permitir cultos de oração judaica em Doha durante os jogos, alegando que não poderia proteger esse tipo de atividade e então o baniu completamente. Mas o rabino Marc Schneier, de Nova York, negou todas as alegações do jornal. Segundo ele, os cataris estão fazendo tudo o que prometeram: oferecer comida kasher, receber os judeus e israelenses de braços abertos e possibilitar voos diretos de Israel.

A fábrica de boatos é sintoma das surpresas que essa Copa pode guardar para os israelenses – e para o mundo todo. Certamente, teremos que fazer um balanço geral após o torneio para ver se foi um evento mais positivo ou negativo no que tange o relacionamento de Israel com seus vizinhos do Oriente Médio.

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