Daniela Kresch
TEL AVIV – Pode ter havido um cessar-fogo no conflito de três entre Israel e o grupo terrorista Jihad Islâmica Palestina (JIP), que aconteceu entre os dias 5 e 7 de agosto. Mas ele não acabou. Desde a trégua, não passa um dia sem uma notícia relacionada a um possível retorno nas hostilidades. Houve incursões do exército israelense na Cisjordânia que levantaram esse temor. Mas um atentado em Jerusalém, na noite de sábado (13 de agosto), madrugada de domingo (14 de agosto) pode ser a faísca para uma nova rodada.
O ataque foi realizado por Amir Sidawi, 26 anos, um palestino morador de Jerusalém Oriental que mais tarde se entregou à polícia. Sidawi atirou dentro de um ônibus que estava parado numa estação adjacente à Cidade Velha de Jerusalém. Depois, ele atirou contra mais pessoas em Silwan. Entre as vítimas, uma mulher grávida de 35 anos. Ela e o feto estão em estado grave até o momento em que escrevo estas linhas.
Oito pessoas ficaram feridas no ataque, quatro seriamente. Quatro delas são cidadãos americanos, que estavam em Israel de visita. Eles fazem parte de uma mesma família de judeus ultraortdoxos.
Sidawi tem um histórico de violência e já tinha cumprido pena de cinco anos por outros crimes. Algo estranho é que ele se entregou à polícia. Pode ter sido um pedido de sua família, que não quer se envolver.
Nos últimos 4 meses, 200 atentados foram evitados em Israel pelas forças de segurança, mas este não foi evitado, até porque seria muito difícil evitar um ato desses, de um “lobo solitário”. Desde março, 19 pessoas – a maioria civis israelenses – foram mortas em ataques, principalmente por palestinos. Três atacantes árabes israelenses também foram mortos.
Mesmo que não haja informações sobre a ligação de Sidawi com grupos terroristas palestinos, não demorou para grupos como Jihad Islâmica e Hamas aplaudissem o ataque contra civis em Jerusalém, clamando a mais palestinos ou árabes-israelenses para que sigam esse exemplo e façam mais “operações heroicas”.
O Hamas, que não se envolveu no conflito entre Israel e a Jihad Islâmica – e foi acusado de “colaborar com Israel” por causa disso – foi o primeiro a saudar a “corajosa operação” do morador de Jerusalém, afirmando que se tratou de “uma reação natural à arrogância dos soldados e colonos da ocupação e seus crimes diários contra o povo palestino e suas terras e locais sagrados”.
A palavra “natural” é muito usada, como se fosse quase algo genético ou matemático, algo impossível de evitar. Atacar israelenses e judeus – militares ou civis – seria algo “óbvio” e “normal” por causa da ocupação israelense de toda a Palestina histórica, incluindo o que é hoje Israel (não só os territórios palestinos ocupados reconhecidos pela ONU, claro).
O porta-voz da Jihad Islâmica, Tareq Ezzadin, aprovou o atentado e disse que ele prova que a “resistência contra Israel é contínua”: “A operação de Jerusalém confirma que a ocupação não tem lugar em nossa terra e não estará segura enquanto a resistência continuar”. E a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) – ligada à Organização para Libertação da Palestina (OLP) – também emitiu comunicado elogiando o atentado.
O primeiro-ministro de Israel, Yair Lapid, divulgou um vídeo comentando o assunto: “Todos aqueles que nos desejam o mal, saibam que pagarão um preço por qualquer dano a civis”.
Tudo isso é mais uma mostra de que o “ciclo de violência” entre israelenses palestinos continua circulando, como uma roda que gira sem atrito para estancá-la. Quando um lado parece estar por cima, não levará tempo para que o outro lado “revide”, “se vingue” ou “reaja”.
Acabar com essa série de ataques e contra-ataques é o que vozes moderadas buscam. Mas não faltam vozes – menos que minoritárias – que querem ver o circo pegar fogo. Para essas vozes, é “tudo ou nada”. Antes que alguém reclame, não quero aqui fazer comparações levianas entre grupos terroristas e grupo extremistas que não utilizam o terrorismo contra civis como armas. Certamente quem prega o assassinato de civis deve ser mais combatido.
Mas as vozes que buscam uma vitória como num jogo de soma-zero – em que um lado é claramente vencedor e o outro, o perdedor – deveriam entender que um conflito como esse só poderá um dia ser resolvido se ambos os lados vencerem e perderem. Um meio-termo doloroso para ambos os lados, mas necessário.