Neste Iom HaShoá vehaGvurá (Dia em lembrança às vítimas do holocausto e ao Heroísmo), com apoio do Museu do Holocausto de Curitiba, O Gaavah, coletivo judaico LGBTQIA+ do IBI, compartilha a fascinante trajetória de Gad Beck, ativista judeu e LGBTQIA+, sobrevivente do holocausto que salvou diversas famílias judias do extermínio nazista com orgulho de suas identidades judia e LGBTQIA+. Confira:
Em tragédias onde ocorre um grande número de vítimas, é difícil para a mente humana processar a dimensão que aquele valor numérico representa e muitas vezes se esquece da humanidade que carrega cada unidade de vida presente em um número tão grande.
No judaísmo, perpetuar a memória de alguém é uma forma de manter uma alma vívida. Um costume em Iom HaShoá é o de pesquisarmos, conhecermos a história e até acender uma vela em memória de alguma vítima da Shoá, trazendo de volta sua humanidade e o simbolismo de que aquela pessoa não foi levada para o esquecimento como era o propósito de quem tirou sua vida e de mais outras seis milhões de vidas judias.
Hoje, trazemos a memória de Gad Beck: judeu, gay, ativista e membro da resistência contra a opressão nazista.
Nascido Gerhard Beck, Gad tinha dez anos quando o regime nazista subiu ao poder, o que o fez crescer num dos piores e mais opressores regimes da história. Ainda assim, sua forte ligação com suas identidades judia e LGBTQIA+ o motivou a resistir. À medida que judies começaram a ser expulses da vida social, política e econômica alemã, o jovem Gerhard abraçou sua herança judaica, juntou-se a grupos de jovens sionistas e adotou o nome hebraico Gad.
Em 1942, a família de Gad recebeu uma carta de aliados judeus em Genebra, alertando-os sobre campos de extermínio no Leste Europeu. Neste ano, Gad perdeu seu primeiro grande amor, Manfred Lewin, que foi deportado e assassinado junto com a família em Auschwitz.
No ano seguinte, em que Goebbels (ministro da propaganda nazista) declarou que todes es judies tinham sido removides de Berlim, Gad liderou a Chug Chalutzi, uma organização sionista clandestina que ajudou a abrigar, alimentar e transportar judies para locais seguros, além de falsificar documentos para que pudessem viver em suas cidades. Gad confiou em gays não judeus para ajudar a esconder famílias judias.
Em sua trajetória de resistência, conheceu Zwi Abrahamssohn que se tornou seu companheiro por 35 anos. A Gestapo, após descobrir Gad e seu trabalho, o levaram para ser interrogado enquanto torturavam Zwi na sua frente para arrancar informações e mesmo assim, Gad resistiu. Ambos ficaram presos até o fim da guerra, quando foram libertados por tropas soviéticas.
Logo após ser eleito “representante de assuntos judaicos” pelos soviéticos, Gad decidiu imigrar para Israel junto ao seu marido e família.
Gad trabalhou para organizar aliot de outres judies e lutou na guerra que resultou na criação de Israel em 1948. Construiu uma nova vida e viveu em Israel durante anos, antes de decidir fazer uma viagem de regresso à Europa Central.
Ele se tornou o diretor do Centro de Educação de Adultos Judeus de Berlim e um proeminente ativista gay. Gad sentiu que era sua missão retornar, para completar sua resistência reconstruindo a vida de judies e pessoas LGBTQIA+ onde os nazistas tentaram erradicá-los. Ele faleceu em 2012 aos 88 anos.
A história de Gad nos mostra a importância de lutas identitárias e como o senso de identidade e o vínculo que temos com as que nos formam, nos faz ser melhores conosco e com outras pessoas. Nos faz lembrar que a identidade é um fator que nos torna mais próximos uns des outres a partir do momento que compartilhamos de tantas características similares. Nos faz lembrar de que somos todes criades, refletides na mesma imagem (B’tzelem Elohim).
“Ainda hoje não estamos libertos. Estamos apenas começando.” – Beck, Gad.