Nas últimas semanas, o assunto dominante em Israel tem sido a crescente tensão envolvendo palestinos e israelenses.
De um mês para cá, uma série de ataques violentos deixaram 14 israelenses mortos no país. Desde então, um total de 24 palestinos, entre eles os autores destes ataques, morreram em confrontos com as forças israelenses.
O nervosismo aumentou nos últimos dias, com a celebração do Ramadã, o mês do jejum muçulmano, e a Páscoa judaica, duas datas que geram aglomerações na Cidade Velha de Jerusalém.
Na sexta-feira 15 de abril, confrontos deixaram mais de 170 feridos. Anteontem, novos embates eclodiram.
“Manifestantes palestinos têm atacado policiais e civis israelenses com pedras, coquetéis Molotov e tudo o que podem jogar. E os policiais têm usado seu arsenal para contê-los, o que inclui gás lacrimogêneo (lançado até por drones) e balas de borracha”, relata a jornalista Daniela Kresch, correspondente do IBI em Israel.
“Podemos enumerar diversas explicações conjunturais para a onda de violência atual, mas se ignorarmos a violência estrutural representada pela ausência de reconhecimento do direito judaico a seu Estado e pela ocupação israelense de territórios palestinos, com restrições à sua liberdade, estaremos endereçando apenas parte do problema”, afirma Daniel Douek, Diretor do Instituto Brasil-Israel.
A Esplanada das Mesquitas fica na porção leste de Jerusalém, conquistada por Israel em 1967 e reivindicada pelos palestinos como capital de um futuro Estado. É chamada de Monte do Templo pelos judeus, por nela se encontrarem os restos do templo de Jerusalém. Ao pé da Esplanada, que abriga a Mesquita de Al Aqsa, terceiro local mais sagrado da religião muçulmana, está o Muro das Lamentações. Palestinos – tanto cristãos quanto muçulmanos – acusam os israelenses de quererem se apropriar da localidade.
“É certamente balela que o moderno Estado de Israel tenha alguma intenção de destruir o Domo da Rocha ou a Mesquita de Al-Aqsa. Quem mora aqui sabe que não há nenhuma discussão pública sobre uma coisa dessas e nada está mais distante do dia a dia da maioria dos judeus israelenses – a maioria seculares ou religiosos light. Mas um punhado de judeus ultranacionalistas sim fala disso abertamente, como se fosse uma realidade. E a voz deles é amplificada como se fosse uma verdade iminente”, afirma Kresch.
Segundo o status quo estabelecido entre Israel e a Jordânia após a Guerra dos Seis dias, em 1967, quando os israelenses tomaram o controle de Jerusalém Oriental, é proibido a não-muçulmanos rezar no local.
“Se, em 1967, isso fazia sentido porque Israel não queria melindrar demais o mundo árabe-muçulmano após conquistas Jerusalém Oriental e a maioria dos rabinos dizia mesmo que era proibido para judeus subir no Monte do Templo, em 2022 tem judeus que não aceitam mais isso. Querem ‘liberdade de culto’ no Monte do Templo”, aponta a jornalista.
Este ano, um grupo até tentou sacrificar um cabrito no local em homenagem à Páscoa judaica, como se fazia nos templos bíblicos. Mas a polícia confiscou o animal.
Política e religião
Toda essa situação é explosiva religiosa e politicamente.
O temor é que os choques em Jerusalém possam causar mais um enfrentamento em larga escala, como no ano passado, quando incidentes da mesma natureza levaram a uma guerra de 11 dias entre Israel e militantes palestinos de Gaza liderados pelo Hamas.
Os episódios de violência dos últimos dias, inclusive, levaram o Hamas a lançar foguetes – que não deixaram feridos – contra o sul de Israel. O exército respondeu com ataques aéreos a Gaza, onde vivem 2,3 milhões de pessoas.
No “E eu com isso?”, podcast do Instituto Brasil-Israel, Anita Efraim e Ana Clara Buchmann conversaram sobre o assunto com João Koatz Miragaya, editor do Conexão Israel. Já Karina Calandrin, pesquisadora do Instituto de Relações Internacionais da USP e colaboradora do IBI, em entrevista à Record News.
CONFIRA OS DESTAQUES DA SEMANA PASSADA!
IBI no Pacto pela Democracia: O Instituto Brasil-Israel agora faz parte do Pacto pela Democracia, iniciativa da sociedade civil brasileira voltada à defesa e ao aprimoramento da vida política e democrática no Brasil. Trata-se de um espaço plural, apartidário e aberto a cidadãos, organizações e também atores políticos que compartilham do compromisso de resgatar e aprofundar práticas e valores democráticos diante dos inúmeros desafios que temos enfrentado ao longo dos últimos anos no país. Saiba mais.
Entre a Ucrânia e Putin: No Expresso Israel desta semana, as jornalistas Daniela Kresch e Isabella Marzolla falaram sobre o equilíbrio diplomático protagonizado por Israel na guerra entre Rússia e Ucrânia. O país está oferecendo um novo apoio, dessa vez militar, para a Ucrânia se defender. E ao mesmo tempo, deve contemplar um interesse antigo de Putin, com a oferta de uma área considerada sagrada para a igreja católica russa, dentro do território israelense. No segundo bloco do programa, as jornalistas falaram da decisão do governo israelense de flexibilizar o uso de máscaras. Veja.
E xs namoradinhxs? Se você é ou já foi um jovem judeu, provavelmente já deve ter sido questionado sobre casamento no seder de pessach, um jantar de shabat ou até em uma quebra de jejum em Iom Kipur. Será que a pressão pelo casamento influencia a vida de jovens judeus? Para destrinchar esse assunto, as apresentadoras Anita Efraim e Amanda Hatzyrah conversaram com Beatriz Len, psicóloga clínica de orientação psicanalítica, no podcast “E eu com isso?” desta semana. Ouça.