Carta do presidente: o que conflitos nos ensinam

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Acredito que você, como eu e tantas outras pessoas de dentro e de fora da comunidade judaica, com maior ou menor envolvimento com o judaísmo e o sionismo, esteja sentindo uma combinação de angústia, tristeza e perplexidade com relação à invasão da Ucrânia pela Rússia.

Para nós, profissionais e voluntários do Instituto Brasil-Israel, ativistas apaixonados, o tema tem provocado intensos debates e trocas de ideias.

Em primeiro lugar porque, apesar da distância geográfica, nos sentimos relativamente próximos tanto da Ucrânia quanto da Rússia e, principalmente, de seus povos.

Estes são territórios nos quais desenvolveu-se um importante capítulo da história judaica. Os nomes das cidades mencionadas diariamente nos telejornais ressoam em nossa memória.

E não se trata apenas de passado. Ainda hoje, dezenas de milhares de judeus vivem nos dois países. O próprio presidente Volodymyr Zelensky é judeu.

Além do mais, ondas migratórias mais ou menos contínuas ao Estado de Israel vêm fazendo com que russos e ucranianos constituam parte importante da população israelense.

Mas há uma segunda razão.

Acreditamos que, guardadas as devidas diferenças, nossa abordagem da questão Israel-Palestina pode contribuir com a forma como enxergamos outras questões ao redor do mundo.

Como você sabe, temos em nosso DNA a proposta de trazer a complexidade, os paradoxos e as diversas camadas dos temas que tratamos. Ao mesmo tempo, lutamos incansavelmente pela justiça, pela liberdade e pelos direitos humanos contra todo tipo de autoritarismo.

Não há fronteiras para a defesa desses ideias: o que vale para Israel e Palestina, vale para o Brasil e para a Europa.

Não podemos aceitar a invasão de um país pelo outro, ataques contra a população civil ou mesmo uma situação de ocupação. Nesse sentido, a ação da Rússia contra a Ucrânia merece todo o nosso repúdio.

Putin falou em “desnazificar” a Ucrânia, como justificativa para a ação militar.

Na Segunda Guerra, 1 milhão de judeus ucranianos foram assassinados, e o colaboracionismo de uma parte dos ucranianos é reconhecido. O neonazismo é de fato presente na estrutura social e política do páis. Mas hoje, felizmente, está longe de constituir uma questão central como o líder russo sugere.

Um ponto que chama a atenção é a espantosa similaridade do posicionamento da extrema esquerda e da extrema direita, que hesitam em condenar a invasão da Ucrânia, por motivos diferentes. Supreendentemente, relativizam posicionamentos históricos à luz dos atores envolvidos.

Preferimos seguir outro caminho. Buscando uma maneira de encarar as situações com as quais nos defrontamos sem renunciar aos nossos valores.

À luz da experiência que acumulamos olhando para o Oriente Médio, algumas questões permanecem: como manifestar o nosso repúdio sem confundir governantes e sociedade civil? Pressionando suficientemente um país e minimizando as consequências à sua população? Identificando complexidades mesmo em situações nas quais existe um grande desequilíbrio de forças e sem que isso signifique conivência?

Nessa questão geopolítica, o Estado de Israel encontra-se em uma situação muito peculiar, buscando, entre os mais variados motivos, equilibrar-se entre russos e ucranianos, apoiados pelos EUA.

Aqui no IBI, acreditamos que a diplomacia, o diálogo e a construção de pontes são as ferramentas que temos à disposição para intervir na realidade. 

Certamente, você deve ter outras percepções sobre este conflito, que gostaríamos de ouvir. Nossa proposta aqui é de trazermos o debate sem preconceitos ou cancelamentos.

Um abraço,

David Diesendruck

Presidente do Instituto Brasil-Israel 


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Israel, entre Rússia e Ucrânia

Com mais de um milhão de imigrantes russos, um contingente de ucranianos que tende a aumentar, e fundamentais questões geopolíticas em contínua transformação, a reação de  Israel ao conflito entre Rússia e Ucrânia foi tema de episódio de podcast, de artigos e de vídeo publicados esta semana.

Daniela Kresch, colaboradora do IBI em Tel Aviv, correspondente internacional em Israel da Folha de S. Paulo e da Rádio França Internacional, conversou com Anita Efraim e Ana Clara Buchmann no “E Eu com isso?”, sobre a importância da Rússia no contexto do Oriente Médio, e o apoio estratégico dos Estados Unidos. Ouça. 

O colaborador do IBI Leonel Caraciki, diretor da ONG Shaharit – Creating Common Cause, escreveu sobre o delicado equilíbrio diplomático israelense, buscando interlocução com a Rússia e a Ucrânia ao mesmo tempo. Leia. 

No Expresso Israel, a jornalista Isabella Marzolla conversou com Daniela Kresch sobre como o Museu do Holocausto de Israel (Yad Vashem) está lidando com as sanções econômicas dos EUA a Roman Abramovich, oligarca russo muito próximo ao Putin, dono do Chelsea e segundo maior doador do museu. Assista.  

Daniela Kresch também escreveu artigo sobre a informação de que o monumento de Babi Yar, em Kiev, em homenagem às vítimas do Holocausto, havia sido destruído pela guerra, depois desmentida. Leia. 

Sionismo não é palavrão: Você conhece a origem do povo judeu? Sabe qual é a história do sionismo? Sabe que há antissemitismo tanto na esquerda quanto na direita? Acredita que é possível ser judeu e discordar do governo de Israel? Priscila Franco recebe o assessor acadêmico do IBI, Michel Gherman, para discutir esses e outros assuntos. Neste domingo, 20 horas, pelo Instagram. Acompanhe. 

Purim LGBTQIA+: Para celebrar a festa de Purim, que este ano ocorre nos dias 16 e 17 de março, o Gaavah, coletivo LGBTQIA+ do IBI, preparou dois eventos virtuais. O primeiro ocorre no Dia da Mulher, dia 08/03 às 19 horas, com estudo de texto feministas. O segundo, no dia 16/03, também às 19h, terá como tema a resistência e opressão. Participe. 

IBI no Campus: Já passa de 100 o número de inscritos desta temporada no IBI no Campus, projeto nacional e online de estudo e pesquisa sobre judaísmo, sionismo, Israel e Palestina. Serão quatro laboratórios: História e Memória do Holocausto, Conflito Israel-Palestina, Mulheres do Conflito e Novas formas de Antissemitismo no Brasil. Ainda dá tempo de se inscrever. 

Curso sobre antissemitismo: O curso “Antissemitismo: Um Tema e Suas Expressões”, organizado pelo Hashomer Hatzair Rio e pelo Centro Cultural Mordechai Anilevitch (CCMA), com apoio do Instituto Brasil-Israel e do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos (NIEJ-UFRJ), aborda o antissemitismo, a perseguição e a discriminação de judeus na contemporaneidade. Inscreva-se.

Crescimento da extrema direita: Em longa matéria para o jornal O Globo, o assessor acadêmico do IBI, Michel Gherman, e a colaboradora do IBI Karina Calandrin analisaram o aumento de grupos da extrema-direita no Brasil. Leia. 

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