Convivo com a impressão de que o que vem ocorrendo na política mundial não vem sendo avaliado nem entendido da forma correta, ou a minha percepção está errada. Acompanho a situação mundial há tanto tempo que creio ter desenvolvido está percepção abrangente dos fatos.
Como judeu, filho de pais judeus poloneses creio que fui sutilmente levado a me entender inserido nesta realidade. O fato de desde jovem ter sido ativo num movimento juvenil judaico, de orientação sionista socialista, só acentuou está minha visão de pertencer de maneira ativa à sociedade mundial.
Estas minhas reflexões se fazem em função, entre outras, em reação mesmo a um inominável encontro entre o atual chefe da nação brasileira e uma deputada alemã da extrema direita que mal esconde suas raízes nazistas e como o citado cidadão, se apresenta como simpatizante do povo e do estado judeu, tendo também sido recebida pelo ex-primeiro ministro de Israel, que já tinha recebido outras lideranças europeias do mesmo naipe.
Como entender esta monstruosidade?
Por mais absurda que pareça, não parece difícil entender esta situação.
Se alguma coisa, alguma ideia for difundida nestes mais de oitenta anos desde a derrota do império nazista, é a noção de que este regime se constituí no mais perverso sistema da história, responsável pela morte de mais de oitenta milhões de pessoas e pelo assassinato intencional de seis milhões de judeus. Esta última não sendo uma verdade aceita por todos, mas até hoje é bastante difundida e aceita por muitos. Certamente não é uma verdade que quem tenta arrebanhar populações será bem-sucedido como sucessor dos responsáveis por aquela mortandade.
Muito pelo contrário, melhor se apresentar, já que hoje os sobreviventes estão organizados como Estado, apresentá-los como amigos fiéis dos líderes e do povo do tal Estado. Quantos acreditarão na honestidade destes sucessores? Afinal o Grande Líder perdeu ou ganhou a guerra?
E na verdade esta situação atual será tão nova assim?
Quem acompanha as entrelinhas da política mundial certamente terá percebido tendências que tudo têm a ver com os fatos mais recentes da política mundial.
Quem se convenceu do silêncio dos ovos da serpente, silêncio apenas parcial, pois não raramente vimos surtos momentâneos de produções literárias de livros que sem caracterizar os autores evidentemente difundem ideias que “justificam” ou negam tais assassinatos.
Sorrateiramente temos visto nestas décadas, concepções tratando de reduzir a culpabilidade daqueles assassinos, e isto vem sendo feito das mais variadas formas:
1, Os assassinos não foram nem os únicos e certamente não os piores. Stalin matou muito mais(?!). Mao não fez por menos. Ou seja, o cabo do exército alemão não foi tão terrível. Segundo me parece, os que defendem esta tese vêm como secundários fatos como os dois estados não terem sido responsáveis por guerras mundiais e suas consequências. Seja como for, temos visto estas manifestações com naturalidade.
2. Situações como os Julgamentos de Nuremberg e as abomináveis figuras ali presentes, em aberto não são citadas e podemos muito bem imaginar que em situações mais favoráveis pelas quais lutam os ovos das serpentes, seriam inocentados e até mesmo idolatrados.
3. Mesmo entre nós, no atual governo, o silêncio não é total, as repulsivas personalidades nem sempre estão tão escondidas, fazendo súbitas aparições das mais disfarçadas formas: citações mais ou menos claras do “intelectual” Goebbels, simbolismos fascistóides, elogios a torturadores continuadores da “obra” mengeliana.
4. Hoje, setenta anos após o fim da guerra patrocinada por aqueles impressionantes líderes e derrotados inicialmente pela não menos impressionante batalha de Stalingrado, setenta anos depois, o que vemos? Não poucos países, na própria região onde se deram as trágicas ocorrências, a enorme destruição desta grande batalha; comandados por lideranças que não escondem idéias filonazistas ou, como é possível suspeitar, francamente nazistas. Mais impressionante ainda, estas lideranças são recebidas e abraçadas por outras, que se pode imaginar, representam futuros adeptos.
Esta situação não é de todo surpreendente. É, conforme entendemos o resultado de uma atividade coerente de herdeiros daquelas lideranças julgadas em Nuremberg, que nunca deixaram de aspirar o retorno e o sucesso de seus precursores e mestres. De livros enaltecendo e inocentando os antecessores, seja aqui e ali agredindo os judeus sobreviventes. Seja como for está clara a intenção de reviver a sociedade almejada e parcialmente (sic) realizada.
Pode-se então imaginar em nosso meio atitudes mais espantosas que herdeiros destas monstruosidades como são evidentemente tantos membros do atual governo brasileiro (a começar por seu líder) e posturas como a visita ao museu das vítimas de seus antecessores, ou a utilização pública da bandeira do estado criado pelos sobreviventes?
Nos últimos dias o cinismo neonazista, adequadamente sintonizado a todo o acima descrito, chegou ao seu extremo: os ovos ou até mesmo a serpente se fizeram presentes no Chile. Um órgão da imprensa com quase duzentos anos, publica um artigo de página e meia comemorativo aos 75 anos da morte do líder nazista Göring. Em resposta a intensas manifestações de repúdio à publicação, os redatores se viram na obrigação de se manifestar afirmando não ser o artigo apologético do nazismo e o jornal condenatório do regime nazista e simpatizante do povo e do estado judeu. O jornal simplesmente “cometera um erro”
Estaríamos ou não diante de manifestações dos ovos ou até da própria serpente?
Como já apontado, o jornal chileno, do alto de seus dois séculos de atividade “admitiu que errara” ao publicar o texto. Alguém estará disposto a crer num possível pedido de desculpas originário de grupos como este do Chile ou de outros da Hungria, da Polônia ou mesmo de Brasília?
Certamente continuaremos a conviver com as manifestações surdas da atividade da serpente intentando completar o trabalho interrompido há quase oitenta anos. Que não nos iludamos com admissão de “erros”.