TEL AVIV – Uma cena impensável há apenas alguns anos aconteceu na semana passada. Um primeiro-ministro de Israel foi recebido com toda a pompa e circunstância em Manama, capital do Bahrein. O Hatikva, o hino de Israel, foi ouvido abertamente no reino do Golfo Pérsico. Algo mudou no Oriente Médio desde a assinatura dos Acordos de Abraão, em agosto de 2020. Está cada vez mais claro que a mudança é real e, quem sabe, duradoura.
O premiê Naftali Bennett viajou para o Bahrein na quarta-feira, 16 de fevereiro. Se encontrou com o rei e o príncipe herdeiro. Foi calorosamente recebido. A viagem é mais um exemplo do novo relacionamento diplomático entre Israel e alguns países muçulmanos, como os Emirados Árabes, o Marrocos e o Sudão.
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Uma importante e histórica mudança geopolítica acontece em tempo real. Desde os Acordos de Abraão, os laços entre Israel e o Egito – que viviam uma “paz fria” desde o fim da década de 70 – também esquentaram. Um gesto do presidente egípcio, Abdel-Fattah el-Sissi, há alguns dias, emocionou demais os israelenses. El-Sissi cruzou um salão de convenções no Cairo apenas para cumprimentar pessoalmente a ministra de Energia de Israel, Karine Elharrar, que tem distrofia muscular e é cadeirante.
Elharrar é a mesma que recebeu atenção internacional depois de não poder participar da cúpula climática COP26 em Glasgow, no ano passado, porque não havia acesso a cadeirantes. O vídeo mostrando el-Sissi cruzando o salão para falar com a ministra levou Bennett a escreveu no Twitter: “Presidente al-Sisi (sic), você tocou a todos nós”. (A grafia do sobrenome do líder egípcio não é consenso).
Independentemente da posição política, todos em Israel festejam os novos laços diplomáticos regionais. Até a esquerda reserva alguns elogios para os ex-líderes direitistas Donald Trump e Benjamin Netanyahu por terem levado adiante os Acordos de Abraão (sinceramente, não sei se outros líderes teriam obtido sucesso nisso, talvez sim… ou talvez não).
Essa mudança geopolítica é um sonho que o Estado nutre desde sua fundação, em 1948. Ou até antes disso. Os pioneiros, os imigrantes das primeiras aliot do século 19, que almejavam lutavam pela autodeterminação dos judeus na Palestina histórica sob o domínio turco, sempre sonharam em fazer parte integral das nações do Oriente Médio. De forma um tanto ingênua, acreditavam que seriam recebidos de braços abertos pelos povos vizinhos.
A pergunta, no entanto, é se essa normalização de Israel por alguns países do Oriente Médio acontece apenas a nível dos governos ou é algo também refletido a nível popular. Será que os governos de Emirados, Bahrein, Marrocos e Sudão (e também Egito e Turquia) decidiram incluir Israel na diplomacia da vizinhança apenas por motivos estratégicos e econômicos?
Alguns acham que sim: querem apenas se aproximar dos Estados Unidos e do Ocidente através de Israel e entrar na roda das inovações tecnológicas. Ou, talvez, querem apenas se unir a todos que tenham o Irã como inimigo em comum. Seria, então, uma aproximação estratégica, não um abraço de real aceitação do Estado judeu, que ainda não goza de apreciação pública a nível das populações desses países.
O conflito com os palestinos ainda é um obstáculo para isso. Mas não só ele: o fato de que Israel é um país de maioria judaica talvez nunca seja aceito por uma região onde existem apenas nações de maioria muçulmana e onde muitos acreditam que esse é o desejo de Alá.
Bennett reconheceu isso em seus comentários ao príncipe herdeiro Salman bin Hamad al-Khalifa, o primeiro-ministro do Bahrein, no início de sua reunião: “Nosso objetivo nesta visita é transformá-la de uma paz entre governos a uma paz entre povos”.
De qualquer forma, os Acordos de Abraão são um passo importante na direção certa. Há motivos para otimismo. O fato de que eles sobreviveram ao conflito com Gaza, em 2021, é um bom sinal. Mas o tempo dirá se sobreviverão casa haja um novo conflito ou uma nova intifada.