Na última quinta-feira, celebrou-se o Dia Internacional da Memória às Vítimas do Holocausto. A data faz referência à liberação de Auschwitz-Birkenau, o maior campo de extermínio nazista, em 1945.
Para marcar a ocasião, é costume dizer: “nós lembramos”.
Mas consideramos importante ir além. E fazemos um convite à reflexão: lembrar do que? Lembrar para que?
Para nós, lembrar do passado só tem sentido se for para agir no presente. Honrar as vítimas é lutar por um mundo onde não exista lugar para novos genocídios.
Ao mesmo tempo, o Holocausto não pode ser tomado como um evento tão excepcional a ponto de se tornar inconcebível. Não foram “monstros”, desses que existem apenas na fantasia, os responsáveis pela tragédia. O Holocausto é fruto da ação dos homens e revela o que seres humanos são capazes se não houver atenção contínua.
Finalmente, é preciso historicizar o passado, compreendendo os processos que levaram à tragédia. O nazismo não começou com Auschwitz. Assim, entender os sinais que preparam o terreno a determinada realidade permite agir enquanto ainda é tempo para evitá-la.
A partir dessa compreensão, a passagem da data inspirou a atuação do IBI em múltiplas frentes.
O marco dos 77 anos da libertação dos campos de Auschwitz serviu como ponto de partida para um debate organizado em parceria com a Universidade Zumbi dos Palmares, com a proposta de investigar as conexões históricas e ainda presentes entre judeus e negros, dois grupos violentados que compartilham, na perspectiva de seus algozes, a dimensão mais elaborada de raças inferiores ou degeneradas.
O painel contou com três especialistas: Rosiane Rodrigues, a doutora em Antropologia, conselheira consultiva do IBI e especialista em Altos Estudos do Holocausto pelo museu Yad Vashem de Israel; Omar Thomaz, professor de pós-graduação em Antropologia Social e História da UNICAMP; e Carlos Reiss, educador e coordenador-geral do Museu do Holocausto de Curitiba.
Na imprensa, Roberto Simon e Natalia Pasternak, integrantes do Conselho Consultivo do IBI, publicaram um artigo no jornal O Globo sobre memória do Holocausto e pandemia, e a disseminação da lógica negacionista.
Natalia também participou do programa Em Pauta, da GloboNews, no qual o jornalista Guga Chacra citou o IBI ao apresentá-la para o público. “Os negacionismos histórico e científico são duas faces da mesma moeda”, alertou a microbiologista.
O assessor acadêmico do IBI, Michel Gherman, falou sobre o simbolismo da data e a luta contra o antissemitismo ao canal My News.
Já a edição desta semana do podcast “E eu com isso?”, com o professor da USP Sarkis Sarkissian, trouxe à tona uma outra experiência histórica trágica: o genocídio armênio – calcula-se em 1,5 milhão, o número de vítimas -, perpetrado pelos turcos no começo do século XX, e que serviu de preâmbulo para a elaboração da “solução final” nazista.
E o Gaavah, coletivo judaico LGBTQIA+ do IBI, apresenta, até o dia 30, algumas histórias de pessoas LGBTQIA+, não necessariamente judias, que resistiram ao nazismo. Estima-se que 50 mil pessoas de vivência LGBTQIA+ foram aprisionadas, e 15 mil enviadas aos campos de concentração. Já foram divulgadas as história de Rudolph Brazda e Karl Gorath.
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Alerta global sobre antissemitismo: A celebração do Dia Internacional em Memória às Vítimas do Holocausto foi marcada também por um alerta global sobre o crescimento do antissemitismo durante a pandemia. Não apenas agressões verbais e físicas se multiplicaram, como discursos de distorção do Holocausto encontraram terreno fértil, à razão de 10 casos relatados por dia em 2021, segundo levantamento da Agência Judaica e da Organização Sionista Mundial (OSM).
A França, por exemplo, registrou ao menos 589 atos antissemitas no último ano, aumento de 75% em relação a 2020.
O tema foi tratado no Expresso Israel, com as jornalistas Daniela Kresch e Isabella Marzolla.
O case Brasil 247: Em um caso local de antissemitismo, a jornalista Lúcia Helena Issa se referiu a Israel como sendo um paraíso mundial dos pedófilos, entre outras absurdos, em um programa na TV 247. O IBI, ao lado de outras organizações da comunidade judaica, denunciou esse material, solicitou sua exclusão e reivindicou um espaço na mesma plataforma para contrapor as acusações.
Em seguida, a TV 247 retirou a live do ar. Adicionalmente, convidou os professores Michel Gherman, assessor acadêmico do IBI, e Bia Kushnir, autora da obra “Baile de máscaras: mulheres judias e prostituição – as polacas e suas associações de ajuda mútua”, para uma entrevista na qual os pontos da live excluída puderam ser rebatidos.
A fala de abertura da editora do canal, Gisele Federicce, foi elucidativa: “Ao longo desta semana descobri que existe um desconhecimento imenso sobre o que é antissemitismo. Existe uma confusão grande sobre o que é preconceito e negacionismo quando se trata de judeus”.
Como dissemos, lembrar do passado só tem sentido se for para agir no presente. E, para tanto, é preciso compreender os processos em curso. Esse é o modo IBI de fazer. Ficamos felizes de poder contar com você nessa caminhada.
Aula inaugural na UnB: Na última quarta-feira, o departamento de história da UnB transmitiu uma aula inaugural sobre o conflito palestino-israelense, ministrada por Michel Gherman. O evento teve uma importância singular, na medida em que a Associação dos Docentes da universidade publicou em março do ano passado uma moção contrária a qualquer cooperação da UnB com Israel. No documento, a associação atribuiu o status de apartheid ao Estado judaico. Veja.
Dia da Visibilidade Trans: Hoje é o Dia Nacional da Visibilidade Trans. Para celebrar, o Gaavah conversa com Rivka Ramos Mendes, uma pessoa trans não-binárie que coloca sua vivência enquanto pessoa trans na sua arte poética em português e iídiche, o idioma milenar judaico falado pelas comunidades ashkenazim. Às 19h40, na página do Gaavah no Instagram. Mediação de Daniela Wainer. Acompanhe.