TEL AVIV – Desde que o ex-primeiro-ministro de Israel, Benjamin “Bibi” Netanyahu, deixou o cargo, em meados de 2021, após 12 anos de poder, a pergunta é quando – e se – ele finalmente deixará a vida pública. É possível que isso aconteça em breve. Ao que tudo indica, ele negocia um acordo judicial no qual admitiria culpa nos casos de corrupção pelos quais está sendo julgado. Em troca, ele não iria para a prisão. Mas, por consequência, não poderia atuar em cargos públicos por sete anos – uma longa temporada para alguém com 72 anos de idade.
Netanyahu é acusado de suborno, fraude e quebra de confiança em três casos complicados. Até hoje, ele nega todas as acusações. Há anos, ele diz que lutará até o fim para provar inocência. Mas esse acordo pode ser “doce” o suficiente para fazê-lo mudar de ideia. Em vez de enfrentar uma longa sentença de prisão se for condenado por todas as acusações (que incluem troca de favores com magnatas da mídia e recebimento de presentes luxuosos de benfeitores ricos), ele só enfrentaria acusações menores como fraude e quebra de confiança.
Os israelenses acompanham cada fragmento de rumor sobre esse possível acordo, que ganhou tração diante do fato de que há um deadline para ele. O procurador-geral, Avichai Mandelblit, deixará o cargo no fim de janeiro. E, quando deixar o posto, ninguém sabe quanto tempo passará até que seu substituto assuma. E mais importante: ninguém sabe se o próximo procurador-geral será alguém que simpatize com Netanyahu a ponto de oferecer um bom acordo. Mandelblit, mesmo tendo sido quem indiciou Netanyahu, foi indicado para o cargo pelo próprio ex-premiê.
Segundo a imprensa israelense, o dia D para o acordo judicial é segunda-feira, 24 de janeiro. Se, até essa data, não houver consenso entre a defesa de Netanyahu e a procuradoria, provavelmente não haverá acordo. O grande empecilho é justamente que Netanyahu admita ser chamado de criminoso até o fim da vida. Ele não quer isso em sua biografia.
O maior proponente do acordo judicial é, surpreendentemente, Aharon Barak, ex-presidente da Suprema Corte, considerado quase um “herói” pela esquerda israelense e um alvo frequente de críticas na direita. Em várias entrevistas à mídia, Barak disse que o fim da saga de Netanyahu era fundamental para a “cura nacional”. Mas pesquisas de opinião sugerem que cerca de metade dos israelenses se opõem a um acordo judicial – incluindo tanto críticos quanto apoiadores de Netanyahu. Os críticos querem que a justiça seja feita, enquanto os apoiadores querem nada menos que uma exoneração total.
Bibi é, atualmente, parlamentar e líder da oposição ao governo do primeiro-ministro Naftali Bennett e do chanceler Yair Lapid. Ainda é o principal nome do partido de direita Likud, que promete voltar ao poder em breve e coroá-lo novamente como premiê. Essa promessa é justamente a “cola” que une Bennett e Lapid.
O que une os sete partidos que estão no poder – dois de centro, dois de esquerda e três de direita, além do 8º partido, o árabe Raam, que não é oficialmente parte da coalizão – é a ojeriza a Netanyahu, para eles um político populista, narcisista e corrupto que testou os limites da democracia. Se Bibi admitir a culpa num acordo judicial e se retirar da cena política, todas as cartas da política israelense vão se embaralhar.
Se Bibi se for, o Likud terá um novo líder que pode acenar para o lado mais à direita da coalizão. Afinal, sem a ameaça “Netanyahu”, que sentido haveria em continuar num governo tão heterogêneo, no qual nenhuma medida mais ideológica – de direita ou esquerda – pode sair do papel?
Justamente por isso é que o Likud já parece estar no “day after” Netanyahu, com três principais candidatos à liderança do partido se digladiando pela sucessão: Nir Barkat, ex-prefeito de Jerusalém; Yuli Edelstein, ex-presidente do Knesset; e Israel Katz, ex-chanceler e ex-ministro dos Transportes e das Finanças. Os três querem ser o próximo premiê pelo Likud, reunindo em torno do maior partido de direita todas as legendas e líderes direitistas – inclusive os que fazem parte da atual coalizão.
Diante dessa ameaça, Naftali Bennett e Yair Lapid observam cada passo, cada boato, cada meia palavra do “campo Bibi”. As cartas da política israelense podem estar prestes a ser re-embaralhadas.