Começamos o ano de 2022 com a notícia de que a surrogacia, prática popularmente conhecida como “barriga de aluguel”, foi aprovada para casais gays em Israel. No entanto, a medida, que parecia ser mais uma conquista para a comunidade LGBTQIA+, passou a ser criticada por setores feministas da sociedade israelense, a partir de uma questão complexa que, até então, não estava na pauta: como ficam as mulheres e pessoas com útero depois de passar por esse processo? Dá para dizer que é uma questão de escolha quando, na maioria das vezes, essas mulheres se submetem ao procedimento por necessidade financeira? E, para além dos efeitos físicos, quais são os efeitos mentais e os impactos nas relações sociais dessas pessoas?
O assunto é bastante delicado e merece uma discussão mais aprofundada, por isso, no episódio desta semana do podcast “E eu com isso?” do IBI, as apresentadoras Amanda Hatzyrah e Anita Efraim conversaram com a Elisa Tetelbom Schucmann, uma mulher judia, lésbica, médica gineco-obstetra e mãe da Sofia. E também com o Márcio Albino, jornalista, gay, educador social de HIV/Aids no Grupo Dignidade. Além disso, o Márcio foi idealizador dos Voluntários Arco-Íris, organização comunitária LGBTQIA+ em Curitiba (PR) e já prestou assessoria LGBT+ para o Museu do Holocausto de Curitiba e está como consultor LGBT+ do Memorial do Holocausto do Rio. Os dois convidados são ativistas LGBTQIA+ e fazem parte do coletivo Ga’avah, coletivo LGBT+ do IBI.
“A Suprema Corte de Israel entendeu que era injusta essa desigualdade ao acesso da surrogacia para os casais gays”, explica Márcio Albino, que abriu a conversa no episódio explicando os conceitos e a situação dos direitos garantidos à população LGBTQIA+ em Israel.
“Acusações de pinkwashing ignoram o fato de que nem toda conquista LGBTQI+ em Israel vem do Estado. Não é o Estado que quer se autopromover e gera uma conquista. As conquistas vêm porque existe um movimento LGBTQI+ que pressiona o governo o tempo todo”, acrescenta Albino.
Já a médica gineco-obstetra, Elisa Tetelbom Schucman, falou sobre as questões trazidas por um setor das feministas sobre a surrogacia e os efeitos físicos e psicológicos na mulher, durante o processo. “Há muita polêmica e discordância. Algumas feministas defendem que é um direito da mulher “se vender”, e que se ela quer “se vender” vai ser para quem ela quiser, homens gays ou casais heterossexuais. Mas eu acho que não dá para deixar de olhar para as mulheres que são vítimas desse processo”, contou Elisa.
“Em Israel, já se tem dados: os casais ou as mulheres solteiras contratantes têm mais educação e mais renda do que as mulheres contratadas. E a maior parte das mulheres contratadas diz que está fazendo aquilo por uma questão financeira. Se é direito da mulher vender o seu corpo e ajudar a trazer uma vida ao mundo, por que só as pobres o exercem? Por que não tem rica fazendo isso?”, completa a médica.
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