Duas eleições presidenciais, na França e no Brasil, prometem agitar o cenário político no ano que vem. Em ambas, sobe ao palanque um debate de certa forma jamais visto, colocando em foco questões centrais relacionadas à judeidade. Temas como identidade judaica, antissemitismo e o Estado de Israel.
Com a extrema direita à espreita, nos dois países os discursos já estão acirrados. Mais que tudo, é preciso monitorá-los.
Neste sentido, o IBI produziu dois materiais importantes ao longo da semana.
Em uma frente, a publicação de um artigo na Folha de S.Paulo, assinado por Michel Gherman e Miguel Lago, trazendo uma análise sobre a candidatura de Éric Zemmour, que disputa palmo a palmo com Marine Le Pen o protagonismo ultraconservador, supremacista e xenófobo naquele país. O artigo foi fruto de uma conversa entre os dois em um episódio imperdível do podcast E eu com isso?.
Por que sua ascensão preocupa tanto? Zemmour, que é judeu de origem argelina, apropriou-se de um lugar de fala traiçoeiro.
No pensamento do ícone da extrema-direita francesa Jean-Marie Le Pen, se condensa essa preocupação: “a única diferença entre mim e Zemmour é que ele é judeu, então é difícil qualificá-lo como nazista ou fascista. Isso dá a ele grande liberdade”.
Coloque-se nesta conta a negação, por parte de Zemmour, do colaboracionismo do governo francês durante a Segunda Guerra e, indo mais longe, a sua dúvida em relação à inocência do oficial do exército francês Alfred Dreyfus, falsamente acusado de traição, no começo do século passado, no que se tornou um dos mais célebres escândalos de antissemitismo.
HADDAD E A ESQUERDA
Na mesma semana, inaugurando a série “Diálogos sobre política”, Fernando Haddad, ex-ministro da Educação, ex-prefeito de São Paulo e candidato derrotado por Jair Bolsonaro nas últimas eleições presidenciais, participou de um live com transmissão simultânea nas páginas de Haddad e do Instituto Brasil-Israel no Instagram em que teve a oportunidade de passar a limpo a cartilha da esquerda brasileira em relação a alguns dos temas envolvendo Israel e a comunidade judaica.
Haddad, que já visitou Israel, classificou a viagem como “apaixonante”. “Jerusalém é uma cidade santa, por mil e uma razões. Você sente ali o peso das religiões universais e da espiritualidade. Tel Aviv é uma cidade maravilhosa”, disse.
E destacou a importância de conhecer o Yad Vashem. “Foi uma das experiências mais dramáticas que eu vivi na vida. É realmente muito impactante. Eu acho que todo mundo que for a Israel deveria visitar o Museu do Holocausto para saber onde está o extremismo. E de qualquer ideologia, não estou falando aqui de ‘a’, ‘b’ ou ‘c’. Qualquer pensamento intolerante com os seres humanos é inaceitável”.
Sobre o conflito entre israelenses e palestinos, o ex-candidato disse: “Eu sou da tese de que nós temos dois povos e devemos organizar dois Estados. Eu sou da tese de que nós precisamos organizar o Estado Palestino. E sou muito favorável à organização do Estado de Israel e da segurança do Estado de Israel”.
Por fim, questionado sobre a possibilidade de ser sionista e, ao mesmo tempo, de esquerda – uma combinação nada óbvia tanto entre setores progressistas como entre setores conservadores -, Haddad respondeu:
“Você deve conhecer um filósofo judeu radicado na França chamado Emmanuel Levinas. E o Levinas dizia o seguinte: olha, o pluralismo que exige a anulação da sua especificidade não é pluralismo, é totalitarismo. Quer dizer, a partir do momento que você exige que uma pessoa se desgarre de parte de sua essência para se apresentar como um igual, você não está fazendo o movimento correto para compreender a essência humana. Impor condições para a aceitação é uma coisa que, em termos culturais, não faz o menor sentido”.
Posicionamentos como esses, alertando contra o antissemitismo e em defesa de uma solução pacífica e justa para o conflito entre israelenses e palestinos, ainda mais quando vindos de uma das mais importantes lideranças da esquerda nacional, têm uma enorme capacidade de influenciar pessoas.
Dar visibilidade a eles é parte do nosso papel.
CONFIRA OS DESTAQUES DA SEMANA!
Expresso Israel: No Expresso Israel desta semana, programa que apresenta as principais notícias de Israel e região, com as jornalistas Daniela Kresch e Isabella Marzolla, o destaque são os ataques de Israel a Síria, em março, e mais especificamente o bombardeio do dia 8 de junho deste ano, em Damasco e Homs. De acordo com fontes ouvidas pela reportagem do The Washington Post, Israel teme que a Síria esteja reativando seu programa de armas químicas. Além disso falamos da polêmica envolvendo um filme da Jordânia que poderia ter ido ao Oscar e o avião luxuoso que o governo Bennett-Lapid se recusa a usar. Veja.
Eterna Anne Frank: No “E eu com isso?”, o podcast do IBI, o tema foi sobre o “Diário de Anne Frank”, clássico da literatura mundial que tem suscitado debates acalorados. Por que uma obra escrita há décadas por uma garota de 13 anos mobiliza tanto, ainda hoje, os ânimos das pessoas? Qual a sua real mensagem e o que podemos aprender com Anne Frank no século XXI? As apresentadoras Anita Efraim e Amanda Hatyzarah conversaram com a escritora Thais Lancman e com o editor Paulo Werneck, da revista Quatro Cinco Um. Ouça.