O conflito esfriou? Dois atentados no mesmo dia provam que não

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TEL AVIV – Às vezes, uma temporada mais tranquila pode levar à ilusão de que o conflito entre israelenses e palestinos arrefeceu. Mas dois atentados – um fatal em Jerusalém e outro em Jaffa -, na semana passada, foram um lembrete de que esse conflito é como um vulcão que acumula pressão antes de explodir. As temporadas de tranquilidade escondem o fervilhar da pressão que, eventualmente, se transformará em lava.  

No domingo, 21 de novembro, um palestino atirou contra um grupo de civis israelenses na Cidade Velha de Jerusalém, matando um deles: Eliyahu “Eli” Kay, 26 anos, um imigrante da África do Sul. Eli trabalhava como guia turístico no Muro das Lamentações e era morador da cidade de Modiin. Outras duas pessoas ficaram feridas. 

O atirador foi identificado como Fadi Abu Shkhaydam, de 42 anos, morador do campo de refugiados de Shuafat, em Jerusalém Oriental. Ele foi morto por soldados após o ataque. Abu Shkhaydam era um conhecido membro do grupo islâmico Hamas, mas não correspondia exatamente ao perfil de um terrorista palestino. Não era um jovem iludido, ingênuo ou fracassado que via uma ação violenta contra israelenses como uma chance para se tornar um mártir, um “herói”. Não era um típico “from zero to hero”. 

Abu Shkhaydam tinha mulher e filho, estava na meia idade, era um professor de Estudos Religiosos e um pregador (anti-Israel, em geral) barrigudo e bem nutrido. Não um jovem ignorante ou desesperado. O que o teria levado a um ato tão violento? Talvez o tom fatalista de seu último post no Facebook dê alguma pista: “Deus determina nosso destino, mas a maioria das pessoas não sabe qual. Nosso destino é uma questão que Deus determina. Deus, em Sua sabedoria e grandeza, escolhe quem Ele quiser e os apresenta ao seu destino”. 

O Hamas rapidamente assumiu a responsabilidade pelo atentado terrorista, chamando o ato de Abu Shkhaydam de “operação heróica”. 

Imediatamente, as forças de segurança israelenses entraram em alerta por dois motivos. Primeiro, porque é preocupante perceber que pode não haver mais um “perfil” específico de palestino que se dispõe a cometer ataques contra israelenses. Pode ser alguém de meia idade, casado, com emprego fixo, conhecido e bem-visto em sua comunidade. 

E segundo, porque após um atentado “de sucesso”, sempre há o perigo de que outros ocorram. Há quem se inspire em ataques que “deram certo” e tente copiá-los. Não deu outra. Horas mais tarde, um palestino de 18 anos de Jenin, na Cisjordânia, esfaqueou um israelense de 67 anos em Jaffa, cidade mista – com moradores judeus e árabes – que atualmente faz parte de Tel Aviv. Ele foi preso horas depois. A vítima sobreviveu. 

Na TV israelense, o jornalista Ohad Chemo – conhecido e corajoso repórter que se aventura pelos territórios palestinos com seu árabe perfeito – decidiu entrevistar moradores em Shuafat, o bairro de Jerusalém Oriental de onde saiu Fadi Abu Shkhaydam, o professor transformado em terrorista. Ele encontrou um grupo de jovens palestinos e perguntou o que achavam do atentado.  

A resposta me atingiu como uma faca no coração. Um dos jovens disse que Abu Shkhaydam era um herói ao lutar contra os judeus e que os judeus “deveriam voltar para o lugar de onde vieram”. O repórter, um tanto chocado, perguntou: “Como assim? Que lugar? A maioria dos israelenses nasceu aqui. Aqui é a casa deles”. O rapaz entrevistado retrucou: “Não, aqui é só a nossa casa, não de vocês”.

Não que esse tipo de pensamento seja uma novidade. Há palestinos que ainda hoje, 73 anos depois do estabelecimento de Israel, acham que a Terra Santa é só dos árabes. E, claro, há israelenses que pensam que a Terra Santa é só dos judeus. Mas ouvir isso com todas as letras de um jovem que não deve ter mais do que 16 anos é muito triste. É uma nova geração, influenciada pelos mais velhos, que cresce com pensamentos intransigentes e que vai prolongar esse conflito. 

Tudo isso é prova de que conflito israelense-palestino ferve o tempo todo, mesmo quando parece ter esfriado. Às vezes ferve a fogo baixo, sem barulho, às vezes explode violentamente. Mas está sempre lá, à flor da pele, mesmo que a maioria dos israelenses queira ignorá-lo no dia a dia, se esforce para afastá-lo do pensamento e tente esquecê-lo. Mas fazer de conta não vai dar em nada. Ou melhor: fazer de conta só vai prolongar a realidade atual. 

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