No filme de comédia dramática
lançado mundialmente no Festival Sundance de Cinema em 2019 e dirigido por
Fernando Grostein Andrade, o protagonista Abe é um menino de 12 anos que mora
no Brooklyn, em Nova York, e começa um curso de gastronomia na tentativa de
lidar com um novo conflito em sua família. Ao longo de algumas semanas nas
quais acompanhamos a vida de Abe, ele é confrontado sobre qual religião irá
seguir, o judaísmo provindo do lado materno ou o islamismo de seu lado paterno.
Apesar do amor ter unido os pais
de Abe por quinze anos, a família passou a viver uma “guerra” não tão
silenciosa para influenciar o menino, até então ateu, para o judaísmo e a
cultura israelense ou a islamismo e a cultura palestina, por meio de jantares e
encontros separados com os avós de diferentes origens.
O diretor do filme, filho de mãe
judia e pai católico, mostra no longa-metragem ganhador da 43ª Mostra
Internacional de Cinema em São Paulo (2019), como a cultura, a religião e as
nossas origens se refletem na culinária e nos hábitos sociais.
Abe, tanto pelo contato com a
família materna quanto paterna, observa as nuances e jeitos dos familiares para
compreender as diferenças e possíveis semelhanças entre elas para, assim,
conectá-las pela cozinha, sua paixão considerada incomum entre meninos da sua
idade.
Além do enredo, o cenário do
filme, que se passa em Nova Iorque, enaltece a multiculturalidade, assim como o
elenco, que conta com Seu Jorge na interpretação do chef brasileiro e professor
do curso de culinária, Chico, e o personagem principal, pelo norte-americano
Noah Schnapp, que faz parte do elenco de “Stranger Things”.
A influência da cultura
brasileira no filme se faz presente também na trilha sonora, composta por
grandes sucessos da Música Popular Brasileira, como “Brigas nunca mais” e
“Samba de uma Nota Só”, de Tom Jobim, “Todo Homem”, de Zeca Veloso e “Meia Lua
Inteira”, de Carlinhos Brown.
Por mais que o tom do filme seja
leve e infanto-juvenil, ele condessa e sutilmente perpassa uma das raízes do
profundo conflito entre o Estado de Israel e a Palestina, e propõe uma
possibilidade de visão unificadora entre as duas culturas e respectivas
religiões predominantes em cada região, o judaísmo e o Islã. No caso de “Abe”,
o ponto de congruência é a comida e o amor do protagonista por sua família.
O IBI é um dos apoiadores do
filme e contou com a presença do diretor em uma viagem de imersão em Israel e
na Palestina em 2019.
Em agosto deste ano as apresentadoras do podcast “E EU COM ISSO?” do IBI, Anita Efraim e Amanda Hatzyrah, conduziram uma conversa com o diretor do filme, Fernando Grostein Andrade, sobre a relevância de tratar as nuances da religiosidade na vida de uma pessoa, o papel da comida na formação cultural e a importância da tolerância. Assista à conversa: