IBINews 196: Com que mundo você sonha?

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Policial israelense na prisão Gilboa, no norte de Israel. Em setembro de 1987, uma fuga de prisioneiros palestinos serviu de estopim para a revolta popular que ficou conhecida como a Primeira Intifada.

O assunto que mobilizou Israel na última semana foi a impressionante fuga de seis prisioneiros palestinos do presídio de segurança máxima de Gilboa, situado no norte do país. Dois deles foram localizados e presos nesta sexta-feira e outros dois, no sábado. Mas como esta fuga, a primeira em mais de duas décadas, se deu, é algo digno de um roteiro hollywoodiano.

Os prisioneiros descobriram que a prisão tinha sido construída sobre espécies de palafitas e que havia um espaço embaixo do piso pelo qual poderiam rastejar até o lado de fora. Assim, cavaram um túnel e sumiram no meio da noite.

O feito, como relata nossa correspondente Daniela Kresch, acendeu um alerta. Afinal, foi exatamente uma fuga de prisioneiros palestinos, em setembro de 1987, que serviu de prenúncio e de estopim para a revolta popular que ficou conhecida como a Primeira Intifada.

Cinco dos fugitivos eram membros do grupo Jihad Islâmica, aliado do Hamas, e o sexto, o mais eminente deles, o carismático Zakaria Zubeidi, foi líder das Brigadas de Al-Aqsa, braço armado do Fatah. Alguns aguardavam sentença enquanto outros cumpriam a prisão perpétua. Todos participaram, de uma forma ou de outra, de ações contra o exército ou a população civil israelense, que em alguns casos resultaram em mortes.

De forma geral, para a população palestina, os seis fugitivos, bem como os outros cerca de 5 mil prisioneiros palestinos detidos em presídios israelenses, são militantes heróicos que lutam uma guerra contra a ocupação. Para os israelenses, preocupados com a própria segurança, os fugitivos são terroristas que colocam sua vida em risco.

Talvez o histórico de Zakaria Zubeidi, hoje com 45 anos, pudesse servir como ponto de partida para ilustrar a complexidade desta discussão. Zubeidi oscilou a vida toda entre defender a reconciliação pacífica com Israel, tendo chegado a dirigir um teatro da comunidade palestina, que se propunha exercer a resistência cultural, e sua vasta experiência como militante envolvido em ataques terroristas contra Israel, particularmente durante a Segunda Intifada, duas décadas atrás – um deles, fez 6 vítimas.

Zubeidi trabalhou como operário em um canteiro de obras em Haifa, quando adolescente. Sua mãe morreu baleada por forças do Exército na janela de sua casa. Algumas semanas depois, seu irmão também foi morto e a casa da família, demolida. “Eu nunca vivi como um ser humano”, costumava dizer às dezenas de jornalistas que o procuravam.

Em suma, o tempo todo Zubeidi teve diante de si a opção entre ser militante da paz ou terrorista. Decidiu atuar nas duas frentes, alternando-as. Sua história de vida é a de muitos palestinos.

O filósofo francês Regis Debray escreveu sobre a difícil tarefa de diferenciar um revolucionário de um terrorista. Pergunte a cada um, sugere Debray, com que mundo ele sonha. O mundo dos sonhos de um terrorista, inspira medo. Já o mundo dos sonhos de um revolucionário, dialoga com os valores universais.

Este sábado marca a passagem de uma data importante. Hoje, o atentado de 11 de setembro completa 20 anos. Embora os contextos sejam completamente distintos, cabe a pergunta. O mundo dos sonhos de Osama Bin Laden, todos conhecem. E qual seria o de Zakaria Zubeidi? E o seu?

 

Confira os destaques da semana:

7 de setembro: Era para ser um momento de júbilo e reflexão. No entanto, para boa parte dos judeus brasileiros, o início do novo ano foi vivido com um travo amargo. Em artigo para a Folha de S. Paulo, Michel Gherman, Diretor Acadêmico do IBI, escreve sobre a apropriação indevida de símbolos da cultura judaica nas manifestações ocorridas nesta semana. Leia.

IBI no Campus: Estão abertas as inscrições para o IBI no Campus, projeto nacional e online de estudo e pesquisa sobre judaísmo, sionismo, Israel e Palestina, criado em parceria com diversas universidades. As vagas são para o Laboratório de estudos sobre os Fascismos e o Holocausto e para o Laboratório de estudos sobre o Conflito Israel-Palestina. Inscreva-se.

Estudos Judaicos: Estão abertas as inscrições de ouvintes para o Congresso Nacional de Pesquisadores em Estudos Judaicos 2021, a ser realizado entre os dias 5 e 8 de outubro de 2021, com o apoio do IBI. Além das dezenas de apresentações temáticas, serão realizadas homenagens às professoras Rifka Berezin e Anita Novinsky, uma palestra do escritor e pesquisador Lira Neto e uma apresentação da Orquestra Laetare. Inscreva-se.

Além de Amos Oz: Você já se perguntou o que tem de judaico nas obras de Hannah Arendt ou Clarice Lispector? No podcast “E eu com isso?”, Anita Efraim e Ana Buchmann conversaram com Juliana de Albuquerque, escritora, colunista da Folha de S. Paulo e mestra em filosofia pela Universidade de Tel Aviv. Ouça.

Os penitentes: Misturando ficção e realidade, Heloisa Pait imaginou, nesta crônica, o encontro entre um governador que aspira ao cargo de presidente da República e a comunidade judaica no Yom Kipur, o Dia do Perdão. Leia.

Racismo em pauta: Com participação da historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz e do advogado e professor Thiago Amparo, o IBI promove, no dia 23/09, um debate sobre a luta antirracista e o preconceito contra grupos marginalizados no contexto do lançamento do livro “Casta: as origens de nosso mal-estar”, de Isabel Wilkerson. Parceria com a editora Companhia das Letras.

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