O (adiado) primeiro encontro entre Bennett e Biden

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Foto: Embaixada de Israel em Washington

TEL AVIV – Toda a mídia israelense transmitia, ao vivo, a movimentação para o primeiro encontro entre o primeiro-ministro Naftali Bennett e o presidente americano Joe Biden, em Washington. Mas exatamente na hora que Bennett seria recebido por Biden, na última quinta-feira (26 de agosto), por um golpe de azar, as notícias sobre o atentado terrorista no aeroporto de Cabul, no Afeganistão, explodiram – assim como a bomba – na imprensa americana e mundial.

O resultado foi um raro adiamento, uma espécie de anticlímax na expectativa pelo primeiro encontro, em 12 anos, de um premiê de Israel que não se chama Benjamin Netanyahu e um presidente americano. Finalmente, a reunião aconteceu na sexta-feira (27 de agosto). Tanto Biden quanto Bennett usaram o encontro para passar mensagens a seus públicos. Aliás, para quem se pergunta, Biden não cochilou durante o encontro. É fake news. Ele apenas estava olhando para baixo enquanto o Bennett falava e algumas pessoas, maldosamente, espalharam esse boato.

“Para ambos os líderes, foi um encontro importante”, diz Eldad Shavit, pesquisador do Instituto de Estudos de Segurança de Israel (INSS). “Eles quiseram mostrar que há novas relações entre os dois países. Para Biden, ocorreu à sombra do que acontece no Afeganistão. No caso de Bennett, foi importante mostrar que os EUA acreditam no novo governo e que ele não é como seu antecessor, Benjamin Netanyahu. Se ele conseguir, com isso, abrir uma nova página com o Partido Democrata e com os judeus americanos, será ótimo”. 

Mas o que se espera do relacionamento entre Bennett e Biden, pelo menos durante os 18 meses em que Bennett será (se não houver surpresas…) o premiê? Certamente nada será parecido com a amizade pessoal e a sintonia entre os antecessores. Netanyahu e o ex-presidente republicano Donald Trump eram “brothers”, quase melhores amigos desde a infância. O que acontecerá com Bennett e Biden?

Ironias à parte, a verdade é que Trump era bastante influenciado por Netanyahu. A sintonia era fina. Os dois conversavam com frequência e a impressão era a de que tudo que Bibi queria, Trump entregava. A começar, claro, pela questão do acordo nuclear entre as potências e o Irã. Trump retirou os EUA do acordo, como queria Netanyahu. Trump foi, para o ex-premiê israelense, quase um porto seguro depois de Barack Obama, com o qual o ex-líder israelense não tinha um bom relacionamento, para dizer o mínimo. E Biden era vice de Obama.

Trump agradou a Netanyahu com a transferência da embaixada americana para Jerusalém, com o reconhecimento da cidade como capital e tantos outros regalos diplomáticos. Mas agora, com o democrata Biden na presidência e um novo líder – mesmo que temporário – à frente do governo de coalizão de Israel, todos esperam para ver como será a dinâmica.

“Acho que o presidente Biden está muito ansioso para que este governo em Israel tenha sucesso”, diz o Dr. Eran Lerman, ex-vice-chefe do Conselho de Segurança Nacional e atual vice-presidente do Instituto de Jerusalém para Estratégia e Segurança. “Bennett está definitivamente tentando se livrar do legado de tensões entre o governo israelense anterior e o Partido Democrata”. 

O assunto principal do encontro foi, obviamente, o Irã. Com a saída desastrosa das tropas americanas do Afeganistão e o caos causado pelo Talibã e o Estado Islâmico, a pergunta é: Biden continuará com a intenção de retirar os EUA do Oriente Médio, deixando de atuar como “xerife do mundo”?

Se for assim, o temor, em Israel, é o de que Washington também “abandone” Israel em sua luta contra a corrida armamentista do Irã e a influência iraniana no financiamento do Hezbollah, no Líbano. O Irã já está estabelecido na Síria e tenta atrapalhar como pode a estabilidade da Jordânia. As vitórias do Talibã no Afeganistão também estão assanhando o Hamas, na Faixa de Gaza, que se animou com a situação por lá. Nos últimos dias, a fronteira entre Israel e Gaza voltou a esquentar. 

“A retirada dos EUA dá a Israel um argumento muito forte em relação aos americanos”, acredita Eran Lerman. Não à toa, Bennett passou a mensagem de que Israel é o melhor aliado que os EUA jamais terão no Oriente Médio, que não se desintegrará como o exército do Afeganistão, que se derreteu da noite para o dia.

O que Bennett quer é que Biden atue junto com Israel na questão do Irã, mas não quer melindrar ou pressionar Biden (como Netanyahu fez com Obama). Não quer mais animosidade com os democratas e sim que Israel volte a ser um assunto “bipartisan” nos EUA. A pergunta é como convencer o presidente americano a ver o lado israelense nessa questão do acordo e, ao mesmo tempo, não comprar briga caso Biden decida retomar a doutrina Obama? 

Quanto à questão palestina, ela está em segundo plano neste momento e poucos em Washington acreditam que Bennett, um linha-dura com visões mais à direita que Netanyahu, esteja maduro para avançar algum tipo de acordo de paz. O governo atual de Israel, com seu mosaico de partidos diversos – de direita, esquerda e centro – evita desde o começo esse assunto. 

Outros assuntos, como China e Covid-19, também fizeram parte das conversas e dos pequenos discursos que os dois líderes fizeram, depois. Mas o que importa é que os dois líderes conversaram pela primeira vez e, quem sabe, vão desenvolver uma boa cooperação.

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