TEL AVIV – O fantasma do coronavírus voltou a Israel e está deixando todos confusos. O país estava em clima de “já passou”, com a economia praticamente de volta ao normal. Nada de máscaras, nem em locais fechados. Nada de restrições em festas, eventos, escritórios. Israel achava que já tinha acabado com o pesadelo do coronavírus, que já vivia no mundo pós-Covid.
Mas as coisas estão mudando muito rápido. Em apenas duas semanas, o número de infectados diários passou de meros 15 por dia para mais de 520. E, se não houve morte alguma por semanas, nesta quarta-feira, 7 de julho, foram registradas duas mortes: a de um homem de 86 anos e a de outro homem de 48 (saudável e sem comorbidades). A última morte tinha acontecido só em 23 de junho. E o último dia em que duas pessoas haviam morrido num mesmo dia de Covid-19 foi em 27 de maio.
O vilão da história é a variante Delta. A variante indiana – muito mais infecciosa do que o vírus original ou a mutação britânica – entrou em Israel em meados de junho através de alguém que voltou da Rússia, onde a mutação já está correndo solta. Israel tinha fechado as portas para a Rússia e outros cinco países (Brasil, Argentina, Índia, África do Sul e México), mas havia pouca inspeção no aeroporto. Pela brecha do aeroporto, a tão temida mutação entrou.
Em Israel, quase 60% da população já receberam as duas doses do imunizante da Pfizer/BioNTech. Acima dos 50 anos, o percentual de totalmente imunizados é de 90%. Isso sem contar com os mais de 830 mil recuperados da doença. É possível dizer que Israel vive uma situação de imunidade coletiva, com 70% da população vacinada ou recuperada.
Mas a variante Delta se espalha mais rapidamente e infecta os não-vacinados. Segundo as autoridades, se o imunizante da Pfizer tem eficácia de 96% para combater o vírus original, ele tem 88% de eficácia contra a variante Delta. No surto atual, mais de 40% dos infectados são crianças em idade escolar e cerca da metade adultos totalmente vacinados.
A questão é que, como esses dois grupos estão mais protegidos (as crianças e os adultos vacinados desenvolvem menos a Covid-19, mesmo que contraíram o coronavírus), os casos de doentes graves e de mortes ainda são baixos. Mas isso pode mudar. E esse é o medo. Se há um menos, cerca de 25 doentes de Covid-19 estavam em estado grave nos hospitais do país, agora são cerca de 50. Não parece muito, mas é o dobro e pode ser o triplo em breve. Por outro lado, na última vez que havia 500 infectados por dia, o número de pessoas em estado grave era 140. Bem menos do que agora. Sinal de que a vacinação em massa está poupando o país de um surto bem maior.
Mas ainda sim, o temor existe e o governo não sabe muito o que fazer. Fechar o país todo de novo para evitar o aumento dos casos? Ou esperar que a situação chegue a um número mais alto para isso? Adotar algumas medidas de restrição ou não? Que parâmetro usar: o do número de casos ou o do número de mortes?
Decidiu-se, por agora, apenas exigir novamente que as pessoas coloquem máscaras em locais fechados e tentar fechar o cerco no aeroporto. As autoridades decidiram que todos os viajantes que chegam no Aeroporto Internacional Ben-Gurion serão obrigados a se isolar até receberem os resultados do teste de PCR que fizerem ao desembarcar. Crianças em acampamentos de verão também devem fazer testes.
E decidiu-se também fazer uma forte campanha para vacinação de crianças de 12 a 15 anos (570 mil pessoas). Até esse novo surto, só 15% dos adolescentes tinham sido vacinados. Os pais achavam que não precisava porque a situação estava “sob controle”. Mas tudo mudou.
O primeiro-ministro Naftali Bennett anunciou que seu objetivo era de que 50% dos adolescentes se vacinassem até 9 de julho. Isso porque todas as vacinas que Israel tem vão sair da validade no dia 31 de julho. E, como são necessárias duas doses do imunizante da Pfizer com diferença de três semanas, as crianças que quiserem se vacinar só têm até dia 9 para isso (dia 31 não conta porque é sábado).
Israel também tem cerca de 200 mil doses da Moderna, mas essa vacina não é liberada para crianças com menos de 18 anos.
Até agora, só 160 mil crianças de 12 a 15 anos se vacinaram. Outras 55 mil se recuperaram de Covid. Quer dizer: menos de 40% estão protegidas.
A situação é fluida e complicada, com alguns médicos extremamente preocupados. Sinal de que o mundo só vai mesmo se livrar da Covid quando todos os 7 bilhões de habitantes do planeta estiverem vacinados. Mas o caso de Israel também prova que a vacinação em massa ajudou o país a não viver um surto muito pior, agora. Vacinação é a melhor resposta que existe agora. Vacinação, vacinação, vacinação.