TEL AVIV – As manifestações no Brasil contra o presidente Jair Bolsonaro chegaram a grandes portais de notícias de Israel. Neste domingo, o Ynet, site do jornal Yedioth Aharonoth (Últimas Notícias), o maior do país; e o site do jornal Haaretz (A Terra), o mais conhecido internacionalmente, publicaram grandes matérias explicando o que aconteceu nas ruas do país no sábado, 3 de julho, e por que Bolsonaro pode ser investigado.
O fato de dois sites locais publicarem algo sobre o Brasil já é algo fora do comum. O Brasil aparece pouco na mídia israelense. Mas, desta vez, o destaque dado por agências de notícias e jornais internacionais às manifestações de sábado acabou ecoando também em Israel. A matéria do Haaretz, por exemplo, foi tirada de textos do New York Times e do The Guardian. A reportagem do Yedioth Aharonoth também foi redigida com base em textos de agências de notícias – já que é raro um jornal israelense ter um enviado no Brasil.
Na matéria do Haaretz, a foto principal dá o tom: um manifestante mostrando uma cédula falsa e manchada de sangue de um dólar com a efígie de Jair Bolsonaro. No título: “’Precisamos tirar esse monstro’: dezenas de milhares protestaram no Brasil contra o seu presidente”.
A frase chamando Bolsonaro de monstro é de uma manifestante carioca, Magda Sousa, 64 anos, que vestia uma camiseta vermelha com o rosto do ex-presidente Lula. Mas a reportagem diz que muitos manifestantes não eram especificamente militantes da esquerda e que apenas querem se livrar de Bolsonaro.
No subtítulo, a reportagem do Haaretz diz que a “Suprema Corte ordenou uma investigação sobre a conexão de Bolsonaro com um caso de corrupção envolvendo a compra de vacinas contra o coronavírus envolvendo ministros de seu governo” e que “multidões de manifestantes nas principais cidades exigiram a expulsão do presidente de extrema-direita e o culpam pela morte de mais de meio milhão de brasileiros”.
“O povo acordou”, diz a deputada Benedita da Silva na matéria do Haaretz. O texto ainda reproduz entrevistas com manifestantes que perderam parentes e amigos para a Covid-19 e responsabilizam o governo Bolsonaro por fazer troça do vírus, incentivar os brasileiros a saírem às ruas e comprar vacinas a passos de tartaruga enquanto o vírus infecta e mata milhares.
O texto do Haaretz também enfatiza que muitos manifestantes usavam verde e amarelo e levavam bandeiras do Brasil na tentativa de resgatar os símbolos nacionais sequestrados pelo bolsonarismo.
No Ynet, site do Yedioth Aharonoth, a matéria ganhou um título mais comedido: “Investigação por causa do coronavírus contra o Bolsonaro, manifestações em massa no Brasil”. A reportagem diz que o presidente brasileiro está sendo criticado pela maneira como tratou a pandemia de Covid-19 no país, que “ceifou a vida de meio milhão de cidadãos” (sic). E conta como um alto funcionário do Ministério da Saúde alertou Bolsonaro sobre uma compra duvidosa de vacinas da Índia e que o presidente não fez nada a respeito.
O Ynet entra um pouco mais nos detalhes da CPI da Covid: “A investigação deu uma reviravolta surpreendente após o depoimento de Luis Ricardo Miranda – um alto funcionário da saúde brasileira – que testemunhou perante a comissão em 25 de junho. Miranda testemunhou que enfrentou ‘pressão excessiva e incomum’ para aprovar a compra exorbitante de milhões de doses de uma vacina desenvolvida na Índia pela Bharat Biotech”.
O texto continua: “Miranda, responsável pelo departamento de importação do Ministério da Saúde, testemunhou perante a comissão do Senado junto com seu irmão, o legislador Luis Miranda – que até recentemente era aliado do Bolsonaro, que contou ter conversado com o presidente sobre a forte pressão exercida sobre seu irmão para aprovar o negócio duvidoso”. Mas que Bolsonaro não acionou a polícia nem apurou o caso.
É interessante ler alguns comentários sobre as matérias. Um dos leitores do Ynet comentou que os “malucos” anti-vacina de Israel deveriam ir morar no Brasil para ver o que é bom. “Depois a gente se fala”, finaliza.
Um leitor do Haaretz diz que Bolsonaro é só mais um “populista de direita amigo do Trump que tem a corrupção em seu DNA”. Outro leitor sugere: “Imaginem um mundo sem pessoas como Bolsonaro, Putin, Erdogan, Orban… Trump e Bibi já caíram, então tudo é possível”.