Há três variáveis a considerar: a pragmática, a política e a ideológica.
A variável pragmática é a mais simples de entender. Os israelenses não precisam da vacina no momento. As doses a serem transferidas vencem em algumas semanas, e o acordo prevê que o país receba de volta, daqui a alguns meses, a mesma quantidade de imunizante.
Ao trocar vacinas com os palestinos, o país faz ainda um aceno à Pfizer, criticada por vender primeiro a Israel, mostrando a intenção do novo governo de manter o acordo com a farmacêutica para as suas campanhas de imunização anuais.
Politicamente, Israel quer voltar a ter boas relações com Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP). Fechando esse acordo, o novo governo demonstra que quer diminuir o protagonismo de grupos como o Hamas.
A dimensão ideológica também é importante, apesar de ser a mais complexa. Na perspectiva estritamente legal, assumida pelo governo anterior, Israel não tem a obrigação de vacinar a população das zonas A e B da Cisjordânia, de autonomia palestina.
Mas, hoje, o ministro da saúde é do partido esquerdista Meretz. Ele não somente reconhece que há ocupação, como assume certa responsabilidade moral, no caso da pandemia, sobre a população palestina.
Essas variáveis são fundamentais para entendermos as diferenças desse novo governo com aquele dirigido por Benjamin Nethanyahu.