No 73o Dia da Independência, um Israel com cada vez menos judeus

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TEL AVIV – Uma reportagem do jornal online Times of Israel me chamou a atenção, na semana do Yom Hazikaron – o Dia da Lembrança (dos Soldados Mortos e das Vítimas do Terrorismo) – e do Dia da Independência do país. Em tom um tanto dramático, a matéria diz que, pela primeira vez desde a criação do Estado, há 73 anos, a proporção de judeus na população de Israel “caiu abaixo do patamar de 74%”.

Segundo o Central Bureau of Statistics (CBS) – o IBGE daqui –, Israel tem, atualmente, 9.327.000 de pessoas, sendo 73,9% judeus (6.894.000), 21,1% árabes (1.966.000) e os restantes 5% (467.000), de outras identidades (cristãos não-árabes ou outras religiões e etnias).

Não entendi muito bem a premissa do texto, primeiro porque eu não sabia que existia um “patamar” específico de número de judeus na população de Israel – mesmo sendo o país conhecido como “Estado Judeu” por ser o único no mundo com maioria judaica. 

Segundo, porque esse dito patamar diminui ano a ano desde o estabelecimento do Estado, em 1948. Naquele ano, o percentual de judeus em Israel era 82,1%. Mas, ao que parece, a progressão da diminuição da maioria judaica está aumentando rapidamente. Há apenas 3 anos, no aniversário de 70 anos de Israel, o percentual era 74,5%. Agora, como notado acima, é 73,9%. 

A explicação para isso é o tamanho das famílias da minoria árabe, que costuma contar com mais filhos. Os ultraortodoxos judeus também têm muitos filhos, mas são uma minoria menor que a árabe. Em geral, os israelenses não-árabes e não-ultraortodoxos têm até mais filhos do que em muitos lugares do Ocidente: 3 ou 4. Nessas duas minorias, no entanto, não é incomum famílias com 8 ou 9 filhos. Essas duas minorias, aliás, têm um nível socioeconômico mais baixo também por causa disso. 

Os dados do Central Bureau of Statistics levantam muitas questões, que, para muitos judeus de Israel e do mundo, podem parecer até mesmo existenciais. Afinal, Israel foi criado para ser um Estado-refúgio para judeus perseguidos no mundo (principalmente depois do Holocausto). A ideia do sionismo de Theodor Herzl era a de que os judeus seriam “um povo sem terra”. Não uma religião: um povo. 

Na Israel moderna, essa noção de “povo” é traduzida na noção de “nacionalidade”. Isso explica a questão da Lei do Retorno: todo judeu do mundo pode vir a Israel e receber imediatamente sua nacionalidade. Assim como um brasileiro que nasceu no exterior tem nacionalidade brasileira. 

Conhecendo bem os israelenses depois de 18 anos morando no país, entendo a preocupação da maioria deles em relação ao que eles chamam de “tzivion” (característica) do país. Ao mesmo tempo, essa preocupação me soa bastante complicada. Bastante. Os árabes de Israel – que, em grande parte, se identificam como palestinos – e os palestinos que não moram em Israel também olham essa “tzivion” como interesse, quase como se fosse uma ferramenta do conflito entre as duas “nacionalidades”, os dois “povos”. 

Em suma, demografia em Israel não é para principiantes. É preciso entender os anseios e os temores de judeus e árabes para entender do que se trata. Eu sempre digo que as coisas aqui no Oriente Médio acontecem sempre por medo. Medo do diferente, medo de perder a identidade, medo de não se reconhecer mais. E esse medo está dos dois lados: dos árabes e dos judeus. 

Mas a realidade é uma só: Israel pode ser o Estado com mais judeus do mundo, mas também o país natal de uma minoria cada vez maior de não-judeus.

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