Os desafios de 2021 em Israel: epidemia sanitária e eleições em série

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Institutos de pesquisa já começam as pesquisas eleitorais, como a mais recente do Canal 12 da TV israelense (Foto: Reprodução)

TEL AVIV – Entre os inúmeros memes dos meus grupos de “zap”, recebi um que dizia: “Quartas eleições, terceiro lockdown, duas doses de vacina e um Deus”. Era uma brincadeira com uma tradicional música de Pessach (a Páscoa Judaica), que lista 12 coisas importantes nessa data. O meme traduz exatamente o clima para 2021, o ano que já começa com obstáculos incríveis, em Israel.

A terceira década do século XX começará à sombra de três crises: política, sanitária e econômica. Como em todo o mundo, Israel começa 2021 à sombra da pandemia do novo coronavírus. Os israelenses passaram o réveillon (que chamam de “Silvester”) em meio ao terceiro lockdown desde março de 2020, quando a Covid-19 forçou o mundo a se distanciar.  

O número de infectados diariamente aumentou fortemente exatamente três semanas depois de Hanucá (a Festa das Luzes). Coincidência? Claro que não. Muita gente ignorou as diretrizes básicas de distanciamento e uso de máscaras para convidar a família a acender as velas de Hanucá por oito dias seguidos. Isso sem contar alguns nichos populacionais, como cidades e bairros ultraortodoxos ou árabe-israelenses, que já ignoravam essas diretrizes antes do aparecimento da mutação britânica do coronavírus. 

Israel terminou 2020 com pouco mais de 3.300 mortos, 640 pessoas em estado grave e mais de 5 mil infectados diários (hoje, 4 de janeiro de 2021, já são 3,416 mortos e 731 em estado grave). 

Paralelamente e paradoxalmente, Israel começa 2021 em meio à mais intensa campanha de vacinação contra o coronavírus do mundo. Quase todos os médicos e membros de equipes médicas foram vacinados, bem como 50% dos cidadãos com mais de 60 anos de idade. No total, Israel registra, em 4 de janeiro, 1,1 milhão de vacinados. Isso é incrível num país de 9,5 milhões. 

Se, por um lado, o sentimento de “super-homem” dos jovens e o negacionismo e a preguiça de muita gente minaram os esforços para mitigar a epidemia, por outro, a rapidez e a crença do governo nas vacinas fermentaram a esperança de que até Pessach (a Páscoa judaica), todas as famílias já possam se reunir para celebrar juntas. 

Além desses obstáculos e desafios, Israel começa 2021 à sombra de outra “pandemia”: a das eleições seriais para o governo do país. Em 23 de março, os eleitores israelenses vão voltar às urnas pela quarta vez (!!!) em apenas dois anos para eleger os 120 membros do Knesset (o Parlamento) e, entre eles, o primeiro-ministro. 

A crise política já dura anos e tem um motivo básico: Benjamin “Bibi” Netanyahu, há 11 anos ininterruptos no poder, quer continuar no trono. O país se divide entre os pró-Bibi e os anti-Bibi. Ideologias e valores à parte, tudo se resume, na verdade, a isso. A insistência de Netanyahu em controlar a nação por mais algum tempo transformou o panorama político de Israel em uma colcha de retalhos de partidos. Os mais antigos se dividem. Os mais novos se desintegram. O resultado é instabilidade.

Ainda falta muito para as eleições. As primeiras pesquisas eleitorais já estão saindo (como as da foto acima, do Canal 12 de TV). Essa pesquisa dá Likud ainda na frente, mas enfraquecido por novos partidos de direita. E corrobora o fim do “Azul e Branco” como maior força política de centro-esquerda do país.

Ninguém sabe se a pandemia já estará sob controle em 23 de março (o que Netanyahu espera, para aumentar sua popularidade), que partidos se unirão em legendas inconstantes, que políticos virarão casaca. Mas, neste momento, pode-se dizer que a esquerda israelense está desintegrada e esparramada em diversos novos partidos sem plataformas certas além do “anti-bibismo”. 

A direita também está rachada entre os “bibistas” e os que até gostam das ideias do Likud, mas não querem mais Netanyahu no poder, alegando que ele coloca seus interesses pessoais acima de tudo, principalmente no caso dos três indiciamentos de corrupção aos quais responde.

Novos nomes entraram no jogo da política nacional, como o prefeito de Tel Aviv, Ron Huldaí, que criou o partido de esquerda “Israelenses”. Ele tenta ocupar o espaço da legenda “Azul e Branco”, do atual primeiro-ministro alternativo Benny Gantz, que se estilhaçou diante da falta de assertividade e liderança de Gantz. No campo da centro e centro-esquerda, voltam ao páreo o “Há Futuro”, de Yair Lapid, além dos partidos veteranos Meretz e Trabalhista (Avodá).

No lado da direita, o ex-Likud Guideon Saar, desafeto de Netanyahu, criou o partido “Nova esperança” com desertores do Likud. Levou consigo alguns nomes do “Azul e Branco”. Outros nomes da extrema-direita nacionalista (Avigdor Lieberman, do “Israel Nossa Casa” e Naftali Bennet, do “Yemina”) também adorariam substituir Netanyahu.

Os partidos ultraortodoxos (“Shas” e “Judaísmo da Torá”) e a coligação árabe “Lista Unida” também estarão no páreo.

Enfim, 2021 será um ano de enormes desafios, em Israel. Só nos resta ficar de olho. Não tenho bola de cristal, mas desejo um ano cristalino para todos.

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