TEL AVIV – O Prof. israelense Jonathan Halevy, médico especialista em saúde pública, está mais do que otimista, neste fim de 2020. Halevy foi CEO do Hospital Shaarei Tzedek, um dos maiores de Israel, de 1988 a 2019 e, há quase dois anos, passou à presidência do hospital. Paralelamente, ele é gastroenterologista da escola de medicina da Universidade Hebraica de Jerusalém. Do alto de toda essa experiência, Halevy coloca uma meta para que os israelenses voltem a se encontrar e festejar juntos: Pessach (Páscoa Judaica) de 2021.
O motivo: a vacina contra o coronavírus, que já está sendo inoculada nos israelenses desde 19 de dezembro. Em dez dias, cerca de 500 mil israelenses já receberam a primeira dose da vacina da Pfizer (a segunda dose deve ser ministrada três semanas depois).
“Os pessimistas falam em 2022. Mas minha previsão é de que, no primeiro semestre de 2021, já poderemos amenizar as regras de distanciamento social em Israel. Não tenho dúvidas de que no próximo Seder (a ceia da véspera do Pessach), poderemos celebrar com nossas famílias. Antes de meados de abril, uma massa crítica da população israelense já estará vacinada, o que levará a imunidade de rebanho”, diz Halevy.
O médico diz que a campanha de imunização em Israel – a maior do mundo em percentual da população – está conseguindo desfazer as dúvidas e quebrar a hesitação de quem não tem certeza de que quer se vacinar. No começo de dezembro, uma pesquisa de opinião mostrou que 63% dos israelenses não hesitavam em levar a agulhada. Os outros 37% se mostraram indecisos, hesitantes ou contrários à inoculação.
“A minha sensação ao ouvir a mídia, ao falar com as pessoas na rua, é a de que a falta de confiança na segurança da vacina está se dissipando dia a dia”, diz Halevy. “É muito interessante observar a equipe do Shaarei Tzedek. Antes de a vacina chegar, cerca de 30% estavam hesitantes. Mas, agora, vemos que, de hora em hora, a dúvidas desaparecem. E minha previsão é que, excluindo um grupo muito pequeno de 30 a 40 pessoas que, todo ano, se recusa a receber a vacina contra a gripe por algum motivo qualquer – quase todos os 4.500 funcionários do hospital vão se vacinar”.
Como qualquer cientista que se preze, o Dr. Halevy abomina as teorias conspiratórias que circulam pelo mundo – e Israel não é exceção. Tem quem apenas não acredite nos cientistas e ache que a vacina veio rápido demais. Tem os que acham que tem política no meio. E tem os que se descolaram da realidade e pregam ideias absurdas como a que a vacina é apenas uma desculpa para inserir um chip chinês no corpo de todos os seres-humanos.
“Sempre existiram teorias da conspiração. Além do mais, estamos vivendo na era das mídias sociais, nas quais é muito fácil escrever: ‘o meu amigo desenvolveu uma cauda depois de tomar a vacina’. Mas são notícias realmente falsas”, diz Halevy. “Eu também não sou parceiro da teoria de que nosso primeiro-ministro nem teve Covid-19 ou de que ele recebeu um placebo, não a vacina. Acho que o povo não está caindo nessa. Em Israel, nos primeiros dias do início da vacinação, centenas de milhares de pessoas já tinham sido vacinadas e todos se sentem bem. Aqui Shaarei Tzedek, todos os vacinados passam bem, talvez com dor leve no braço, como eu. Um teve um pouco de tontura ao se levantar, mas acredito que tenha a ver com a emoção, não com a vacina”.
Para o médico e gestor de saúde, tudo começa com os líderes. É por isso que ele está otimista em relação a Israel: “Nosso primeiro-ministro ficou histérico com essa doença desde o primeiro momento e negociou pessoalmente com os laboratórios para receber as vacinas assim que saíssem. Já o presidente americano, por exemplo, ficou histérico em contradizer a doença e dizer que não ela não existia. Também acho que tem a ver com a campanha nacional de vacinação. O Ministério da Saúde embarcou em uma campanha realmente forte. Líderes de opinião, incluindo rabinos, estão sendo fotografados enquanto são vacinados. A cada minuto você escuta, na TV e no rádio, sobre a eficácia e a segurança da vacina. Além disso, todo israelense tem um médico de família para o qual pode ligar e obter respostas de alguém em quem confia”.
E o que fazer com quem não quiser se vacinar? Segundo o médico, não se pode obrigar ninguém porque Israel é um país democrático. Mas ele é a favor de “privilégios” para vacinados – que, na verdade, funcionam como sanções ao contrário para os não-vacinados: “Acredito que nenhum não-vacinado deva entrar, por exemplo, em um restaurante antes do fim da pandemia. Acho que quem se vacinar deve ficar isento de fazer quarentena, se viajar para outros países. Acho que deveríamos abrir teatros e permitir apenas a entrada de vacinados. Esta é minha crença. Portanto, são sanções indiretas, mas tornar a vacina obrigatória é antidemocrático”, diz Halevy.
Aliás, o presidente do Hospital Shaarei Tzedek acha que Israel tem o dever moral de ajudar os palestinos a se vacinar: “Digo isso sem posição política alguma: creio que é nosso dever moral fornecer vacinas aos palestinos. Ouvi dizer que eles estão negociando com a Rússia e outros. Mas, se não receberem doses logo, nosso governo deveria enviar vacinas para a Autoridade Palestina. Não tenho dúvidas que fará isso”.
Sobre a segurança da vacina, o Dr. Halevy assegura que não é preciso temer: “Quero dizer a todos que, com base na experiência e na tecnologia especial desta nova vacina, o RNA mensageiro, estou totalmente confiante. Não hesitei em ser o primeiro – junto com o CEO do hospital – a tomar a vacina”.
“A tecnologia do RNA mensageiro prevê inocular no corpo uma molécula que não é um vírus vivo atenuado ou morto. É uma molécula que se desintegrará minutos a alguns dias depois de penetrar na célula. É uma molécula de RNA, que não pode mudar o nosso DNA. Portanto, a lógica científica é que essa nova tecnologia, por mais nova que seja, é mais segura do que qualquer vacina da História”.
O Dr. Halevy descarta complicações a longo prazo (“mais de 100.000 pessoas receberam a vacina há mais de quatro meses e não houve complicações”) e explica que a nova mutação inglesa, apesar de mais agressiva e contagiosa do que o vírus original, deve provavelmente ser combatida com as vacinas já existentes. Mas sugere que, apesar do otimismo, ainda é preciso continuar com as regras do distanciamento, mesmo depois da vacinação.
“Mesmo que alguém já esteja imune, é importante que continue seguindo as regras. Isso porque ainda não foi provado que alguém que tomou a vacina não é mais contagioso. É possível que ele tenha, na mucosa do nariz e da boca, uma concentração de vírus. Pode estar imune, mas ainda contagiar outros. Até que provemos o contrário – e estou otimista também quanto a isso –, todos nós, vacinados, devemos continuar usando máscaras em público”.